sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um prato de lentilha

Marx e Engels, no Manifesto Comunista, referem-se ao lumpem-proletário, camada social hoje chamada de “os excluídos”, como o segmento que, dado seu estado de indigência e de desespero, estaria disposto a se vender por um prato de lentilha. Foi justamente nesse extrato social que o partido nazista de Hitler foi recrutar os seus militantes para armá-los e adestrá-los no ofício de praticar assassinatos, promover pancadarias, dissolver manifestações políticas da classe operária, impor o terror a serviço da extrema direita. Esses agrupamentos paramilitares nazistas eram mantidos pelos capitalistas alemães que temiam um possível avanço das forças socialistas.

Diante do quadro de crise econômica e social existente naquele país e usando dos mais reprováveis métodos de ação, o nazismo conseguiu chegar ao governo e logo após ao poder, através do processo eleitoral que foi seguido de um golpe com o incêndio do parlamento, o Reichstag. Estava assim implantada a mais exacerbada forma de contra-revolução, e ela haveria de tentar estender os seus tentáculos por toda a Europa e daí, para o mundo.

Não foi somente nesse episódio político que a massa lumpesina foi utilizada para fins políticos e, de uma forma ou de outra, sempre em favor dos interesses do capitalismo. Aqui no Brasil, não se deu a exploração dos excluídos para fins políticos, pela extrema direita. Não. Aqui, como na Argentina de Juan Perón e seus “descamisados”, tivemos a utilização do lumpem-proletário, pelo populismo, através do Bolsa Família, a um custo razoável, tomando-se como referência as grandes cifras que representam os lucros da burguesia. Construiu-se, então, um reduto eleitoral capaz de tornar vitorioso o populismo, como testemunham a recente disputa eleitoral e os altos índices de aprovação do governo Lula.

Tem-se, assim, numa ponta, um povo alegre gozando a “felicidade dos inocentes”. Na outra ponta, mais alegre e consciente, está a burguesia que “nunca antes, na história deste país” gozou de tanta tranquilidade e fartos lucros.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Deus, um ser contrariado

A considerar a Bíblia expressão da verdade, haveremos de nos dar conta de que Deus é um ser contrariado. Bem antes de existir a vida material, quando tudo era vida espiritual, no sacrossanto céu, deu-se um processo conspirativo que culminou com a rebelião de milhares de anjos capitaneados pelo anjo Lúcifer. Segundo a Bíblia, essa rebelião teve como motivação a inveja. É estranho que em um lugar tão puro como o céu, tenha florescido o sentimento da inveja. Esse evento deve ter deixado o nosso Deus bastante contrariado e uma dúvida se coloca: será que ele foi surpreendido? E se foi, onde fica a sua onisciência?
Deixemos esse episódio para trás e nos reportemos a outro momento de suma importância. Por razões desconhecidas, Deus se propôs a criar o mundo material e, a partir daí, criar o homem a sua imagem e semelhança, que deveria viver no Paraíso livre de todo sofrimento, bastando não proceder a nenhuma desobediência. Isso não ocorreu e o homem, Adão, enveredou pelo pecado e, mais uma vez Deus foi contrariado.
Não bastassem tais desconfortos, num pequeno lapso de tempo veio outra maldição, Caim matou o seu irmão Abel para o profundo pesar de Deus. Com o correr do tempo, a humanidade descambou para a completa perversão cujas expressões foram as libertinagens de Sodoma e Gomorra. Entristecido, o nosso bom Deus resolveu promover um ato de limpeza e mergulhou a humanidade no afogamento, salvando-se apenas Noé e seus familiares.
Seria um recomeço, porém, as maldições continuaram se repetindo. Foi aí, que Deus resolveu lançar mão de uma medida mais extrema e mandou o seu próprio filho feito homem, Jesus, vir a terra para salvar a humanidade dos seus descaminhos. Ocorreu, para o seu pesar, que o seu filho feito homem, foi lançado ao cárcere, julgado e condenado a crucificação antecedida por violentas torturas. Passaram-se mais de dois mil anos e, nesse período, não se efetivou a vontade de Deus, prosperou o crime, a devassidão, a torpeza, e isso, com certeza, contraria a vontade de Deus.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A capitulação pela semântica

A esquerda majoritária há muito abandonou o socialismo. Trocou o princípio do antagonismo de classes pelo discurso social-patriota, imposto pela burguesia à Segunda Internacional. Isso a levou a abandonar o caminho da insurreição socialista para assumir-se como defensora da pátria.
Por ironia da história, a Terceira Internacional, criada pelos bolcheviques, após o triunfo de 1917, para combater o social-patriotismo da Internacional anterior, terminou, após a derrota da Revolução Mundial e a consolidação do stalinismo, convertendo-se num novo antro do social-patriotismo.
O princípio da contradição capital/trabalho, burguesia/proletariado, foi substituído pela contradição “nação opressora versus nação oprimida” e, sob essa bandeira, a esquerda convencional, produziu agrupamentos patrióticos esquecendo-se da singela lição de que “o proletariado não tem pátria”.
Essa distorção fez surgir uma esquerda acentuadamente direitosa. Depois da queda do Muro de Berlim, ela que se apoiava no fraudulento discurso da existência de dois mundos, o mundo capitalista e o mundo socialista, convivendo pacificamente, ficou sem discurso. A partir daí, ela mergulhou totalmente no rumo da capitulação e aderiu aos truques semânticos patrocinados pela burguesia.
Não fala mais, a esquerda direitosa, em burguesia, prefere vociferar contra as elites, que é um vocábulo politicamente impreciso. Ao invés de capitalismo que expressa o conceito de um sistema de classes, prefere, até com certo pedantismo, falar em capital, que é apenas parte desse sistema e, portanto, insuficientemente claro aos olhos e ouvidos dos trabalhadores. Outra expressão sofisticada, longe do alcance dos trabalhadores é contra-hegemonia, que objetiva dizer, contra o poder da “elite”.
Para maior pesar, essa esquerda procura se abastecer no velho discurso burguês dos iluministas do século XVIII, lançando mão da expressão “república” e mais abusivamente ainda, lançando mão da palavra “cidadania”, como forma de diluir o caráter de classe da socied

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Vale a pena comentar

Vale a pena comentar

Neste blog foi feito um comentário por FCF. As suas colocações trazem muitas revelações. A primeira delas é que FCF compõe uma das seitas trotskistas existentes. Fiel às máximas: “somos o povo eleito de Deus e só em nós está a salvação” ou “quem não está comigo está contra mim”, ele propõe a excludência.
O PSTU deve ir para o lixo por ser centrista e eleitoreiro. O PCO, deve ter destino semelhante, pois é “exististas revisionistas” (Sic). O PCB representa o stalinismo decrépito e deve ser varrido. Do Plínio Sampaio, ele afirma se tratar de “um reformista abstrato” e não deu para entender.
Lula recebe o carimbo de caudilho e reformismo. Ora, ele não é um reformista no sentido bernistaniano, ou seja, gradualista. Não. Lula que inicialmente tinha a sensibilidade e a intuição de classe, deu as costas aos interesses históricos dos trabalhadores. Tornou-se um quadro a serviço do capitalismo.
Entre as incorreções conceituais de FCF, destaca-se a de que um partido institucional é, necessariamente, um partido da ordem. Na conjuntura atual, partido ou partidos, podem ter uma posição anticapitalista, e disputar as eleições, dentro do espírito tático aclamado por Lênin em seu livro “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”.
Por último FCF atropela o conceito do papel do individuo na história, quando faz alusão à oligarquia Sarney, isentando-a de maior responsabilidade pela miséria do povo maranhense, atribuindo-a somente ao sistema sem considerar as diferentes gradações.
Outra desastrosa postura, é não saber fazer diferenças, coisa elementar no processo de aprendizado. Distinguir o duro do mole; o quente do frio; o longe do perto, é condição primária. Discriminar, estabelecer diferenças, é imposição mínima para saber explorar as contradições do próprio sistema capitalista. Não enxergar a diferença entre o ideológico e o fisiológico, corresponde a não enxergar diferenças políticas entre o Estado burguês de exceção (ditadura) e o Estado democrático burguês e isso é um testemunho da cegueira política.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Eleger um poste?

Há muito tempo, o PT entrou num processo de en-direitamento. Não existe na História, um só caso, em que um partido de inspiração socialista que tenha sido inoculado pelos germes da ideologia e da política burguesa e, assim, capitulado, tenha depois se regenerado. Os exemplos são fartos e gritantes e não haveria de ser o PT, no Brasil, uma exceção.
Mesmo assim, alguns agrupamentos organizados no seio desse partido, procuravam resistir ao en-deireitamento, colocando-se numa posição à esquerda. Dentre esses agrupamentos, ressalte-se a chamada Democracia Socialista – DS, da qual fazia e faz parte a companheira Luizianne Lins. Por essa razão, é que em 2004, quando ela se colocou como candidata a prefeita de Fortaleza, confrontando a ala direitista do PT, nós recebemos como boa notícia a vitória do seu pleito na convenção.
A direita do PT não acatou a decisão da maioria e estabeleceu uma “aliança branca” em torno da candidatura a prefeito de Inácio Arruda. Quanto a nós, envidamos esforços para que Luizianne Lins, pelo que ela representava, lograsse a vitória. Vitoriosa, ela e a sua facção, a DS, revelaram o seu perfil pragmático e mandaram às favas o seu passado de militante à esquerda, para se tornarem gestores da desigualdade capitalista e, para tanto, cooptaram uma legião de ex-militantes socialistas, que se converteram em agentes do Estado, posição essa que casa com o direitismo a que chegou o PT, quando assumiu o discurso de que seria um gerente confiável do sistema capitalista.
Mentora de uma gestão cuja eficácia é bastante criticada, Luizianne Lins tem praticado uma política que busca explorar o atraso e as ilusões populares, promovendo grandes Festas-show e se preparando para transformar Fortaleza num canteiro de obras, como fez o seu antecessor, Juraci Magalhães. Apostando nesse tipo de política, Luizianne Lins, numa atitude desrespeitosa, veio a público e disse: “em 2012 haverei de eleger o meu sucessor, mesmo que seja um poste sem luz”. Resta-nos reagir diante de tamanho despropósito.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Qual oligarquia?

Lula, o eterno palanqueiro, caracteriza-se pela leviandade, a demagogia e as frases de efeito. Não é próprio do palanqueiro maiores compromissos com a verdade e, muito menos, com a coerência nas suas falas. Quem tiver olhos e ouvidos atentos, haverá de perceber que Lula pode, muito bem, dizer uma coisa de manhã, outra à tarde, uma hoje, outra amanhã. Ele pratica essa incoerência com deslavado cinismo e competentes gestos teatrais, acompanhados da mais viva eloquência.
Em recente visita sua às terras da Bahia, pronunciou o seguinte discurso: “vejam companheiros, o Jaques Vagner teve de sair do Rio de Janeiro para assestar uma estupenda derrota na oligarquia que predominava a Bahia”. Parece até que o nosso palanqueiro é um lídimo combatente das velhas oligarquias, sejam elas presentes, aqui ou alhures, e isso não é, absolutamente, verdade.
Diz-se que todo mundo é capaz de chutar um cachorro morto, procurando demonstrar com esse ato a sua bravura. O Lula não era tão bravo contra a oligarquia baiana quando era vivo o “coronel” Antonio Carlos Magalhães. Agora, ele estufa o peito e deixa correr livre as suas bravatas. Entretanto, o palanqueiro, que deu as costas aos interesses históricos dos trabalhadores para se transformar em competente quadro político da confiança do capitalismo, se agacha, rasteja, como fazem os répteis, diante da nefasta oligarquia Sarney, responsável pelo grande atraso e miséria que vive o povo do Maranhão.
Diante da oligarquia sarneyzista, Lula impôs o apoio do PT à candidatura da filha do cacique atropelando não só princípios de natureza política como os mais comezinhos princípios morais. Evidencia-se aí, a completa falta de credibilidade nas palavras de Lula e isso se aprofunda nas suas íntimas alianças com o que existe de mais espúrio na política nacional. Não foi com o PMDB ideológico de Ulisses Guimarães e Tancredo que ele estabeleceu aliança e sim, com o PMDB de Sarney, Calheiros, Romero Jucá, Barbalho, Temmer e outros próceres do fisiologismo do qual ele é patrono.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Fazer alguma coisa

Diante da situação angustiante em que vivemos, em decorrência da violência crescente, da degradação dos costumes, da agressão destrutiva e permanente do meio ambiente, da escalada vertiginosa da corrupção e de outras tantas mazelas sociais, é comum ouvir-se dizer: temos que fazer alguma coisa. Esse tipo de sentimento já é bastante louvável, pois o que predomina é o conformismo, a letargia, o não fazer, deixando que a torrente destruidora do capitalismo cumpra a sua sina de inviabilizar a própria vida.
Uma observação, porém, é imprescindível: a necessidade de fazer alguma coisa não implica em procurar fazer qualquer coisa. É preciso tentar fazer a coisa certa, obedecendo a máxima caepista de que “fazer é importante, mas saber fazer é fundamental”.
Quando não se tem conhecimento abalizado da causa dos infortúnios sociais, somos levados a buscar combater os efeitos, descurando do essencial, que é combater a causa e isso é, além de um desperdício de esforços, uma atitude sem consequências.
Vejamos como é tratada a questão dos jovens mergulhados no uso das drogas. Aqui, cria-se um grupo de orações com o intuito de salvar dúzia e meia de jovens do flagelo dos vícios. Ali, cria-se uma equipe de atletas para praticar o esporte sadio e assim salvar outros tantos jovens. Assim, se sucedem as iniciativas que buscam combater as inúmeras chagas sociais. Isso significa fazer alguma coisa, entretanto, é necessário ver que elas são insuficientes, trata-se de medidas de varejo enquanto os problemas sociais se multiplicam no atacado.
Temos, pois, duas grandes tarefas. A primeira delas, é despertar o grande contingente de indiferentes para que se toquem diante da extrema gravidade da situação em que vivemos. A segunda tarefa, é fazer com que aqueles, de boa fé, empenhados em missões salvacionistas combatendo os efeitos, despertem para a necessidade de combater a causa e essa causa tem nome, chama-se capitalismo, e ele reserva e reservará, enquanto subsistir, a produção continuada de malefícios sociais.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Gritante contradição

Voltamos a um discurso que temos feito com insistência. O capitalismo, como sistema socioeconômico, chegou ao auge e se exauriu. Sua sobrevivência tem alto custo social. É a miséria crescente, a violência, a destruição desmedida da natureza e outras tantas aberrações sociais, frutos dos desajustes provocados por um sistema em estado de exaustão.
Desde que o capitalismo chegou à sua fase imperialista, criaram-se as condições objetivas para o advento de uma nova ordem econômica e social, no caso, o socialismo. Em função disso, travou-se uma luta política entre o discurso conservador do capitalismo e o discurso revolucionário do socialismo. Essa luta terminou por conferir ao imperialismo uma grande vitória e, por conseguinte, submeter o socialismo a uma grave derrota, da qual, ainda hoje, não pode se refazer.
A vigência do imperialismo levou o mundo a assistir a duas grandes guerras mundiais, a ascensão nefasta do nazi-fascismo, o massacre de Hiroshima e Nagasaki, a África reduzida a um continente de miséria, e tantas outras tragédias.
A vitória política do imperialismo produziu seu maior crime: produziu esse fenômeno histórico chamado stalinismo que teve o papel de reduzir o socialismo científico a um conjunto de dogmas e sob a bandeira do “marxismo-leninismo”, empreendeu grandes horrores, como: o terror vermelho na URSS, os desmandos maoístas na China, o genocídio no Cambodja e, crime maior, o sepultamento, quase completo, da teoria revolucionária transformando-a em credo desfigurado e imprestável, para responder as necessidades históricas que se impõem.
A gritante contradição histórica é que, enquanto o capitalismo “estoura pelas costuras” com suas incontáveis crises econômicas e sociais, também, vergonhosamente, desfruta de uma hegemonia nunca dantes imaginada.
Não existe nenhum movimento anticapitalista que mereça alusão. Enquanto isso, a esquerda, por sua maioria esmagadora, ficou restrita ao antiamericanismo e refugiou-se nas academias sem perceber, serem elas, aparelhos ideológicos e políticos da burguesia.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A fome

Eis um problema mais antigo do que o próprio homem, pois dela padeciam os seus ancestrais. Outrora não havia condições materiais para resolver esse problema. Os atrasos científicos e tecnológicos não permitiam a sua solução. Com o advento do capitalismo e sua evolução para o imperialismo, deu-se um vertiginoso desenvolvimento das forças produtivas, e a fome deixou de ser um problema de ordem técnica para se tornar uma questão de caráter exclusivamente político, uma vez que hoje ela poderia ser abolida da face da terra num piscar de olhos. Isso não acontece em função de subsistir o sistema capitalista.
Existem, basicamente, duas maneiras de encarar esse problema. A primeira é a forma milenar com que as religiões o tratam. Ela se resume em buscar mitigar a dor dos famintos através de campanhas de caridade. Dizendo melhor: existe a política humanitária de buscar administrar a pobreza e a miséria procurando torná-las menos cruéis, administrando políticas assistencialistas.
A segunda corrente, os socialistas, ao invés de buscarem administrar essas mazelas, buscam erradicá-las atacando a causa e não se limitando a tratar dos efeitos. Vê-se que existe uma diferença substancial entre a primeira e a segunda corrente de pensamento.
É evidente que, “quem em fome tem pressa”. Aliás, o imperialismo, através de suas intuições, socorre as massas famélicas da África, da Ásia ou mesmo das Américas, com suas “ajudas humanitárias”.
Também registramos ações de pessoas que devotaram suas vidas em assistir os necessitados, como a Madre Tereza, de Calcutá e a irmão Dulce, da Bahia, tão reverenciadas pelo capitalismo. Outros, pela via da caridade lograram um lugar vitalício no reino dos céus. Entretanto, nem a fome, nem a sua causa presente, o capitalismo experimentaram qualquer tipo de recuo à conclusão de que não basta combater os efeitos, e sim, dispensar atenção à sua causa. Aí está colocada nossa posição me relação ao problema sem, contudo, desconhecer a evidencia de que “quem tem fome tem pressa.”