É claro que quem tem fome
tem pressa. Ninguém de bom senso pode desmentir. Foi partindo daí que o
inesquecível Betinho conclamou a todos
para a formação de Comitês da Cidadania,
cujo objetivo seria acudir os milhões de famintos do Brasil. Setores da classe
média, tocados por esse apelo, formaram comitês e se lançaram na tarefa de
colher donativos que deveriam chegar para os famintos.
Sob o argumento de que,
“quem tem fome tem pressa”, estava embutida uma proposta nada interessante. Propunha-se
a suspensão da atividade política, para nos lançarmos em socorro assistencialista
de combate a fome. É sensato, porém, que diante de um problema que nos incomode,
busquemos a causa. Tentar combater a fome sem buscar erradicar a causa e
demover os fatores que a produz, é um caminho fadado ao insucesso.
Ora, sabemos que a fome,
assim como outros problemas sociais, tem como causa a vigência de um
capitalismo exaurido, cuja alma é a busca de lucro para uns poucos. Sendo
assim, deve ser prioridade para os que querem erradicar as mazelas sociais, dar
duro combate ao sistema socioeconômico que produz essas mazelas, o Betinho, na
sua santa ingenuidade, nos propôs centrar esforços numa política essencialmente
assistencialista, dentro da milenar tradição cristã que se caracteriza por
administrar a miséria, enquanto nós, socialistas, nos empenhamos em combater a
causa e assim erradicá-la.
Os
Comitês da Cidadania deram margem
para o posterior programa Fome Zero e
este desembarcou de malas e bagagens no tão propalado Bolsa Família. Em todos esses momentos, ficou bastante patente que
se optou pelo caminho do gerenciamento da miséria ao invés de se buscar a sua
erradicação como pretendem os verdadeiros socialistas. Ora, buscar a
erradicação da desigualdade e, por conseguinte, da pobreza e da miséria, nos
leva a implementar uma política explícita de caráter anticapitalista. Não
podemos, nem devemos ludibriar a boa fé de tantos, nos empenhando tão somente
em combater os efeitos, e aí reside o ponto central da questão.
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