De
certa feita, um dado senhor, leitor compulsivo e bibliomaníaco, proferiu a
seguinte afirmação: “A questão não está
em quem governa e sim para quem se governa”. Tal afirmação revela o alto
grau que pode chegar a ignorância bem letrada. Governar não é um ato de
vontade, é um ato de poder e o poder político que preside o ato de governar,
está reservado a uma instituição chamada Estado.
O
Estado passou a existir no momento histórico em que adveio a propriedade privada
e a sua função é, fundamentalmente, de proteger e assegurar os interesses de
uma classe em detrimento de outra. Em decorrência desse fato é que se afirma
ser o Estado, na sua essência, um instrumento de dominação política. Nos
milhares e milhares de anos das sociedades primitivas, que desconheciam a
propriedade privada, desconhecia-se, também, a existência de classes e camadas
sociais e dessa forma, desconhecia-se esse instrumento de poder, o Estado.
No
capitalismo, temos o Estado burguês e ele se presta à defesa dos interesses
dessa classe sobre o conjunto da sociedade. As instituições básicas do Estado
não são postas em disputa nos processos eleitorais. Os governos eleitos para os
chamados cargos executivos, são eventuais gestores dos negócios e das políticas
consonantes aos interesses maiores da classe burguesa e nada poderá ser
implementado que afronte esses interesses.
Alguns
governos se posicionam como se governassem para os pobres e excluídos. Têm-se,
na História do Brasil, a figura de Getúlio Vargas que, buscando adequar-se à
modernização do capitalismo, promulgou leis trabalhistas, de cunho
protecionista, e com isso conseguiu cooptar, politicamente, os trabalhadores
que o viam como o “pai dos pobres”, evitando ver, sobretudo, que ele era a “mãe
dos ricos”.
Anos
depois, José Sarney, presidente, tentou se colocar como governo do povo,
imprimindo o jargão “Tudo pelo Social”, enquanto viabilizava um programa de
distribuição gratuita de leite para as crianças carentes. O governo Sarney,
porém, fracassou nos seus propósitos populistas.
Por
fim, veio Lula da Silva, massificando uma política assistencialista, por via do
Bolsa Família, enquanto engessava as centrais sindicais e estudantis,
garantindo, através disso, a paz social propícia para a tranquilidade, tão ao
gosto da burguesia.
Nessas
experiências, salienta-se o conteúdo fraudulento dos discursos que propõem
governos populares, no âmbito do capitalismo. A História nega,
peremptoriamente, a possibilidade de se governar para o povo, quando de fato
governa-se para os ricos, para a burguesia.
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