terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tariq Ali

Havia lido desse escritor duas brilhantes obras: Redenção e Medo de Espelhos. Surgiu a oportunidade de ouvi-lo à viva voz e o fiz. Fiquei desapontado. Como a maioria da esquerda, de matriz stalinista, o palestrante colocou de lado a existência de classes e camadas sociais, e procurou trabalhar países como categoria política, dentro do binômio: nações opressoras versus nações oprimidas.
Partindo dessa distorção que se contrapõe ao princípio marxista do antagonismo capital-trabalho, veio a abordagem corriqueira de que temos como único inimigo o imperialismo ianque. Não se percebe que o anti-americanismo não implica em se ser anticapitalista. O sentimento antiamericano leva muitas pessoas, entre elas o palestrante, a ver forças fascistas como o Talibã, a Síria e, especialmente o Irã, com disfarçada simpatia, e isso é um absurdo.
Não bastasse tão preocupante desvio, Tariq Ali abordou a questão da democracia abstraindo o seu caráter de classe, esquecendo o que dizia Vladimir Lênin: “a mais avançada democracia burguesa não deixará de ser a ditadura do capital sobre o trabalho”. É preciso lembrar que o poder burguês é exercido pelo Estado sob duas formas: o Estado de exceção, que costumeiramente chamamos de ditadura, e o Estado de direito em que se pratica o poder do capital com plena aquiescência das massas populares mal informadas.
Em razão desses fatos, fomos tomados de um profundo pesar, ao constatar que figuras do estofo intelectual e político de Tariq Ali, andem enredadas em tantos e graves equívocos como soe acontecer com a esquerda, de modo geral. Essa esquerda, de viés direitoso, não se dá conta que o inimigo principal é o capitalismo e ele não se circunscreve a nenhuma fronteira. É claro que os ianques jogam o papel de polícia mundial em defesa desse sistema e por essa razão despertam a desaprovação e a impopularidade pelo mundo afora e para isso contou com o inestimável trabalho político levado a cabo pela esquerda de matriz stalinista, estimulando um nefasto nacionalismo. É lamentável.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A queda do “Império”

Há um repúdio geral ao imperialismo ianque. Muitas manifestações em todo o mundo terminam com a queima da bandeira norte americana. Muitos torcem pela queda do “Império”. Seria, porém, essa queda o necessário advento do socialismo? Absolutamente não!
Queremos o fim do capitalismo, entretanto, não é sensato querer que isso aconteça por razão única de suas contradições. Isso poderá redundar no fim da própria raça humana. Queremos a superação do capitalismo por uma nova ordem econômica e social. Mas isso não é uma decorrência natural, uma fatalidade, “coisa tão certa como o nascer do sol”, como diziam os velhos “marxistas-leninistas” formadas na malfada escola do stalinismo.
O socialismo é, tão somente, uma probabilidade que, para se tornar realidade, necessita de força política para se impor. A simples queda do capitalismo em função de suas insanáveis contradições não é o que interessa à humanidade. Não é, assim, qualquer oposição ao imperialismo que nos interessará, muito menos uma oposição levada a cabo pelo fundamentalismo teocrático de Osama Bin Laden, da Síria, ou do Irã.
Por outro lado, não é verdade que o capitalismo possa ruir a partir de movimentos revolucionários circunscritos à periferia do sistema. A história nos ensina que revoluções de caráter socialista empreendidas na periferia do capitalismo foram por ele absorvidas. Uma possível vitória do socialismo terá que passar, necessariamente pela 5ª Avenida (USA), pelo Arco do Triunfo (França) e pela torre do Big Beng (Inglaterra), caso contrário, as vitórias se converterão, como ocorreu, em derrotas.
Repitamos: o socialismo só será vitorioso se dispuser de força política para sê-lo. Nada adianta ficarmos querendo ver o desmoronamento desse sistema exaurido pelas telinhas de nossas televisões, torcendo alegremente, diante de sucessivos episódios que lhe causem constrangimentos ou mesmo derrotas circunstanciais. Isso é o varejo. No atacado o sistema permanece e tende a se manter até que suas contradições o destruam.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

“A fome tem pressa”

É claro que quem tem fome tem pressa. Ninguém de bom senso pode desmentir. Foi partindo daí que o inesquecível Betinho conclamou a todos para a formação de Comitês da Cidadania, cujo objetivo seria acudir os milhões de famintos do Brasil. Setores classe da média, tocados por esse apelo, formaram comitês e se lançaram na tarefa de colher donativos que deveriam chegar para os famintos.
Sob o argumento de que, “quem tem fome tem pressa”, estava embutida uma proposta nada interessante. Propunha-se a suspensão da atividade política, para nos lançarmos em socorro assistencialista de combate a fome. É sensato, porém, que diante de um problema que nos incomode, busquemos a causa. Tentar combater a fome sem buscar erradicar a causa e demover os fatores que a produz, é um caminho fadado ao insucesso.
Ora, sabemos que a fome, assim como outros problemas sociais, tem como causa a vigência de um capitalismo exaurido, cuja alma é a busca de lucro para uns poucos. Sendo assim, deve ser prioridade para os que querem erradicar as mazelas sociais, dar duro combate ao sistema socioeconômico que produz essas mazelas, o Betinho, na sua santa ingenuidade, nos propôs centrar esforços numa política essencialmente assistencialista, dentro da milenar tradição cristã que se caracteriza por administrar a miséria, enquanto nós, socialistas, nos empenhamos em combater a causa e assim erradicá-la.
Os Comitês da Cidadania deram margem para o posterior programa Fome Zero e este desembarcou de malas e bagagens no tão propalado Bolsa Família. Em todos esses momentos, ficou bastante patente que se optou pelo caminho do gerenciamento da miséria ao invés de se buscar a sua erradicação como pretendem os verdadeiros socialistas. Ora, buscar a erradicação da desigualdade e, por conseguinte, da pobreza e da miséria, nos leva a implementar uma política explícita de caráter anticapitalista. Não podemos, nem devemos ludibriar a boa fé de tantos, nos empenhando tão somente em combater os efeitos, e aí reside o ponto central da questão.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ao companheiro “Sicrano”

Omito o nome do companheiro para evitar qualquer tipo de constrangimento. A verdade é que fui surpreendido pela afirmação de que eu havia declarado ser o Serra melhor do que a Dilma. Isso não é verdade. Trata-se de uma distorção. Escrevi dois artigos: um era “Entre o péssimo e o pior”, e o segundo, “Trágico dilema”. Nenhum dos dois artigos diz que alguém é melhor e sim que os dois seriam péssimos. E isso, é diferente do que estava me sendo atribuído. A esquerda de matriz stalinista tem por hábito recorrer a distorções para desqualificar os que divergem e isso deve ser evitado.
Em segundo lugar, devemos deixar claro que o voto Dilma, Serra ou Nulo, são posições de natureza estritamente tática; não é uma questão de princípio. É muito próprio da esquerda dogmática, fazer confusão entre o que é tático e o que é princípio. O certo é ser inflexível nos princípios e flexível na tática. Entretanto, por desconhecimento ou má fé, inverte-se a questão, flexibiliza-se nos princípios e inflexibiliza-se nas táticas.
A maledicência de certa esquerda torna a vida política, nesse âmbito, próxima do intolerável. Esse comportamento afasta uma legião de pessoas honestas e abriga aqueles que se dispõem ao jogo sujo ao invés do embate limpo. É claro que não me atenho ao companheiro Sicrano, pois conheço muito bem o seu estofo moral, mas isso não impede que pessoas, mesmo honestas, terminem por difundir a maledicência, dando asas para os arrivistas, os insensíveis, os inescrupulosos ou mesmo aos beatos acríticos que não se tocam que as distorções, a calúnia, a má fé são grandes estorvos para uma militância revolucionária.
Repilo a insinuação de que eu tenha considerado uma das duas candidaturas do segundo turno, boa. Repeti exaustivamente, que a disputa se dava entre a direita. Serra, a direita explícita; Dilma, a direita travestida de esquerda. Ambas as candidaturas a serviço da manutenção do capitalismo e, portanto, objeto de generosas contribuições as suas campanhas por parte do grande capital. Devemos repelir o falso dilema: neoliberalismo versus nacional-desenvolvimentismo, pois isso é uma inverdade. As candidaturas eram continuístas do Plano Real de Itamar Franco, FHC e Lula, o resto é fantasia ou má fé.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O ENEM levou bomba

Pela segunda vez consecutiva, o tão bem concebido programa do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, levou bomba. Elaborado para avaliar o desempenho do Ensino Médio ele transformado em concurso seletivo para ingresso em instituições de ensino superior. Entretanto, pelo seu gigantismo, uma vez que envolve milhões de candidatos no Brasil inteiro, esse exame vem se mostrando difícil de ser administrado a contento e florescem tropeços e irregularidades.
O ENEM de 2010, apresentou erros na confecção das provas e revelou o despreparo dos fiscais em dirimir as dúvidas suscitadas. Constatados os erros, o Presidente Lula, como emérito palanqueiro, dotado de uma leviandade a toda prova, pronunciou-se: “o ENEM ocorreu com absoluto êxito”. Ora, ou o Presidente não compreende o que significa a palavra “absoluto”, que corresponde a total, ou pouca importância dá a uma questão tão séria, refutando de pronto denúncias tão evidentes. Menos de vinte e quatro horas depois, sua excelência, o Presidente, com o mesmo tom teatral de sempre, próprio dos animadores de auditórios, passou a dizer que, se necessário fosse, se faria um, dois, três... ENEM's.
Não foi somente diante de tão escandaloso episódio que se revelou a completa incompetência do governo. Em muitos casos, de gravidade semelhante ou maior, Lula da Silva deu mostras de sua leviandade e de suas permanentes bravatas.
Para ilustrar o comportamento leviano que chega às raias da irresponsabilidade, citemos o episódio em que o Tribunal de Contas da União – TCU ordenou a suspensão de obras, principalmente do Programa de Aceleração Crescimento – PAC, que apresentavam múltiplas e gritantes irregularidades, e ele, Luis Inácio da Silva, fazendo pouco caso da decisão daquele órgão, ordenou que as obras apontadas como irregulares, continuassem. Por sinal, em vários momentos, o “nosso mandatário maior” revelou pouco apreço pelas chamadas “instituições republicanas”, como foram exemplo as sucessivas punições que lhe aplicou o Tribunal Superior Eleitoral e ele “deu de ombros”.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mais imposto

A carga tributária no Brasil é tida como extorsiva. Muito tem se falado na urgência em se promover uma ampla reforma tributária que nos leve a pagar menos impostos. Essa tão propalada reforma tem sido permanentemente adiada. Enquanto se paga tantos impostos, os chamados “serviços públicos” tem-se apresentado muito abaixo da crítica. Temos uma escola de péssima qualidade. A saúde pública se arrasta numa profunda crise. A malha viária encontra-se em condições precárias. Os investimentos infra-estruturais estão bem aquém das demandas que o próprio crescimento do capitalismo exige, como são exemplos, os portos e aeroportos, para não se falar da necessidade de investimentos na produção de energia, principalmente as chamadas energias limpas, como são a energia eólica e solar.
Apesar da exorbitante carga tributária e o clamor para que se promova uma diminuição dos impostos, o que estamos assistindo é, mal passadas as eleições, vicejar a proposta de restabelecimento da CPMF, conhecida popularmente como o “imposto do cheque” que havia sido extinto.
Um dos grandes defensores desse aumento de imposto é o palanqueiro Luis Inácio Lula da Silva, que, para não se expor, como patrono de tal medida, vem se utilizando de governadores recém eleitos, particularmente os do PSB, para viabilizar a proposta de se recriar o velho “imposto do cheque”.
Por essas e outras razões, fica demonstrado que o sistema capitalista se rege pela fraude, pela mentira, pelo engodo. Durante a campanha eleitoral, para além das baixarias, nenhuma proposta ou idéia que pudesse parecer impopular foi levantada pela maioria dos candidatos. Ao contrário, explorou-se com bastante hipocrisia, a religiosidade popular, tendo os dois principais candidatos, Dilma e Serra, se apresentado como fervorosos devotos, num deprimente comportamento demagógico.
Agora, vão-se os santos, vão-se as orações, os benditos e vêm os demônios e o primeiro deles a se apresentar é, com toda certeza, a indecorosa proposta de aumento de imposto.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A extrema direita

É muito grave o cenário político que se apresenta nos Estados Unidos. Ali, toma corpo uma extrema direita representada pelo movimento TEA PARTY, que chega a considerar Barack Obama um político de extrema esquerda, chamando-o de bolchevique. Imaginem só, o nível de irracionalidade dessa extrema direita. Irracionalidade semelhante foi o nazi-fascismo e suas extravagâncias conceituais e políticas. Diante do quadro de crise que atravessam os Estados Unidos, não surge um movimento de esquerda de caráter anticapitalista e sim, uma extrema direita como foi dito.
Esse episódio nos leva a fazer uma reflexão. A Terceira Internacional, burocratizada, abandonou as massas populares, o proletariado norte-americano à sua própria sorte, e a burguesia logrou impor no seio das massas o mais profundo anti-socialismo. Porém, não foi só a Terceira Internacional que procedeu com tamanho descaso diante das massas trabalhadoras norte-americanas. O Sr. Fidel Castro, dirigente da vitoriosa Revolução Cubana, limitou-se a proferir desaforos ao imperialismo ianque e esqueceu-se de se dirigir aos trabalhadores, aos imigrantes, aos negros, enfim, aos explorados e oprimidos daquele país.
Salta-nos aos olhos que o marxismo foi posto totalmente de lado quando o princípio da luta de classes foi colocado para debaixo do tapete, uma vez que o stalinismo substituiu esse princípio basilar pela divisão do mundo entre nações opressoras e nações oprimidas.
Na esteira dessa absurda distorção prosperou o nacionalismo e, pior ainda, um anti-imperialismo tosco que tem norteado os partidos ditos comunistas ou socialistas. Em razão disso, vê-se a indiscutível hegemonia que hoje goza o capitalismo em escala mundial e a consequente redução do movimento socialista.
O antiamericanismo tem dado margem a que prosperem movimentos fascistas como são: a Al Qaeda, de Bin Laden; o fascismo teocrático, de Marmud Armadinejad; o fundamentalismo desvairado da Síria e outros movimentos congêneres que fazem a alegria dos desavisados, e isso é, simplesmente, apavorante.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Triunfou o capitalismo

A sorte já estava posta, as três principais candidaturas, Dilma, Serra e Marina eram candidaturas continuístas. Diferenças houvessem, estariam restritas a nuances e estilos. Dessa forma, qualquer um desses três candidatos que fosse eleito presidente, a burguesia, especialmente os banqueiros, estaria contemplada como contemplada estivera nos governos Itamar, FHC e Lula, que souberam implementar uma política econômica capaz de assegurar vultosos lucros e garantir a paz social, tão conveniente para os seus negócios.
Salta aos olhos que o grande cabo eleitoral de Dilma Rousseff foi o Bolsa Família, de tão importante que ele é para mitigar a miséria da Região Nordeste tão empobrecida. Toda, ou quase toda, disputa eleitoral deu-se como se não houvesse distintas classes e camadas sociais. Os discursos predominantes limitavam-se a fazer referência aos interesses do Brasil, um truque a que se recorre para esconder o fato de que esses interesses são, antes de tudo, os interesses daqueles que gozam da propriedade da terra, das minas, dos bancos, das indústrias, do grande comércio.
Os partidos: PSOL, PSTU, PCB e PCO tentaram, bravamente, viabilizar um discurso de natureza anticapitalista. Porém, sofreram, ou melhor, sofremos, uma acachapante derrota, uma vez que a esquerda direitosa representada submissamente pelos partidos: PT, PSB e PCdoB, avidamente dispostos a comer fartamente nos cochos do Estado burguês, emprestaram seus esforços para viabilizar mais uma vitória do capitalismo.
Cabe a nós que empunhamos a bandeira do socialismo revolucionário envidar esforços para denunciar ao povo que, nos marcos do capitalismo, só poderão nos ser destinadas, ínfimas parcelas de ganhos. A parte substancial do Produto Interno Bruto – PIB, vai para os bolsos da burguesia, enquanto as massas populares continuam a amargar um serviço de saúde de péssima qualidade, escolas de má qualidade, insegurança, proliferação das drogas e outras tantas mazelas que estarão sempre presentes enquanto se mantiver o capitalismo.