Mandante e pistoleiro
No nordeste
brasileiro, dão-se os crimes de pistolagem. Por vários motivos, algum ricaço que
pretenda efetuar a execução de um desafeto, procura os serviços de um matador
de aluguel (pistoleiro) para fazê-lo. Quando ocorre ser descoberto quem
executou o crime de morte, acontece ser o executante, o pistoleiro, o alvo dos
rigores da “justiça”.
O mandante
fica de fora. Dessa forma, ele se
resguarda, enquanto o pistoleiro é demonizado. Não se pretende dizer que o
matador de aluguel, deva ser isentado de culpa. Porém, achamos injusto que
aquele executante, disposto a sujar suas mãos, venha ocultar aquele que,
respaldado pelo dinheiro, ensejou o crime, conservando suas “mãos limpas”.
Há um
paralelo entre o mandante do crime de pistolagem e a burguesia, no que diz
respeito ao golpe de Estado de 1964 no Brasil. Quando se diz que o referido
golpe de Estado foi militar, põe-se fora do alcance o mandante e se atribui àquele
que foi mandado, ao militar, toda a responsabilidade pelo ocorrido. Caso não
saibamos, é necessário dizer que as Forças Armadas, se constituem em peça de
sustentação do capitalismo. Esses militares, são treinados para intervir em
momentos mais agudos de ameaça à ordem socioeconômica vigente, e sempre o faz
em nome da pátria. É necessário que se diga que as tropas, treinadas e
disciplinadas, são sempre subalternas, qual o pistoleiro. Elas só se põem em
movimento quando falta a classe burguesa os meios pacíficos para se manter no
poder.
Dessa maneira,
os militares, a serviço do capitalismo, dispõem-se a fazer o trabalho sujo,
como se viu aqui no Brasil, durante todo o tempo do estado de exceção, da ditadura,
prestando-se às práticas mais repulsivas de repressão. Isso não se deu somente
no Brasil. Na Argentina, a burguesia ameaçada, lançou mão das “gloriosas”
Forças Armadas daquele país para perpetrar o seu golpe de Estado e implementar
uma sórdida política repressiva, causando a morte e o desaparecimento de
milhares e milhares de militantes. No Chile, teve-se a ditadura, capitaneada
pelo general Augusto Pinochet.
Esses e
outros fatos deixam claro o papel dos militares. Recorrendo-se à imagem que
fizemos, não seria demais dizer que a burguesia, como mandante, manteve as mãos
limpas, enquanto os militares exerceram o papel dos pistoleiros, encharcando as
mãos no trabalho sujo, prendendo, matando, torturando, censurando atividade
jornalística e cultural, tudo em defesa da ordem socioeconômica em curso.
Assim,
conclui-se que é um trabalho de deseducação política, aceitarmos a afirmação de
que houve no Brasil um golpe militar. O que houve, de fato, foi um golpe
contrarrevolucionário, de caráter bonapartista. Devemos repelir, portanto, essa
manobra, tão do interesse da burguesia em não revelar o verdadeiro conteúdo de
classe do aludido episódio.
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