Como podemos considerar alguém como cientista político,
caso ele não parta do princípio de que o advento da propriedade privada é a
pedra angular para que se entenda a vida social e política, hoje?
Como podemos aceitar alguém que se diga cientista
político, mas não veja o fato da propriedade privada ser um produto histórico e
não decorrência da truculência, do egoísmo ou esperteza de alguns?
Como podemos acatar alguém, como cientista político, se
ele não reconhecer o caráter de classe do Estado? E ainda, se ele não tiver
clareza de que o poder político, o Estado, não existia, na sociedade humana,
durante centenas de milhares de anos, que precederam a divisão da sociedade em
classes e camadas sociais?
Como podemos consentir que sejam sábios da ciência
política aqueles senhores que não distinguem a diferença substancial entre
poder e governo?
Como a academia burguesa, instituição que tem como
objetivo cumprir duas missões: Produzir mão de obra qualificada para o mercado
capitalista e aprofundar, consolidar e legitimar a ideologia desse sistema
socioeconômico, poderia permitir uma formação revolucionária?
Como podem alguns presumidos cientistas reivindicarem-se
marxistas, graças à “generosidade” da burguesia que os acolhe e os financia,
para que ofereçam a perspectiva de um socialismo emasculado, de sabor burguês?
Como pode alguém se arvorar de cientista político sem
constatar que o capitalismo, revolucionário nos seus primórdios, entrou em
acelerado processo de exaustão, nos colocando diante do dilema: Socialismo ou a
tragédia total?
Não é a ciência política, gestada e desenvolvida fora do
âmbito das academias burguesas, o conhecimento que nos orienta rumo à superação
do capitalismo? Em outras
palavras, não é o marxismo o único instrumento que nos fornece os princípios do
socialismo revolucionário?
Enfim, por que os bem remunerados e prestigiados pela
ordem socioeconômica vigente, aqueles que têm o “marxismo” como profissão e os
olhos vesgos voltados para subjetividade, não se prestando a lançar luz que
sirva a uma militância real e consequente, devem ser aceitos, por nós, como
cientistas políticos?
Seria a academia burguesa, tão ingênua, ao ponto de
permitir que, do seu seio, brote o conhecimento necessário a elucidação dos
“enigmas” sociais e políticos, que turvam a nossa visão, criam densas nuvens de
fumaça para que não enxerguemos as verdades de nossa realidade social e
política?
Sempre é hora de refletir, hora de questionar, e esse
tema, cremos, ser de grande relevância para aqueles que buscam livrar-se da
pasmaceira político-ideológica que os longos anos de hegemonia stalinista, em
conluio com a direita explícita, nos impôs.
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