Quando falamos de um ativista
político, teremos duas apreciações distintas. Uma é o individuo com suas
qualidades positivas ou negativas. Outra, é o ente político com seus acertos,
erros, limitações, talentos, genialidades. Partindo daí, é que nos propomos
tratar de Che Guevara. Vendo do lado pessoal, temos testemunhos de sua
grandeza, destacando-se o fato de ele rejeitar a russificação de Cuba,
preferindo se imolar nos grotões bolivianos, depois de ter passado pelo Congo. Lamentável,
é que ele não atinava a dimensão de sua grandeza, nem conhecimento da História.
Fosse ele possuído de formação política na perspectiva do socialismo, ao invés de
se embrenhar no Congo ou na Bolívia, teria, isso sim, deixado Cuba para se
instalar em Paris, Londres ou Roma, centros do capitalismo desenvolvido, tanto
do ponto de vista econômico, quanto político.
Tivesse Guevara elaborado um
manifesto ao mundo, discorrendo sobre o verdadeiro papel da URSS e fazendo um
apelo às classes trabalhadoras de todos os países, para formarem uma frente
anticapitalista, haveria de fazer estremecer as estruturas políticas do sistema
socioeconômico vigente. Seu precário nível de formação política, fazia com que
ele não extrapolasse as fronteiras da guerrilha dentro da logica maoísta do
“campo cercando a cidade”. O seu apelo para que se criassem um, dois, três Vietnãs,
expressava seus equívocos.
Em nome da decência, Che negou-se em
aceitar a russificação e preferiu o caminho do martírio. Essa conduta lhe
confere justas reverências. Mas do ponto de vista da História, sua atitude
ficou aquém e, de tudo, restaram as estampas de sua imagem angelical, impressa
nas camisetas da juventude.
Che, não legou um ensaio, um artigo,
um livro, dotado da mínima substância que servisse como peça de esclarecimento
capaz de orientar no rumo de uma militância realmente revolucionária. Em apoio
aos nossos argumentos, basta lembrarmos do fato de que a brava guerra de libertação
nacional levada avante pelos vietnamitas, hoje não passa de página virada, pois
como já dissera Marx e Engels, o eixo da história é a luta de classes e nunca
uma presumida luta entre nações opressoras e oprimidas. Essa deplorável lógica,
circunscreveram muitos militantes de boa fé nos marcos da periferia do
capitalismo, dando às costas as massas trabalhadoras da Europa ocidental, dos
Estados Unidos, do Japão, cidadelas de sustentação do aludido sistema. Che
Guevara poderia ter contribuído para quebrar essa percepção, fruto do atraso
imposto pelos longos anos de hegemonia stalinista.
Talvez, meu caro, se ele tivesse optado por uma atuação mais histórica e de consagração como interlocutor das classes, ele teria deixado a sua essência de lado. A essência de um inconformado. E um mito não consegue fazer isso!
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