terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Stalin nada inventou!

Temos afirmado que se torna impossível entender a situação política do mundo de hoje sem que se conheça, meticulosamente, a história da Revolução Russa e mais ainda a história da Terceira Internacional Comunista, fundada em 1919. Mas não basta tomar conhecimento unilateral dessas histórias. Precisamos ir a fundo. Quando assim procedemos, descobrimos que o fenômeno do stalinismo já tem os seus pressupostos bem antes de Stalin emergir como coveiro-mor da revolução socialista.
Já em 1921, por ocasião do X Congresso do Partido Comunista Russo, foi instituído o monolitismo com a consequente supressão do direito de tendências. Partido único, ausência de facção, estado policial, campos de concentração e a calunia como instrumento de embate político, já existiam nessa época.
É verdade que as medidas coercitivas, inclusive a censura a imprensa, eram de caráter provisórios e deveriam existir enquanto a revolução socialista mundial se reanimasse e trouxesse a vitória sobre o capitalismo na Europa Ocidental. Mas como a Revolução foi derrotada em escala mundial e houve o isolamento da URSS, Stalin tratou de tornar permanente o que se pretendia transitório. Nada ele inventou, como já dissemos, tudo já existia e ele fez apenas consolidar e tornar permanente o que se pretendia passageiro.
O georgiano Stalin consolidou o estado policial cometendo indizíveis crimes sendo, o mais grave deles, a transformação do socialismo científico em um arrazoado de dogmas e impondo uma visão unilateral dos fatos.
Todos nós que militamos na esquerda tradicional trazemos as marcas indeléveis do stalinismo. Temos da história uma visão distorcida, falsa e estreita. Criou-se o carimbo do “marxismo-leninismo” fazendo crer que a ciência socialista teria sido uma linha reta e, dessa forma, excluindo-se figuras exponenciais na construção do pensar e do fazer socialistas.
Uma análise acurada desses episódios históricos irá nos levar a 1912/13 como início dos descaminhos que redundaram no surgimento dessa excrescência histórica chamada stalinismo.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Pescar caranguejos

Pescar caranguejos
Gilvan Rocha

Após mais de 50 anos de militância socialista, estou cada dia mais convencido de que fazer política é como pescar caranguejos. Isso implica em dizer que, como pescar caranguejos, temos que botar a mão na lama. Fazer política na nossa realidade tem muita semelhança. E não é só a política de direita que é marcada por truques, calúnias mentiras e outros expedientes nada éticos. Na esquerda de matriz stalinista, incluindo-se aí os ditos trotskistas, os métodos condenáveis são praticados abundantemente. Mas o que devemos fazer diante desse quadro nada auspicioso para os que querem participar politicamente? Muitos se isolam sob o argumento de que detestam essa convivência tão nefasta. Porém, esse, ao meu ver, não deve ser o caminho das pessoas decentes que têm clareza da grave situação que vivemos, tanto aqui, como em escala mundial.
A única saída, no que pesem nossos escrúpulos, é meter a mão na lama da política e procurar retirar desse lamaçal, resultados que sirvam para o grande propósito da libertação humana das garras de um capitalismo exaurido.
Em outras palavras, é preciso termos consciência de que os problemas socias são de natureza política. Tomemos como exemplo a fome, esse mal tão antigo quanto o próprio homem, que poderia ser solucionado, pois dispomos de condições técnicas e cientificas para abolir essa chaga da face da terra, em questão de pouco tempo. No entanto, a fome persiste dizimando pessoas. Alguns, poucos avisados, procuram diminuir os seus efeitos promovendo campanhas minúsculas de combate à fome que se caracterizam por sua inegável insuficiência. Outro exemplo que poderíamos citar é a questão ambiental. É um erro, um grave erro, imaginar que tal questão pode ser resolvida no âmbito do capitalismo, com algumas leis proibitivas de ações predatórias do meio ambiente. Essa questão é, sobretudo, de natureza política. É preciso que a humanidade se dê conta de sua gravidade e tome nas mãos o destino do planeta.
Por essas e tantas razões, não podemos arredar do lamaçal político e sim enfrentá-lo, separando a lama do saboroso caranguejo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ladrão rico na cadeia?

Fomos surpreendidos com a notícia de que o governador do Distrito Federal, Roberto Arruda, havia sido preso. Fato dessa natureza é coisa muito rara. Porém, contrariando a vontade do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, seu amigo, Roberto Arruda, chefe inconteste de uma quadrilha de larápios, teve a sua prisão decretada pelo Superior Tribunal Federal e foi recolhido à prisão. Aliás, o Presidente Luis Inácio Lula da Silva tem um pendor, muito estranho para fazer amizade com tipos bastante abomináveis da vida pública nacional. Lembremos o quão ele é amigo e parceiro de figuras como: José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros, Jáder Barbalho, Orestes Quércia e outros tantos delinquentes nacionais.
Tal postura do Presidente não é tão estranha assim. Basta lembrarmo-nos da sua conduta por ocasião do mensalão do PT ou do episódio dos “aloprados”, desse mesmo partido, quando forjaram um dossiê cujo objetivo era denegrir a imagem do José Serra, então candidato a Governador do Estado de São Paulo. Por sua vez, é digno de nota termos em conta que a eminência parda do Partido dos Trabalhadores responde pelo nome de José Dirceu, figura reconhecidamente inescrupulosa e sempre pronto a levar avante planos diabólicos para se manter no governo e se locupletar das vantagens que o rico aparelho de Estado, pode proporcionar, inclusive com o tráfego de influência que, tão bem sabem manejar esse senhor.
De nossa parte, devemos reagir a tanta roubalheira, seja ela da direita neoliberal, representada pelo PSDB/DEM ou da direita moderada e populista representada por essa coligação esdrúxula que apóia o governo Lula e a candidatura da Dilma Rousself.
De uma coisa estamos convencidos. O capitalismo reinante não pára de produzir escandalosos absurdos.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Onde estavam eles?

Somos da opinião que a justíssima luta dos homossexuais reduz-se a uma única e fundamental bandeira: o direito de sê-lo plenamente, sem que haja a mais leve restrição, o menor preconceito, a menor discriminação. Mas para nós, militantes socialistas, é justo que possamos fazer algumas exigências, pois a julgamos pertinentes. Não é plausível que esses senhores e senhoras homossexuais limitem-se a promover festividades como o Baile de Gala Gay, a escolha da Rainha Gay, a Parada Gay, esta grandiosa manifestação que, todos os anos, ocupa as ruas de algumas cidades, com significativa aquiescência e apoio declarado da maioria da sociedade como um todo.
É necessário e justo que os movimentos dos homossexuais se posicionem diante dos graves e múltiplos problemas sociais e ambientais, que nós atravessamos e não se limitem a comportamentos fúteis, como soe acontecer em seus inúmeros e constantes eventos festivos.
Causou-nos muita estranheza que o movimento gay não tenha comparecido, massivamente, nas manifestações de protestos por ocasião da presença do Presidente do Irã, esse fascista, que responde pelo nome de Mahmoud Ahmadinejad.
Ora, o Irã padece de uma ditadura extrema que pune com a morte os casos de práticas homossexuais. Assim, é totalmente inaceitável e censurável que os movimentos gays não se lancem a denúncia sistemática do fundamentalismo islâmico, esse fascismo tão presente no mundo árabe de que são exemplos o Talibã e os regimes fascistas da Síria e do Irã.
Eles, os homossexuais, com plena razão, cobram da sociedade uma conduta de apoio a sua causa. Essa postura deve ter uma correspondência, pois não são somente os homossexuais objetos de intolerância e perseguição. Os negros, os judeus, os ciganos e, sobretudo os pobres, são discriminados com insuportável veemência. A luta por um mundo livre, pacífico e harmonioso é uma causa que nos pertence e gostaríamos de ver os alijados, os perseguidos, os discriminados na linha de frente dessa luta, o que seria realmente um ato de coerência.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A universidade é uma “roubada”?

A juventude tem sido vítima do capitalismo. Um contigente de jovens não tem outro destino se não as drogas o crime, a prostituição. Outros têm a sorte de encontrar um emprego e vender sua força de trabalho, a preço vil. Enquanto isso, a burguesia propala que a salvação está na universidade, pois ela se presta a qualificar a mão de obra para o mercado, mas a ela só tem acesso uma pequena minoria.
É verdade que ela produz técnicos e cientistas que a troco de salários prestam-se a servir ao sistema. Aqui, estão empenhados na descoberta de um remédio para uma doença crônica, ali, ergue obras de engenharias monumentais, adiante trabalha com habilidade para construir armas sofisticadas. Tudo sob o comando dos capitalistas a quem são totalmente subalternos. Ora, se o maior problema da humanidade é evitar a destruição da vida, a universidade está muito distante de fazê-lo, pois ela existe com dois objetivos: o primeiro, como vimos, criar técnicos e cientistas para seus feitos, e o segundo, garantir sustentação ideológica ao sistema. Nesse sentido a universidade é uma roubada e nunca uma saída para humanidade.
Isso não significa dizer que desaconselharíamos ninguém a buscar um lugar na academia, assim como não desaconselharíamos outros a venderem sua força de trabalho a alguma indústria. Quando discutimos a universidade e chegamos a acusá-la de verdadeira roubada, é porque ela se distancia do objetivo supremo da humanidade que é buscar a transformação econômica e social. Reconhecemos que, por contradição, ela possa oferecer alguns espaços para discussão que também deve ser feito nas fábricas.
Devemos fazer empenho por mais universidades para a juventude ao mesmo tempo em que devemos evitar mitificá-la, permitir que ela seja o monstro sagrado que haverá de salvar o mundo. Pelo contrário, a universidade, junto com as Forças Armadas, as polícias, o aparelho judiciário, todo o corpo de Estado são elementos de sustentação da ordem vigente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Cidadão Global

Os representantes mais destacados do capitalismo mundial, reunidos em Davos, na Suíça, resolveram prestar uma significativa homenagem a Luiz Inácio da Silva, pelo reconhecimento dos seus serviços prestados à causa da ordem vigente. Assim é que o Lula foi agraciado com o título de Estadista Global.
Exemplo de êxito na tarefa de tocar os negócios da República brasileira de forma a assegurar grandes lucros para a burguesia num clima de “paz social”, é natural que a cúpula do capitalismo festeje o nosso presidente.
Enquanto isso o Fórum Social Mundial, que pretendia ser oposição ao Fórum Econômico, portanto devia ter um caráter anticapitalista, caiu de joelhos e, surpreendentemente, aplaudiu de pé o senhor Lula, que pratica uma política de subsidiar a miséria e cooptar todo o movimento social, a começar pelas centrais sindicais e estudantis. Dessa forma ele tem conseguido, a preços módicos, a estabilidade política e social que o sistema almeja.
Não é a primeira vez que o capitalismo mundial lança mão dos serviços de um líder operário. O líder operário polonês, Lech Valessa, jogou uma papel decisivo na plena restauração do capitalismo naquele país. Para os bem informados, que se colocam em oposição ao capitalismo, há que repelir esses festejos, denunciando o seu caráter de manipulação do povo em benefício da burguesia e desmascarar “O Cara” como um serviçal inconteste do grande capital.
É óbvio que os oportunistas, os maus informados, os vacilantes, os fracos que não querem confrontar a opinião pública, embalada pelo engodo, se apressam em aderir ao lulismo com o intuito evidente de não desagradar ou porque deixa-se envolver por essa densa cortina de fumaça.
É claro que esse não é o nosso caso, temos compromisso com a verdade e dessa forma nos sentimos no dever de denunciar a fraude que busca a perpetuação do status quo.