A
capitulação semântica
A esquerda, de matriz
stalinista, há muito abandonou o socialismo. Trocou o princípio do antagonismo
de classes pelo discurso social-patriota, imposto pela burguesia à Segunda
Internacional. Isso a levou a abandonar o caminho da insurreição socialista
para assumir-se como defensora da pátria.
Por ironia da história, a
Terceira Internacional, criada pelos bolcheviques, após o triunfo de 1917, para
combater o social-patriotismo da Internacional anterior, terminou com a derrota
da Revolução Mundial e a consolidação do stalinismo, convertendo-se num novo
antro do social-patriotismo.
O princípio da contradição
capital/trabalho, burguesia/proletariado, foi substituído pela contradição “nação
opressora versus nação oprimida” e,
sob essa bandeira, a “esquerda” produziu agrupamentos patrióticos,
esquecendo-se da singela lição de que “o proletariado não tem pátria”.
Essa distorção fez surgir
uma falsa esquerda. Depois da queda do Muro de Berlim, ela, que se apoiava no
fraudulento discurso da existência de dois mundos, o mundo capitalista e o
mundo socialista, convivendo pacificamente, ficou sem discurso. A partir daí,
ela mergulhou totalmente no rumo da capitulação e aderiu aos truques semânticos
patrocinados pela burguesia.
Não fala mais, a esquerda
direitosa, em burguesia; prefere vociferar contra as elites, que é um vocábulo politicamente
impreciso. Ao invés de capitalismo, que expressa o conceito de um sistema de
classes prefere, até com certo pedantismo, falar em capital, que é apenas parte desse sistema e, portanto,
insuficientemente claro aos olhos e ouvidos dos trabalhadores. Outra expressão
sofisticada, longe do alcance dos trabalhadores é contra-hegemonia, que
objetiva dizer contra o poder da “elite”.
Para maior pesar, essa
esquerda procura se abastecer no velho discurso burguês dos iluministas do
século XVIII, lançando mão da expressão “república”, como coisa pública, e,
mais abusivamente ainda, lançando mão da palavra “cidadania”, como forma de
diluir o caráter de classe da sociedade.
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