sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pescar caranguejos

Após mais de 50 anos de militância socialista, estou cada dia mais convencido de que fazer política é como pescar caranguejos. Isso implica em dizer que, como pescar caranguejos, temos que botar a mão na lama. Fazer política na nossa realidade tem muita semelhança. E não é só a política de direita que é marcada por truques, calúnias mentiras e outros expedientes nada éticos. Na esquerda de matriz stalinista, incluindo-se aí os ditos trotskistas, os métodos condenáveis são praticados abundantemente. Mas o que devemos fazer diante desse quadro nada auspicioso para os que querem participar politicamente? Muitos se isolam sob o argumento de que detestam essa convivência tão nefasta. Porém, esse, ao meu ver, não deve ser o caminho das pessoas decentes que têm clareza da grave situação que vivemos, tanto aqui, como em escala mundial.
A única saída, no que pesem nossos escrúpulos, é meter a mão na lama da política e procurar retirar desse lamaçal, resultados que sirvam para o grande propósito da libertação humana das garras de um capitalismo exaurido.
Em outras palavras, é preciso termos consciência de que os problemas socias são de natureza política. Tomemos como exemplo a fome, esse mal tão antigo quanto o próprio homem, que poderia ser solucionado, pois dispomos de condições técnicas e cientificas para abolir essa chaga da face da terra, em questão de pouco tempo. No entanto, a fome persiste dizimando pessoas. Alguns, poucos avisados, procuram diminuir os seus efeitos promovendo campanhas minúsculas de combate à fome que se caracterizam por sua inegável insuficiência. Outro exemplo que poderíamos citar é a questão ambiental. É um erro, um grave erro, imaginar que tal questão pode ser resolvida no âmbito do capitalismo, com algumas leis proibitivas de ações predatórias do meio ambiente. Essa questão é, sobretudo, de natureza política. É preciso que a humanidade se dê conta de sua gravidade e tome nas mãos o destino do planeta.
Por essas e tantas razões, não podemos arredar do lamaçal político e sim enfrentá-lo, separando a lama do saboroso caranguejo.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O que salvou Lênin

O grande revolucionário Vladimir Lênin teria dois destinos na história. Ou ele seria, caluniosamente, apontado como agente do imperialismo alemão e traidor da pátria ou seria aclamado como herói. Tudo dependeria do desfecho do processo político em curso na Rússia. É fato que o Lênin fez um acordo com o imperialismo alemão que lhe permitiu viajar no trem blindado, até a Finlândia, por onde entraria na Rússia conflagrada.
Esse acordo, é claro, tinha interesses das partes. Entretanto, eles não eram convergentes e sim divergentes. Lênin objetivava retornar a Rússia e tentar alavancar o processo revolucionário, rumo à vitória do socialismo. O imperialismo alemão pretendia que os bolcheviques de Lênin agitassem sua política contra a guerra e enfraquecessem o governo russo, com quem a Alemanha estava em guerra.
É fartamente dito que os alemães não só contribuíram com o retorno de Lênin como forneceram recursos materiais, “o ouro alemão”, com o objetivo de proporcionar mínimas condições materiais para o desempenho político dos bolcheviques.
Os adversários de Lênin trataram de envidar uma campanha no sentido de mostrá-lo como traidor venal da pátria. Foi o triunfo da Revolução Bolchevique que salvou Lênin dessa tão sórdida pecha. Mas essa vitória não pode salvá-lo de ser beatificado e canonizado quando, a derrota do socialismo em escala mundial e, por conseguinte, a vitória da contra revolução, gerou uma hedionda monstruosidade, o stalinismo. A contra revolução instalada no seio da própria URSS, capitaneada pela sinistra figura de Stalin, sentiu a necessidade de transformar Lênin em ícone da perfeição e transformar suas obras em “livros sagrados”. Esse processo de construir a cultura da infalibilidade, seja do Lênin e mais ainda do Partido, expressada na afirmação de que “o Partido nunca erra”, tornou-se um pressuposto para a consolidação da contra revolução stalinista que se estendeu mundo a fora, através da Terceira Internacional desfigurada. Vê-se, pois, que ambos os destinos de Lênin eram cruéis.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lula e Calígula

Conta-nos a história que o imperador romano Júlio Cesar Calígula, além de outras extravagâncias, resolveu nomear o seu cavalo preferido, Incitatus, senador de Roma. Tomado pela glória Calígula perdeu a razão e, por conseguinte, o senso do ridículo, praticando esse e outros atos estapafúrdios.

Ora, apesar de tão distante, pelo tempo decorrido, encontramos semelhanças quanto ao caráter insano de Calígula quando lemos nos jornais a noticia de que um campo de petróleo, por sugestão do bajulador e subserviente presidente da Petrobrás Sergio Gabrielli, deveria ser batizado com o nome Lula. Não deixa de ser uma extravagância e a dose foi tamanha, que o próprio Lula, num lampejo de bom senso, tentou corrigir o disparate afirmando que lula, no caso, seria o nome do “crustáceo”.

Não sabemos se essa proposta tão ridícula e tão ao gosto da extraordinária vaidade do ex-presidente prosseguirá. De qualquer forma, esse episódio é motivo, se não de estranheza ou perplexidade, mas, com certeza, de indignação, diante de um testemunho tão eloquente de bajulação e falsa modéstia.

Mas por que haveremos de lamentar tanto? A história está repleta de Lulas e Calígulas. Está repleta, também, de ironias e uma delas está justamente no fato do capitalismo internacional ter sido outrora agraciado com o extraordinário desempenho do metalúrgico polonês Lesh Valessa que, sob as bênçãos do Papa, conseguiu resgatar a Polônia para as hostes do capitalismo. Enquanto aqui, o metalúrgico Lula, revelou-se um irrepreensível quadro político capaz de prestar inomináveis serviços ao sistema vigente.

A baixos custos, conseguiu cooptar a massa dos desvalidos, tranformando-a num imenso colégio eleitoral, através do programa Bolsa Família. Por outro lado, conseguiu imobilizar as centrais sindicais e estudantis, ministrando generosas propinas e, dessa maneira, garantir a burguesia vultosos lucros e um momento de indiscutível tranquilidade fazendo jus ao reconhecimento público, emitido por Barack Obama quando o considerou “o cara”.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mutretas e picaretas

Quando Inácio Lula da Silva, o metalúrgico, dirigia o Partido dos Trabalhadores, cuja marca era a de que seria um partido diferente, que praticaria também uma nova política, fiel à máxima do capitalismo de que o sistema é bom desde que bem gerenciado, o nosso metalúrgico cunhou o slogan: “o modo PT de governar”. Esse modo haveria de tornar o capitalismo justo e palatável ao gosto de todas as classes e camadas sociais. Estaria feito, então, o grande milagre social.

Não bastasse esse discurso, Lula se ocupava em expor as mazelas do capitalismo, atribuindo-as à mazelas de governos, dizia ele: “o que falta é vergonha na cara”. A cada desacerto, falcatrua, irregularidade o nosso metalúrgico berrava a todos pulmões: “são maracutaias, negócios desonestos, praticados contra o povo”. Não se contendo diante de tantos malfazejos, denunciou com toda veemência: “no Congresso existem mais de trezentos picaretas”. Ora, logo que Lula chegou ao governo, ao invés de cessarem, proliferaram as tão denunciadas maracutaias. Foi o tão escandaloso mensalão, prática desonesta e obscena, capitaneado pelo chefe petista da quadrilha, José Dirceu, e formada por tantos outros delinquentes. Diante do escândalo, Lula teve o desplante de vir a público dizer: “Isso se chama caixa dois, e todos os partidos praticam”. Mas o PT não seria um partido diferente? Isso pouco importa, e se sucederam as maracutaias: Valdomiro, na Casa Civil, “sanguessugas”, no Ministério da Saúde, a palhaçada dos aloprados, novo escândalo na casa Civil, com Erenice, invasão de sigilo fiscal e outras tantas maracutaias.

Quanto aos picaretas, Lula se deu muito bem com eles. Tornou-se notória sua aproximação com figuras como: José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Romero Jucá e outros tantos mestres da picaretagem. Com eles, Lula soube muito bem se entender e trocar valorosos favores às expensas dos interesses maiores da população. Correram livres as mutretas e “nunca antes na história desse país” os picaretas entenderam-se tão bem.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Duplo interesse

A classe trabalhadora do mundo inteiro, é portadora de um duplo interesse. O primeiro é manifestado no seu próprio dia-a-dia. A conquista do emprego, a sua preservação, melhores salários, melhores condições de trabalho e de vida são do seu interesse imediato. A esse interesse, presente no seu dia-a-dia, costumamos chamar de reformista, por que ele não busca a transformação das suas vidas, mas somente, algumas melhorias. O segundo interesse, mais difícil de ser visto, é o interesse que os trabalhadores conscientes têm de se libertar das cadeias do capitalismo e, dessa maneira, proceder a transformação social. Enquanto o seu primeiro objetivo tem um caráter limitado, o segundo tem uma dimensão bem maior. No primeiro, busca-se mudar a forma e no segundo, a qualidade; essa mudança de qualidade, chama-se revolução, e só ela levará os trabalhadores a libertarem-se das garras do capitalismo.

Na luta reformista do dia-a-dia, os trabalhadores são levados a exercer alguns tipos de pressão, principalmente quando eles contam com sindicatos mais ativos. No segundo caso, porém, as coisas não se dão de forma tão fácil, tão clara, pois exigem certo nível de informação por parte das classes trabalhadoras, desfazendo as ilusões e levando-as a ver que nos limites do sistema capitalista somente ganha a burguesia.

Não poderá, o capitalismo, oferecer o que todos deveriam ter direito, ou seja, a igualdade a justiça e a paz. Entretanto, para que as classes trabalhadoras evoluam de uma posição simplesmente reformista para uma posição revolucionária, socialista, é necessário que os partidos, ditos anticapitalistas, convençam-se de que sua tarefa fundamental é promover, de forma sistemática e obstinada, o trabalho de educação política na perspectiva do socialismo. Esse sim é o interesse maior da classe trabalhadora, faltando-lhe, no entanto, a consciência política necessária. Somente a partir dessa consciência é que se pode pensar em quebrar as amarras desse sistema que vive do suor e do sangue dos que trabalham.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A volta dos pelegos

A volta dos pelegos

Vivemos no capitalismo. Nele, uns poucos, a burguesia, vive do lucro extraído pela exploração dos trabalhadores. Aos capitalistas só uma coisa interessa: o lucro, custe o que custar. Para se defender, os trabalhadores buscam alguns instrumentos de luta. Um deles é o seu sindicato.
Os primeiros sindicatos, no Brasil, eram independentes e combativos. No governo de Getulio Vargas surgiu a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e a partir daí os sindicatos foram atrelados ao Ministério do Trabalho.
Getulio Vargas, por acatar algumas reivindicações trabalhistas e proclamar outros direitos, foi tido como “pai dos pobres” e os sindicatos transformados em instrumentos de viabilização desses direitos tornados leis.
Criou-se, nos sindicatos, uma camada de dirigentes chamados de pelegos. O que é pelego? É uma manta de tecido usada no sul do país que servia para amaciar o atrito entre a pele do animal e a sela.
No caso dos sindicatos, eram pelegos, os dirigentes que se prestavam a contornar os atritos entre os trabalhadores e a burguesia, mas sempre em favor da classe patronal. No governo de João Goulart, os pelegos foram tratados com regalias para se colocarem ao lado dos interesses do capitalismo.
Os golpistas de 1964, processaram intervenções nos sindicatos retirando-lhes sua capacidade de luta. Posteriormente, ainda nas entranhas da ditadura, surgiu um novo e combativo sindicalismo, particularmente, no ABC paulista. Esse sindicalismo combativo tratou de mover uma campanha que desalojasse os pelegos que se assenhorearam dos sindicatos. Foi fundada a Central Única dos Trabalhadores – CUT, que seria a sepultura do velho sindicalismo. Com o PT no governo, iniciou-se um novo e triste processo de peleguismo, presente, tanto na CUT, como em outras centrais sindicais corrompidas pelo governo Lula. A volta do peleguismo transformou o sindicalismo, modo geral, num antro de corrupção, prestando-se aos interesses da burguesia que “nunca antes, na história desse país” gozou de tanta tranquilidade e fartos lucros.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eles zombam demais

Em países periféricos do tipo Brasil, o capitalismo produz dirigentes que não têm escrúpulo em zombar do povo. Não tratamos somente dos dirigentes eleitos, sejam eles presidente, governadores, senadores, deputados ou vereadores. No Judiciário, os ministros têm dado provas eloquentes de zombaria diante da opinião pública, e, todo o esforço, em moralizar os costumes, tem naufragado. Vejamos o exemplo da “Lei Ficha Limpa”. Deu-se uma ou outra mostra de que ela se prestaria a impor uma nova conduta política infensa à prática da corrupção. Ledo engano, o que se viu foi o fato de tornarem a “Ficha Limpa” em algo desfigurado. O comportamento reprovável das “cortes de justiça” não se limita aos episódios eleitorais, como validar a candidatura do Sr. Paulo Maluf, figura indelevelmente carimbada como uma das maiores expressões de improbidade, sem que os braços curtos da justiça burguesa possam alcançá-lo.

Não se trata apenas dos dirigentes civis. Com os militares vimos a prática do tipo: prendo, arrebento, torturo e mato, no tempo da ditadura. Os criminosos fardados, agentes do Estado capitalista, ficaram impunes e seus crimes foram arquivados, pois assim entendeu o Supremo Tribunal Federal.

Não bastassem esses exemplos injuriosos do quanto eles zombam do povo com seus comportamentos descaradamente desrespeitosos, vêm agora os dirigentes eleitos promover, em escala nacional, de cima a baixo, um espetáculo de desmedida afronta ao povo. Presidente, ministros e, sobretudo, parlamentares, auto concederam-se aumentos salariais exorbitantes, e essa atitude fez doer no centro nervoso e na consciência de todo o povo trabalhador que se sente atingido por tamanho descalabro. Não se tratou de um aumento salarial razoável. Isso não. Eles levaram a cabo um aumento obsceno dos seus salários, ultrapassando qualquer limite da sensatez e do pudor. Isso é o Brasil capitalista e pouco vale querer moralizá-lo, como outrora dizia, demagogicamente pretender, a velha UDN. Deles, nada a esperar. A nossa saída é outra.