Autocrítica
Como todos os mortais, tenho vários
defeitos. Um deles, não sei se o mais grave, é o de idealizar pessoas e
circunstâncias. Isso tem me levado a grandes equívocos. Em outras palavras, eu
diria que isso tem me levado a apostar no “cavalo” errado.
Francamente, não sei como superar tal
defeito. Até parece, pelos indícios, que o herdei do meu saudoso pai. Mas, vez
ou outra, as minhas apostas têm tido algum cabimento e isso tem me compensado
nessa dura caminhada em busca da emancipação humana, em busca do socialismo,
palavra tão enlameada, tão conspurcada, quanto tornaram-se as palavras social-democracia
e comunismo.
Não obstante, meus lamentos em
acumular tantos enganos quanto a pessoas e circunstâncias tem me cabido, por
dever de justiça, reconhecer que esses equívocos se dão no que diz respeito ao
“varejo”, enquanto no “atacado” tenho tido a clareza necessária para enxergar a
verdade, despida de ilusões e fantasias.
Isso se deu, por exemplo, em 1964,
quando tive a clareza de que a ilusão do caminho gradual para o socialismo era
uma fraude e que se avizinhava a contrarrevolução em forma de golpe de Estado.
Novamente, em 1973, com a eleição de
Salvador Allende, no Chile, tive a clareza de que aquela aventura pacifista
haveria de trazer um único resultado: Um sangrento golpe de Estado que, no
caso, foi liderado pelo famigerado General Pinochet, cumprindo à risca o seu
nefasto papel de guardião da ordem burguesa.
Tive a lucidez em ver que a festejada
vitória dos vietcongues, tão aplaudida, não seria lembrada após se passar dez
anos em que aqueles insurretos vietnamitas invadiram, gloriosamente, a velha
Hanói.
Essa qualidade em não me deixar
contaminar pelas ilusões históricas deve compensar o desvio em acalentar
fantasias, fruto dos meus desejos, quando se tratam de pessoas e circunstâncias,
embora isso não deixe de ser um fator prejudicial à minha militância
socialista. Mas talvez esse fato seja a fonte que produz motivações para a
minha tão dura luta, impregnada da mais cruel solidão, nas minhas certezas, de
que a História tem se encarregado de comprová-las justas e pertinentes.
Entretanto, isso não me faz feliz, pois preferiria que se desse o contrário. Eu,
cometendo enganos e, a maioria, praticando acertos.
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