Esses anos de
hegemonia “marxista-leninista” engendraram uma profunda confusão, inclusive dentre
alguns muito bem letrados. A maioria dos que se reivindicam de esquerda, ou
apoiam o próprio Stalin, ou imaginam que o stalinismo foi um fenômeno posterior
à morte de Lenine.
Há
uma diferença entre o fenômeno do stalinismo e a figura de Stalin. O stalinismo
é produto da derrota do movimento socialista em escala mundial. Não é, pois,
algo nascido na cabeça de delinquentes, como pretendem as análises idealistas.
O surgimento do stalinismo, enquanto fenômeno político, começa a se gestar bem
antes da ascensão de Joseph Stalin.
O
insucesso do socialismo, na Europa Ocidental, levou a que a derrota se
estendesse à nascente URSS e, a partir desse fato, deram-se as condições
materiais e teóricas para que a contrarrevolução se consolidasse em território
russo, pois, ao invés dos bolcheviques assumirem a derrota, empenharam-se em se
manter, a qualquer custo, atropelando as leis básicas da História.
Há
um princípio universal, nas artes da guerra, de que, quando se vislumbra uma
derrota, o mais correto é promover a retirada, de forma a permitir menores
danos. Pois bem, esse princípio não foi levado em consideração e, mesmo quando
a causa se mostrava perdida, houve um obstinado propósito de não aceitar a
derrota. Pior ainda, tudo que se construiu, em prol da contrarrevolução, foi
apresentado como vitória do socialismo, vendendo-se “gato por lebre”.
Um
dos fatos que deram respaldo teórico ao stalinismo foi a adoção de medidas de
exceção, tomadas no X Congresso, em 1921, apesar das advertências proféticas de
que aquelas medidas sepultariam o socialismo e isso, de certa forma aconteceu,
mesmo que não tenha sido definitiva.
Enganam-se
aqueles que imaginam que Khrushchov, quando denunciou os crimes de Stalin,
rompeu com o stalinismo, isto é, que ele foi anti-stalinista, quando, na
verdade, só o reformou, porém não rompeu com os princípios básicos da
contrarrevolução, levada avante em nome do “marxismo-leninismo”.
No
rol dos eruditos, que pensaram ser Khrushchov um anti-stalinista, estão figuras
de prestígio como Eric Hobsbawm e outros tantos doutos. Por sua vez, existem
aqueles que julgam ser, o trotskismo, o contrário do stalinismo, e isso também
é um profundo engano.
Leon
Trotsky poderia ter feito o papel de analista crítico da Revolução Russa e ter
procedido uma autocrítica, deixando claro que a contrarrevolução triunfara.
Para se desincumbir dessa tarefa, esse senhor tinha prestígio e qualidades
intelectuais suficientes para fazê-lo. Ao invés disso, Trotsky e os trotskistas
não romperam com as resoluções do X Congresso do PC Russo e venderam a falsa
ideia de que existia um Estado Operário burocratizado, ao invés de denunciar a
sua não existência e, sim, a construção do capitalismo de Estado, dirigido por
uma casta burocrática.
Em
função desses fatos, criou-se um empobrecimento político de profundas
consequências. Há que se repetir, como se repete o Pai Nosso entre os cristãos,
a seguinte verdade: Stalin e stalinismo são coisas diferentes, embora que,
simbioticamente, ligados.
Como
exercício de uma reflexão política, devemos colocar essas questões, que causam
arrepios entre os beatos “marxistas-leninistas” e os trotskistas, de maneira
que possamos resgatar o socialismo revolucionário, pois, assustadoramente, a
velha esquerda ficou reduzida a um antiamericanismo insano e inconsequente,
pois deixam de ver que o inimigo é o capitalismo, e não reduzir a luta a uma
posição estritamente anti-ianque, como se observa, chegando-se ao cúmulo de se
ver, com simpatia, o fascismo islâmico, desvairado e selvagem, porque eles têm
um sentimento contrário aos infiéis do “Império”.
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