sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Aos de boa fé


Os trabalhadores de todo o planeta têm dois objetivos. O primeiro é a conquista de melhores salários e condições de trabalho. Tratam-se de interesses imediatos de natureza reformista, isto é, medidas que alteram a forma sem alterar a essência da vida. O seu segundo objetivo, se volta para o conteúdo. No capitalismo o conteúdo está definido pelas relações e objetivos de duas classes: a burguesia e os trabalhadores. A burguesia têm o proposito de obter lucro, mesmo que para isso, haja de destruir a natureza, ceifar vidas, produzir mazelas sociais. Os trabalhadores vivem de vender a sua força de trabalho em troca de salários.
Essa realidade leva a que a burguesia procure manter o capitalismo. Aos trabalhadores cabe a tarefa de romper com essa ordem econômica e social e se libertar dela construindo um mundo onde não haja a exploração do homem pelo homem. Em geral, os trabalhadores, por falta de informações, se prendem somente aos interesses imediatos e não se dão conta de que no capitalismo não existem, para eles, ganhos definitivos. O que lhe é dado hoje é tomado amanhã.
Um partido que represente os interesses históricos das classes trabalhadoras teria, como missão principal, levar a essa classe os esclarecimentos necessários para que ela dê um salto de qualidade evoluindo do reformismo, para o socialismo. No Brasil, temos um partido que, nascido das lutas sindicais, se autoproclamou partido dos trabalhadores, porém, o que temos visto é a sua busca em cumprir a tarefa de gerenciar o capitalismo, permitindo e praticando toda sorte de ilícitos, de má conduta.
Passada as eleições de 2014, o PT se volta para formação de seu “novo” governo. O ponto nevrálgico é a escolha da equipe econômica. E onde o PT vai buscar nomes? Nas centrais sindicais? Nas suas bases partidárias? Não! O PT se volta para os grandes capitalistas, a quem cabe a missão real de escolher aqueles que vão comandar os seus interesses.
Não existe, pois, o Partido dos Trabalhadores. Existe uma agremiação que, em troca de vantagens, se presta a segurar as massas trabalhadoras, congelando os seus sindicatos e suas centrais, para garantir paz aos senhores. Isso é preciso ser dito. Não é tarefa de um partido de trabalhadores servir ao capitalismo. Pelo contrário, ele teria que ser, claramente, anticapitalista, para merecer esse nome.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Cientista Político


            Como podemos considerar alguém como cientista político, caso ele não parta do princípio de que o advento da propriedade privada é a pedra angular para que se entenda a vida social e política, hoje?
            Como podemos aceitar alguém que se diga cientista político, mas não veja o fato da propriedade privada ser um produto histórico e não decorrência da truculência, do egoísmo ou esperteza de alguns?
            Como podemos acatar alguém, como cientista político, se ele não reconhecer o caráter de classe do Estado? E ainda, se ele não tiver clareza de que o poder político, o Estado, não existia, na sociedade humana, durante centenas de milhares de anos, que precederam a divisão da sociedade em classes e camadas sociais?
            Como podemos consentir que sejam sábios da ciência política aqueles senhores que não distinguem a diferença substancial entre poder e governo?
            Como a academia burguesa, instituição que tem como objetivo cumprir duas missões: Produzir mão de obra qualificada para o mercado capitalista e aprofundar, consolidar e legitimar a ideologia desse sistema socioeconômico, poderia permitir uma formação revolucionária?
            Como podem alguns presumidos cientistas reivindicarem-se marxistas, graças à “generosidade” da burguesia que os acolhe e os financia, para que ofereçam a perspectiva de um socialismo emasculado, de sabor burguês?
            Como pode alguém se arvorar de cientista político sem constatar que o capitalismo, revolucionário nos seus primórdios, entrou em acelerado processo de exaustão, nos colocando diante do dilema: Socialismo ou a tragédia total?
            Não é a ciência política, gestada e desenvolvida fora do âmbito das academias burguesas, o conhecimento que nos orienta rumo à superação do capitalismo?            Em outras palavras, não é o marxismo o único instrumento que nos fornece os princípios do socialismo revolucionário?
            Enfim, por que os bem remunerados e prestigiados pela ordem socioeconômica vigente, aqueles que têm o “marxismo” como profissão e os olhos vesgos voltados para subjetividade, não se prestando a lançar luz que sirva a uma militância real e consequente, devem ser aceitos, por nós, como cientistas políticos?
            Seria a academia burguesa, tão ingênua, ao ponto de permitir que, do seu seio, brote o conhecimento necessário a elucidação dos “enigmas” sociais e políticos, que turvam a nossa visão, criam densas nuvens de fumaça para que não enxerguemos as verdades de nossa realidade social e política?
            Sempre é hora de refletir, hora de questionar, e esse tema, cremos, ser de grande relevância para aqueles que buscam livrar-se da pasmaceira político-ideológica que os longos anos de hegemonia stalinista, em conluio com a direita explícita, nos impôs.


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

“A fome tem pressa”


É claro que quem tem fome tem pressa. Ninguém de bom senso pode desmentir. Foi partindo daí que o inesquecível Betinho conclamou a todos para a formação de Comitês da Cidadania, cujo objetivo seria acudir os milhões de famintos do Brasil. Setores da classe média, tocados por esse apelo, formaram comitês e se lançaram na tarefa de colher donativos que deveriam chegar para os famintos.
Sob o argumento de que, “quem tem fome tem pressa”, estava embutida uma proposta nada interessante. Propunha-se a suspensão da atividade política, para nos lançarmos em socorro assistencialista de combate a fome. É sensato, porém, que diante de um problema que nos incomode, busquemos a causa. Tentar combater a fome sem buscar erradicar a causa e demover os fatores que a produz, é um caminho fadado ao insucesso.
Ora, sabemos que a fome, assim como outros problemas sociais, tem como causa a vigência de um capitalismo exaurido, cuja alma é a busca de lucro para uns poucos. Sendo assim, deve ser prioridade para os que querem erradicar as mazelas sociais, dar duro combate ao sistema socioeconômico que produz essas mazelas, o Betinho, na sua santa ingenuidade, nos propôs centrar esforços numa política essencialmente assistencialista, dentro da milenar tradição cristã que se caracteriza por administrar a miséria, enquanto nós, socialistas, nos empenhamos em combater a causa e assim erradicá-la.
            Os Comitês da Cidadania deram margem para o posterior programa Fome Zero e este desembarcou de malas e bagagens no tão propalado Bolsa Família. Em todos esses momentos, ficou bastante patente que se optou pelo caminho do gerenciamento da miséria ao invés de se buscar a sua erradicação como pretendem os verdadeiros socialistas. Ora, buscar a erradicação da desigualdade e, por conseguinte, da pobreza e da miséria, nos leva a implementar uma política explícita de caráter anticapitalista. Não podemos, nem devemos ludibriar a boa fé de tantos, nos empenhando tão somente em combater os efeitos, e aí reside o ponto central da questão.



sexta-feira, 21 de novembro de 2014

“Os grotões”


Nos anos da ditadura, existiam dois partidos: ARENA e o MDB. O primeiro representava os golpistas mais conservadores. O segundo reunia os que achavam que o Estado de Exceção havia cumprido a sua missão de afastar o “perigo vermelho” e que era hora de reinstalar o “Estado Democrático de Direito”.
Houve um momento em que o MDB batia a ARENA governista nos grandes centros urbanos, mas perdia nos “grotões”, especialmente no nordeste. Diante desse fato, o político Tancredo Neves, afirmou que a ARENA era o partido dos grotões, onde existia menor nível de informação e de independência, enquanto prevalecia o maior grau de controle do coronelismo.
Hoje, alguns repetem o argumento de que o nordeste dá sustentação ao PT e seus aliados como: Sarney, Temer, Barbalho, Calheiros, Collor, Maluf... Existem os que acusam o PT de usar uma imensa compra institucionalizada de votos através do Bolsa Família, transformada em grande reduto eleitoral.
Não se pode negar a vulnerabilidade de uma população carente, na linha do desespero. Marx, no Manifesto Comunista, referia-se aos excluídos, ao lupem, dizendo que sua precariedade levava a que eles pudessem se vender em troca de um prato de lentilha (feijão). Não obstante a procedência desse argumento, não podemos dar guarida às manifestações fascistas que, abstraindo as condições de vida da população nordestina, resvalem para o racismo, querendo imputar a eles a condição de sub-raça.
Entretanto, por conta desse nosso justo repúdio, não podemos deixar de ver que a vulnerabilidade política dos contingentes mais necessitados pode tornar esse público alvo fácil da chantagem e do terror, tão vastamente praticado pelo petismo, sem que essa constatação se preste a legitimar a outra ala da burguesia, pronta a patrocinar políticas comprometidas com o sistema.
A reflexão isenta, é a forma mais consequente para analisar as eleições de 2014. Afinal, nós nos posicionamos: “nem petralhas, nem tucanalhas”, somente o povo consciente poderá nos levar ao caminho da emancipação.


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O que é o fascismo



As categorias políticas, em geral, têm sido de difícil compreensão para muitos, em decorrência da confusão conceitual que dela se faz. Temos lembrado que a democracia política produzida pelas revoluções burguesas, particularmente pela clássica Revolução Francesa, foi um grande patrimônio, uma grande conquista para a humanidade. Os marxistas não desprezaram esse patrimônio, mas não se contentaram com essa conquista e propuseram que, para além da democracia politica, buscássemos a conquista da democracia social. Dai a expressão social-democracia, que depois foi enlameada como foram, em momento distintos, enlameadas as palavras socialistas e comunistas, dado o seu uso indevido e até criminoso.
Retornemos, porém, às nossas argumentações. Partindo do principio que a liberdade para a burguesia era uma necessidade, ela havia de romper com todas as amarras do velho feudalismo. Assim, ela permitiu conquistas tais como: o voto universal e secreto; o direito de ir e vir; liberdade de pensamento e organização e tantas outras conquistas que foram revogadas quando se instituiu um governo policial que impunha um discurso único; um partido único; a supressão do livre debate; a instituição de uma policia politica; a instauração de campos de concentração para os dissidentes e outras medidas coercitivas.
Esse procedimento é conhecido pelo nome de totalitarismo ou fascismo e ele só pode se realizar no âmbito do capitalismo. Foi justamente na URSS, dado à inviabilidade da proposta socialista e da necessidade de se cumprir tarefas do capitalismo, através do Estado, que se deu o primeiro ato de revogação das liberdades democráticas. Ou seja, foi aí que se deu a primeira prática de uma política, inegavelmente, totalitária ou fascista.
Depois dessa primeira experiência totalitária, vamos encontrar o exercício do fascismo na Itália de Mussolini e na Alemanha de Hitler. Veja-se que nos casos citados observa-se a revogação da prática democrática e a construção de um Estado eminentemente policial.

Por seu turno, vale salientar que não procede taxar de fascistas governos autoritários e até sanguinários, pois a conceituação de fascismos tem uma conotação muito mais profunda e abrangente. O fascismo é, antes de tudo, a contrarrevolução na sua forma mais exacerbada e ela se dá através, tanto do stalinismo, como posteriormente, do nazifascismo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Os Degenerados


Há anos caiu, em minhas mãos, um livro do excelente romancista revolucionário Máximo Gorki, cujo título era: Os Degenerados.
Muitos dos que se reivindicam marxistas imaginam que o único pecado do capitalismo é a exploração da mais-valia e as agressões à natureza, depredando-a, criminosamente, em escala crescente.
Mas a grande verdade consiste em que os malefícios desse sistema vão muito além, quando promovem a degradação dos seres humanos.  Corrompendo os costumes, ele gera verdadeiras patologias sociais que vão desde a pedofilia aos estupros seguidos de morte, ao crescente aumento do uso das drogas lícitas e “ilícitas”.
A exacerbação do sexo quando, até para vender um automóvel ou um simples biscoito, são exibidos belos corpos femininos, postados de forma provocante, pelo que nos parece, isso gera grandes desajustes de comportamento no que concerne às relações de amor e prazer, quando o ultimo sentimento, o prazer, termina por se impor.
A classe operária, tratada de forma paternalista e, sobretudo, idealizada, não foge das garras desse sistema exaurido, sempre pronto a produzir mazelas sociais, enquanto, no que diz respeito ao costume, há um inegável espaço para que sejam gerados vícios degradantes e perversões.
Em uma abordagem romântica, feita no Manifesto Comunista, através dos jovens socialistas Karl Marx e Frederico Engels, eles tentam mostrar o proletariado imune aos pecados mundanos, depositários de virtudes, enquanto a classe burguesa, incapaz do exercício do amor, se contentava em se cornear entre si.
Essa visão romântica levou a que o grande cineasta italiano, Fellini, fizesse seu grande filme: “A doce vida”, em que tenta retratar o viver burguês como tedioso e infeliz, o que não passa de uma distorção que levou alguns a concluírem que eram os pobres, felizes, porque não padeciam do tédio, nem tinham o hábito de se cornearem, e isso é totalmente falso.
Os degenerados, hoje e ontem, dentro do capitalismo, constituem-se em vítimas de um sistema exaurido. Negar a existência deles é um ato de esconder as evidências, enquanto as drogas estão presentes, transformando jovens em agressivos delinquentes, quando não em zumbis, mortos-vivos, pois vivem mergulhados no alcoolismo ou em outros tantos vícios degradantes.
Diante disso, se levantam duas correntes: Uma, aposta que a solução estaria na repressão policial. Outra, acredita na permissividade como forma de tratar positivamente o problema. Do nosso ponto de vista, achamos que, no âmbito do capitalismo, ambos os caminhos têm se mostrado ineficazes, ou melhor, dentro dos marcos do sistema socioeconômico vigente não há lugar para uma vida social saudável e digna, pois as iniquidades sempre estarão presentes, enquanto perdurar esse sistema.
Em razão desse ponto de vista é que guardamos reservas em relação à iniciativa do tipo: Marcha da Maconha; marcha das vadias e as espetaculares paradas gays.





     

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Evo e o FMI


A esquerda, de matriz stalinista, faliu completamente. Tenta sobreviver de migalhas. Acalenta a perspectiva de um socialismo muito singular, para não dizer estranho. Trata-se do “socialismo constitucional”, levado a cabo por Hugo Chaves na Venezuela, Rafael Correa do Equador, Mujica no Uruguai que procedeu ao ato “revolucionário” de legalizar o uso da maconha e, com destaque, o líder sindical Evo Morales.
Esse socialismo não tem por inimigo o capitalismo; reduz tudo a uma posição intransigente e raivosa ao imperialismo ianque. Por sua vez, todos eles mantiveram incólume o aparelho de Estado burguês e se regem pelas regras e princípios do mercado capitalista.
Evo Morales tem merecido, dessa esquerda, todos os louvores, afinal, em se tratando da miséria, não necessitamos erradicá-la, basta administrá-la com políticas compensatórias, como se faz aqui no Brasil. Por seu turno Evo Morales, consegue obter não só os louvores das esquerdas de matriz stalinista como também os louvores do Fundo Monetário Internacional – FMI, afinal ele cumpriu todos os preceitos ditados por eles.
Para nós, é impossível perceber o socialismo nesses moldes. Um socialismo contido nos marcos do capitalismo, que alimenta tão somente, uma renhida arenga com o “Império do Norte”. A nosso ver, ou a boa fé de muitos é dotada de extrema ingenuidade, ou a má fé dos que em nome do marxismo-leninismo há muito deram as costas ao socialismo revolucionário para mergulhar nesses contorcionismos e atos de magia que têm a proeza de inventar socialismos onde nunca existiram e nem existem.

Tais fatos, para tristeza nossa, só servem para expressar o grau de derrota que o verdadeiro movimento socialista atingiu. Cremos de nosso dever, não compactuar com desvios e distorções que são praticados, diuturnamente, ontem e hoje, em nome do marxismo, acoplado a denominações outras como: stalinismo ortodoxo, kruschevismo, maoísmo, fidelismo e mesmo o trotskysmo preso às resoluções do X congresso do PC russo e às formulações teóricas equivocadas. Sustentamos a esperança de que, sobre o reino da confusão, possa florescer a lucidez política e sobre ela, possamos edificar uma outra esquerda, essa sim, de caráter revolucionário.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Discurso. Todos têm


Repetimos, exaustivamente, que ninguém pode viver sem um discurso político. Para comprovar, experimentemos fazer uma ligeira pesquisa entrevistando pessoas. Ao gari, postado em nossa esquina, perguntamos: Por que, apesar de tantos progressos, existem mais de um bilhão de pessoas passando fome? Nesse momento, o nosso singelo personagem apoia-se em sua vassoura e responde: Ah! Meu amigo, o povo não quer mais trabalhar. Daí, a fome de que você fala. Cônscio da justeza de seu discurso, o nosso amigo retorna à sua lida, sem perceber que assumira uma posição política.
Seguimos em nossa pesquisa e abordamos uma contrita senhora, perguntando-lhe: Por que tanta violência no mundo? E ela, sem pestanejar, afirma: Meu filho é a falta de Deus no coração! Eis a causa da violência e, com essas palavras, ela pronunciou o seu discurso, mesmo que ela não tenha imaginado fazê-lo.
Prosseguimos em nossas andanças e questionamos um professor, indagando da razão de tantas mazelas mundo afora. Ele afirma, solenemente, que é tudo obra do imperialismo ianque. Não fala no imperialismo inglês, alemão, francês, canadense, japonês... Tudo, para ele, se reduz ao imperialismo ianque e, contra ele, vale até se aliar ao fascismo islâmico.
Permanecendo em nossa busca, eis que nos colocamos diante do senador Cristovão Buarque. Circunspecto, ele afirma que o problema do Brasil está na ausência de educação. Retrucamos o ilustre senhor, lembrando-lhe que a cultíssima e letrada Itália produziu o fascismo, enquanto a não menos culta e letrada Alemanha produziu o nazismo. Mas ele muda de assunto, ciente de que o seu discurso lhe rende votos e prestígio.

Vemos, pois, que, desde um singelo gari ao festejado senador, todos têm um discurso, ou melhor, vários discursos políticos. A questão, portanto, é avaliar se eles são dotados de fundamentos. Observamos que nenhum deles se aproximou da verdade, nenhum deles revelou a verdadeira causa dos nossos crescentes dramas sociais. Nenhum dos discursos postos afirmou: a humanidade tem cerca de duas centenas de milhares de anos e, somente a dez ou doze mil anos, deu-se aquilo que se poderia chamar de “pecado original”. Deu-se o advento da propriedade privada dos meios de produção e a consequente desigualdade social com todas as suas mazelas e que, hoje, se apresenta no seu último estágio, o capitalismo imperialista em pleno processo de exaustão. Entendemos que esse é o discurso que falta ser encontrado na boca do gari, do professor, do estudante, da dona de casa... 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Socialismo Poluído



            A derrota do socialismo em escala mundial, ocorrida na década de vinte do século passado, trouxe desastrosas consequências que, hoje, se apresentam com toda gravidade.
            A inviabilidade de um projeto socialista, no âmbito de um único país, e o profundo atraso econômico e cultural da Rússia, determinou que ali se cumprisse um programa de construção do capitalismo, levando-se avante tarefas da revolução burguesa. Naquele país, a implantação do capitalismo dar-se-ia de forma bastante diferente do que ocorrera em outros recantos.
            O projeto socialista só poderia vingar, na Rússia, caso tivesse havido se dado o avanço vitorioso desse projeto na Europa Ocidental. Em 1919, Lenine afirmou: Ou o socialismo avança no ocidente, ou a URSS perecerá. O avanço revolucionário não ocorreu, a proposta socialista pereceu no seio da URSS e tal fato não se deu por obra desse ou daquele protagonista, como pretende a abordagem idealista que se faz da História.
            Caso a construção do capitalismo na Rússia se desse nos moldes tradicionais, as consequências seriam outras. Porém, ao invés do caminho clássico, o que houve foi a construção do Capitalismo de Estado por conta de um imensurável custo, sobretudo político.
            O desastroso custo político tem, como fonte geradora, não se ter assumido a derrota e se ter empreendido a construção do Capitalismo de Estado sob o rótulo do socialismo, expediente esse que redundou em prejuízo para a causa emancipatória da humanidade.
            Quanto ao meio ambiente, são assustadores os níveis das agressões perpetrados na então URSS. Hoje, assistimos ao Capitalismo de Estado, na China, praticar terríveis crimes contra a natureza. É na China que existe o maior índice de poluição do ar em todo o universo. Mas, quem paga a conta por esse “socialismo” poluído é a causa revolucionária.
            Totalitarismo, agressão ao meio ambiente, Estado sob o controle de um único partido, são os traços marcantes desse processo trágico que a História nos reservou, através desse sinistro produto da contrarrevolução, chamado stalinismo. É por conta desses fatos que, hoje, o capitalismo goza de total hegemonia política, apesar de sua exaustão, do ponto de vista econômico e social.
            A poluição do “socialismo” stalinista não se limitou ao meio ambiente. Ela foi e é muito mais profunda no que diz respeito aos princípios do socialismo revolucionário.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Cuidar da vida...




Ouvimos com frequência as pessoas falarem em “cuidar da vida”. Cuidar da vida significa cuidar em ter um bom nível escolar, conquistar um emprego, ser promovido, buscar uma estabilidade, fazer poupança, conquistar uma moradia ou mesmo perseguir o direito a uma velhice tranquila. Isso é o que se diz e isso é o que geralmente é feito pelas pessoas. Não compreendem elas que cuidar da vida seria coisa bem diferente. Cuidar da vida é lutar contra o atentado perpetrado pelo capitalismo contra a sobrevivência da própria espécie humana. Aí, sim, é cuidar da vida. É evitar que a barbárie se avolume e nos dê como desfecho a tragédia total.
A luta anticapitalista deve estar na ordem do dia seja do jovem, da dona de casa, do trabalhador rural, do bacharel ou do ancião. Do povo letrado e do iletrado.
Será que é tão difícil compreender isso? Será que estamos vendo o planeta ser agredido, de forma irresponsável, pelo capitalismo que não tem outro propósito senão a busca do lucro para uma minoria, mesmo que isso custe o assassinato das nossas florestas, rios, mares, animais silvestres e gente? Será que vamos ficar impassíveis diante de tantas ameaças?
A nossa omissão nos levará inevitavelmente para o suicídio social. Não se tome providência e a humanidade será varrida da face da terra e reinará a morte. Portanto, cuidar da vida, repetimos, é arregaçar as mangas e intervir politicamente, seja no sindicato, na associação de bairro ou num partido político. Seja, também, a toda hora e a todo instante, e de forma clara e cristalina contra a ordem capitalista e pela construção de uma nova ordem social que respeite a vida e não o princípio do lucro para uns poucos.
Assim pensamos, assim agimos e esperamos que não estejamos sós, como um punhado de obstinados. Esperamos que você trabalhador, você dona de casa, você juventude, você profissional liberal, venha se juntar a nós nessa tarefa de denunciar a verdadeira causa da violência e dos desmandos que a ordem vigente nos impõe.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Civilização do Automóvel



No início do século passado, dá-se o surgimento da indústria automobilística. Essa indústria teve vários berços, mas foi nos EUA que ela assumiu um maior vigor. O automóvel tornou-se, além de um meio de transporte rápido, sinônimo de conforto e, sobretudo, prestígio. De tal forma exitosa, a indústria automobilística invadiu o mundo.
Há cerca de três décadas passadas, numa palestra que fizemos, afirmamos que o automóvel tendia a se transformar em um trambolho e é isso mesmo o que está acontecendo, pois a cada dia, torna-se difícil transitar e estacioná-lo. Tenta-se resolver essa questão por via da engenharia, construindo-se viadutos, elevados e túneis, entretanto, essas medidas não têm se mostrado eficazes para a solução do problema da mobilidade urbana.
Há os que clamam, com justiça, para que se faça maiores investimentos nos transportes de massa: trens, metrôs e ônibus. Mas, apesar da justeza desse pleito, menos automóveis e mais transportes de massas, a lógica do capitalismo contemporâneo, nessa questão, pressiona no sentido de que se aumente a frota de carros, congestionando as cidades.
A força dos interesses da indústria automobilística é tamanha que, no caso do Brasil, vimos o governo “progressista” do PT e PCdoB, proceder ao incentivo na aquisição de automóveis, isentando-os, por um largo período, de impostos, ao mesmo tempo que ampliava as linhas de crédito, e o resultado foi catastrófico. Uma verdadeira política de mobilidade, voltada para o bem estar social, não poderia ser jamais essa que é levada a cabo pelo governo petista. O correto seria elevar os impostos para os usuários de automóveis e, assim, criar um fundo capaz de promover o financiamento dos transportes coletivos.
Essa postura, porém, não se adéqua muito bem aos interesses mais imediatos do capitalismo e o governo petista nunca esteve, nem está, a serviço dos interesses da coletividade, pois como governo, sua missão é gerenciar os interesses do sistema socioeconômico vigente. Diante disso, é hora de nos colocarmos de pé e bradarmos, veementemente, por uma mudança radical na política de mobilidade urbana, clamando por mais e melhores transportes coletivos e menos automóveis.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

“Brasil, um País de todos”




Em uma das propagandas do então governo Lula estava dito: “Brasil, país de todos”. Trata-se de um discurso secular. A burguesia planta em nossas cabeças que o país é de todos e que devemos nos empenhar em defendê-lo. Como pode o Brasil ser um país de todos quando as terras, as fábricas, as minas, os bancos, o comércio pertencem a um punhado de pessoas? Quanto ao povão, só resta a força de trabalho para vendê-la a baixos preços, em troca de salários, isso quando consegue ter emprego.
O discurso burguês não passa de uma deslavada mentira e dele tiram proveito os verdadeiros donos do Brasil. Tal discurso deveria ser denunciado pela esquerda. Falta-nos, porém, uma esquerda de verdade. O que temos, é uma esquerda desfigurada pelos anos de dominação do stalinismo. É essa esquerda direitosa, que dá sustentação ao sistema capitalista.
No Brasil, como no mundo, a burguesia voa, politicamente, em céus de brigadeiro. Aqui, certa esquerda, gerencia, com excelentes resultados, o capitalismo. Com o Bolsa Família, administra a miséria, atenuando seus aspectos mais agudos. Através do sindicalismo chapa branca controla os trabalhadores insatisfeitos.  Enquanto isso, a grande burguesia, especialmente os banqueiros, retiram lucros nunca dantes imaginados. Essa é a nossa realidade e ela reserva para os ricos a parte do leão. Enquanto isso o mundo, incluindo o “Brasil de todos”, caminha para a tragédia total, dado o caráter destruidor de um capitalismo esgotado, cuja permanência deve-se à indiscutível competência dos seus políticos e ao papel que jogam, ontem e hoje, os nacionais-reformistas, como linha auxiliar do próprio sistema.
Só existe, portanto, uma saída, a construção de uma outra esquerda, de uma esquerda claramente anticapitalista e desfeita dos equívocos e vícios de inspiração stalinista. Uma outra esquerda que denuncie as falcatruas burguesas que nos impingem essa lorota de “Brasil, um país de todos”, quando sabemos que aos ricos cabem os favores e aos pobres os sacrifícios mais desumanos. Pobres, quando roubam, vão para a cadeia e os ricos lhes são dados até os “embargos infringentes”.