Nos anos
da ditadura, uma companheira foi submetida à tortura. Alquebrada, face os
sofrimentos, seus torturadores, cruelmente impõem que a torturada aplique
choques elétricos em outros presos. Sem forças para reagir, ela aceitou assumir
o papel de torturadora dos seus companheiros.
Ela
sobreviveu e obteve, posteriormente, sua soltura. Aproveitou para fugir, se exilar.
Curada das dores físicas, vieram as cobranças morais. Como é que a companheira
concordou em torturar? E ela, ao invés de assumir a sua fraqueza, passou a se
justificar dizendo que concordou no propósito de castigar as vítimas de forma menos dolorosa e, assim, ela estava
servindo para amenizar as dores dos torturados.
O fato relatado corresponde à verdade
e ele se coloca dentre um elenco de posturas assumidas diante do terror insano.
Esse episódio tem um componente muito mais grave.
Sabemos que o capitalismo promove a
exploração do homem, enquanto depreda a natureza. Sabemos que os seus crimes giram
em torno de um único propósito, o de proporcionar lucros para uma minoria.
Sabemos, ou deveríamos saber, que esse sistema socioeconômico, há muito, perdeu
o seu caráter progressista. Sabemos, pois, que ele se tornou extremamente mau.
Deveríamos saber, também, que a tarefa de gerenciar o capitalismo é da
burguesia e de seus prepostos. Mas, muitos são os que caem na armadilha de
acreditar no discurso burguês de que o capitalismo é bom, desde que gerenciado
com competência e honestidade.
Esse argumento corresponde à lógica da
companheira, que se supunha uma “torturadora” menos perversa. Ela tem, a seu
favor, o fato de ter agido sob coação, enquanto a “esquerda”, que se propõe
tornar o capitalismo palatável, o faz por ingenuidade ou má-fé.
Governar o capitalismo é tarefa deles;
aos socialistas revolucionários cabe o papel primordial de desconstruir esse
sistema socioeconômico, e o exercício de governá-lo é totalmente contrário aos
interesses reais da humanidade. É tentar assumir o papel do “bom” torturador, e
isso é um ultraje.
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