FORMAÇÃO E DEFORMAÇÃO
“Precisamos,
urgentemente, de fazer formação”. Isto é o que se ouve com certa freqüência. Entretanto,
é necessário dizer qual formação pretendemos fazer e com quem. Ora, no âmbito
religioso, existe, a formação espírita, a católica, a evangélica, a muçulmana,
a budista... No âmbito político, existe a formação neoliberal, a nacional
desenvolvimentista, a conservadora, a socialista reformista, a social-patriota,
a socialista revolucionária.Num caso bastante extremo, e àguisa de ironia, poderíamos
até dizer que existe, também, a chamada formação de quadrilha, como bem sabem,
os envolvidos no escândalo do mensalão, episódio que se reporta a algumas das
falcatruas acontecidas no governo Lula.
Dependendo
do ponto de vista e, até mesmo do grau de clareza que se possa ter, existem, em
nome da formação, verdadeiras aulas de deformação quando se trata de política.
Nesse sentido é bom lembrar que, desde 1921, quando se deu o X Congresso do
Partido Comunista russo, se iniciou um processo que levaria à consolidação do
nefasto fenômeno político chamado stalinismo. Aí, inaugurou-se um trabalho de
pretensa formação que, a rigor, não passou, como ainda não passa, de um
processo de deformação.
Sim. Nesses
últimos noventa anos de hegemonia stalinista, desenvolveu-se um intenso esforço
objetivando a deformação do marxismo, impondo uma cultura dita socialista,
porém, fundada em dogmas e, portanto negação peremptória do socialismo revolucionário. Nesse gigantesco
trabalho de deformação, feito em nome do socialismo, teve grande destaque o
papel jogado pela nefasta Academia de Ciência da URSS. Trocando o marxismo por
um rosário de dogmas, essa academia serviu de matriz na produção e difusão de
manuais que se prestavam a castrar o lume revolucionário do marxismo e tudo
isso era feito sob o carimbo do ”marxismo-leninismo”.
Mas o
imenso trabalho de deformação política, não foi somente empreendido pela
Academia de Ciências da URSS. O Maoísmo, por exemplo, muito contribuiu para a consolidação
de uma cultura deformada levada a cabo em nome da revolução. Tendo como figura
central, Mao Tse Tung, lutador obstinado e de grande intuição, porém de
acentuadas limitações na medida que nunca passou de um teórico sub-marxista com
viés confuciano. Por seu turno, não podemos imputar a Fidel Castro nenhuma
responsabilidade maior nesse processo de deformação do socialismo
revolucionário, pois essa brava figura nunca extrapolou as raias do
antiamericanismo e todo seu projeto político, nunca foi e nem vai além das
fronteiras de sua consigna: “pátria ou morte venceremos”.
A história
do movimento socialista, pós o X Congresso do PC Russo, vai encontrar em Leon
Trotsky e no trotskismo, meros operados de graves equívocos políticos e
cultores de vários dogmas. Em primeiro lugar, Leon Trotsky e depois, seus
seguidores, partiam e partem da errônea premissa de que a Revolução Russa foi
traída, sem observar que, antes de tudo, ela foi derrotada. Ao lado desse e de
tantos outros erros, os diversos grupos trotskistas, e não são poucos,
continuam ferrenhos seguidores das resoluções tomadas no X Congresso do PC russo
em 1921, que consistiam na supressão do livre debate; na imposição do
monolitismo; na proibição de tendências; no partido único; e no falso conceito
de “Partido da Revolução”, com todas as criminosas consequências políticas que
de tais posturas decorrem.
É em
respeito a essas observações dos fatos que nos resguardamos, e até nos
preocupamos, quando se fala na necessidade real de formação, sem explicitar,
bem e muito bem, a sua natureza, pois, na maioria dos casos, os chamados
trabalhos de formação, ao invés de formar militantes verdadeiramente
socialistas, terminam por construir legiões de beatos, meros seguidores de diversos
credos. Não podemos imaginar nenhuma força milagrosa por conta da palavra “formação”
quando ela não é fundada em verdadeiros princípios, nem mesmo em dogmas, mesmo
que estes tenham a respaldá-los, de forma indevida, figuras possuídas de grande
prestígio como soe acontecer com o chamado Marx e Lenine que foram usados para
cunhar a expressão “marxismo-leninismo”.
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