sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Triste Papel




            Na metade da década de vinte do século passado, consumou-se a derrota da revolução socialista em escala mundial. A contrarrevolução se estendeu por todo o universo, inclusive fez-se presente, após sangrentos embates, na recém surgida URSS.
             O imperialismo foi vitorioso e, ao lado desse fato, prosperou a contrarrevolução travestida de esquerda sob o rótulo do “marxismo-leninismo”. Braço dessa política contrarrevolucionária foi a Terceira Internacional e, em menor escala, o trotskismo. É necessário deixar claro que, Stálin e Trotsky, depois da derrota da revolução, constituíram-se em produto dessa derrota, cujo resultado apresenta-se hoje, retratado no extremo estado de pauperização do movimento socialista e na hegemonia política do capitalismo em escala mundial.
            Para a sobrevivência do capitalismo, concorreram e concorrem a direita explícita e as posturas assumidas pelo stalinismo-trotskismo. Proclamando a falsa ideia de que existia um mundo socialista, representado por Estados policiais, que não passavam dos limites do capitalismo de Estado e que serviam tão somente às castas burocráticas incrustadas nesses países, a esquerda direitosa, além de assassinar o socialismo científico, promovendo sérias distorções conceituais, contribuiu para difundir lendas e fraudes, nada convenientes à causa revolucionária.
             Já se disse que revolucionária é a verdade e que seria com ela que deveríamos ter todo o compromisso e nunca propagar tantas mentiras políticas que só serviram e servem a manutenção da ordem econômica e social vigente.
            Assim sendo, esses senhores da esquerda direitosa, sob o manto do “marxismo-leninismo” ou do “marxismo-leninismo-trotskismo” têm prestado um triste papel para manter a ordem vigente, que nos arrasta para a tragédia total.
            Recentemente, a Coréia do Norte, Estado extremamente policial, calcado no capitalismo de Estado, lançou ao espaço um foguete de longo alcance e essa proeza foi festejada por setores da esquerda direitosa, como um ato a serviço da causa socialista, o que é uma monumental mentira. Não deveríamos ter nunca compromisso com a fraude, entretanto, essa atitude comprometida com a mentira vem se arrastando por esses longos anos de stalinismo-trotskismo em seu triste papel.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A capitulação semântica




            A esquerda majoritária há muito abandonou o socialismo. Trocou o princípio do antagonismo de classes pelo discurso social-patriota, imposto pela burguesia à Segunda Internacional. Isso a levou a abandonar o caminho da insurreição socialista para assumir-se como defensora da pátria.
Por ironia da história, a Terceira Internacional, criada pelos bolcheviques, após o triunfo de 1917, para combater o social-patriotismo da Internacional anterior, terminou, com a derrota da Revolução Mundial e a consolidação do stalinismo, convertendo-se num novo antro do social-patriotismo.
O princípio da contradição capital/trabalho, burguesia/proletariado, foi substituído pela contradição “nação opressora versus nação oprimida” e, sob essa bandeira, a esquerda convencional, produziu agrupamentos patrióticos esquecendo-se da singela lição de que “o proletariado não tem pátria”.
            Essa distorção fez surgir  uma esquerda acentuadamente direitosa. Depois da queda do Muro de Berlim, ela que se apoiava no fraudulento discurso da existência de dois mundos, o mundo capitalista e o mundo socialista, convivendo pacificamente, ficou sem discurso. A partir daí, ela mergulhou totalmente no rumo da capitulação e aderiu aos truques semânticos patrocinados pela burguesia.
Não fala mais, a esquerda direitosa, em burguesia, prefere vociferar contra as elites, que é um vocábulo politicamente impreciso. Ao invés de capitalismo que expressa o conceito de um sistema de classes, prefere, até com certo pedantismo, falar em capital, que é apenas parte desse sistema e, portanto, insuficientemente claro aos olhos e ouvidos dos trabalhadores. Outra expressão sofisticada, longe do alcance dos trabalhadores é contra-hegemonia, que objetiva dizer, contra o poder da “elite”.
Para maior pesar, essa esquerda procura se abastecer no velho discurso burguês dos iluministas do século XVIII, lançando mão da expressão “república” e mais abusivamente ainda, lançando mão da palavra “cidadania”, como forma de diluir o caráter de classe da sociedade. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A CARA FEIA DA MENTIRA




            Vai encarar?
            Alguns dizem que somos os donos da verdade. Isso é um horror. Não somos donos dela e nem sequer seus sócios majoritários. Muito longe disso!
            De qualquer forma seria importante que os nossos oponentes deixassem de lado a maldade e parassem de espalhar ideias horríveis no seio do povo trabalhador. Lembremos que, para destruir uma mentira bastou que fosse provado ser verdade que a Terra era redonda e não quadrada, semelhante a uma mesa, como diziam os desinformados.
            Foi necessário, para os que interessam construir o IMPÉRIO DA MENTIRA, dizer que sempre existiram ricos e pobre, e isso é uma mentira muito grande. Eles construíram o Império da Mentira com muita rapidez para que desse sustentação à desigualdade. Parece brincadeira, mas é o contrário, a verdade é que tem pernas curtas e a mentira tem pernas longas e fortes, pois é desse império que vem a sustentação do mundo da desigualdade, que tem reinado nesses milênios.
            Quem sustenta o IMPÉRIO DA MENTIRA? As lendas, as fantasias, as crendices, as bravatas que repetimos sem pensar. Mentimos de peito estufado, como se estivéssemos falando a verdade.
            A pobreza, a miséria e a desgraça social, têm dois firmes pilares: a mentira de um lado e a lei do chicote do outro. São esses eles que mantém o império da crueldade.
            A enganação aparece logo quando nossa família nos ensina: olha, papai do céu briga! Papai do céu sabe tudo, inclusive o que você possa estar fazendo às escondidas! Dos castigos de Deus ninguém escapa, pois ele está sempre pronto e vigilante.
            Quando a mentira fraqueja, vem o braço do chicote. É a “Lei de Chico de Brito” que mantém bandidos pobres na cadeia e bandidos ricos bem longe delas. Não defendemos a bandidagem. É preciso estar ao lado da verdade e para isso temos de enfrentar a figura do cão.
            Temos assim, dois gigantes invisíveis que dirigem nossas vidas. Eles são mentirosos, mas nós não enxergamos e até temos medo de enxergá-los. O único caminho é afugentar a mentira e o chicote pregando a verdade e só poderemos ser felizes.  

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

DEPOIS DO FIM DO MUNDO




Em sentido figurado, podemos afirmar que o fim do marxismo foi anunciado tantas vezes, quantas vezes foi o fim do mundo pelos apocalípticos. O primeiro anúncio do fim do marxismo partiu de certo senhor de nome Eugênio Duhring. A Engels foi dada a tarefa de responder a esse senhor, e daí nasceu um dos maiores clássicos da literatura socialista, sob o título de Anti-Duhring, e Duhring desapareceu de cena.
Outro momento de comoção foi o advento do imperialismo como decorrência do desenvolvimento do capitalismo que trouxe algumas mudanças de natureza quantitativa. Sociedades de capital aberto, diminuição da fome na Europa Ocidental e o crescimento da atividade parlamentar, foram essas novidades que provocaram certa confusão.
Eduardo Bernstein anunciou que o marxismo teria que ser revisado, pois fora concebido em outra fase do capitalismo, quando não se conhecia esses novos fenômenos. Ainda bem que ele mereceu pronta resposta, dentre outros, da genial Rosa Luxemburgo.
Disse ela: as sociedades de capital aberto não significam a democratização do capital em oposição à concentração deste, como houvera anunciado Marx. Essas sociedades serviam e servem para que o grande capital se aposse das poupanças feitas pelas massas populares, na vã ilusão de se tornarem, também, capitalistas. Quanto à tese do Sr. Bernstein de que a miséria crescente, anunciada por Marx, como característica do capitalismo, havia diminuído, Rosa mostrou que ela havia apenas sido transferida geograficamente. Quanto à via eleitoral, como meio para impor a superação do capitalismo, esse senhor demonstrava não entender a diferença entre governo e poder.
Noutro momento, o marxismo foi descaracterizado com a imposição do “marxismo-leninismo” que substituiu os princípios do socialismo cientifico por um conjunto de dogmas. Na verdade, quem mais andou perto de impor o fim do marxismo, foram os 90 anos de hegemonia do stalinismo, e aí estamos certos de que o fim do socialismo, sua derrota completa, será, inevitavelmente, o fim do mundo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Papai Noel existe




É claro que o “bom” velhinho existe para as crianças ricas, crianças da classe média e filhos de poucos assalariados. Para a multidão de pobres e miseráveis o Papai Noel não passa de um velhinho cruel que povoa o imaginário dessas crianças. Porém tudo termina numa tremenda frustração. Só temos que lamentar. O capitalismo é assim mesmo, bom para uns poucos e razoável para um punhadinho de aquinhoados. Para o resto da população, para o povão o máximo que ele pode reservar é o menos ruim. Transporte menos ruim, moradia menos ruim, escola menos ruim, hospital menos ruim, salário menos ruim...O bom mesmo fica restrito, como já dissemos, à burguesia e setores da classe média. Por outro lado, Papel Noel existe sim, não só como fantasia e sim como um grande vendedor que trás lucros para os comerciantes de plantão.


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

QUEREM NOS FERRAR...



            Acabo de ler uma mensagem de um certo companheiro para outro, dizendo: “abra os olhos, a direita quer nos ferrar.” Ficamos perguntando, mas qual direita? Talvez esse companheiro, amedrontado com o fantasma de uma certa direita, não leve em consideração que direita é um termo que deveria ser aplicado aos que defendem a manutenção do capitalismo a qualquer custo. Por sua vez, se haveria de pensar que a esquerda estaria representada pelos que se opõem, de forma clara e objetiva, ao capitalismo.
            Porém, não é isso o que acontece com a esquerda nitidamente direitosa representada pelo PT, PCdoB, PSB. Essa esquerda direitosa não passa de direita e o que se conclui é uma titânica luta entre uma direita explícita e outra travestida de esquerda.
            Existe um adágio popular que afirma ser, o falso amigo o pior inimigo. Na verdade, o falso amigo sob a roupagem do “marxismo-leninismo-trotskismo” foi e é responsável pela manutenção do sistema capitalista. Dessa maneira era preciso dizer: cuidado, a direita moderada e a extrema direita tem ambas um bem sucedido propósito: “o de manter o sistema capitalista de pé a qualquer custo, mesmo que isso implique na destruição da vida, na tragédia total.”
            Observava-se uma imperiosa necessidade de se rever conceitos e sustar tantos equívocos, sob pena de caminharmos, irreversivelmente, para a tragédia que celeremente o capitalismo nos arrasta. Assim sendo, não será essa esquerda direitosa que nos há de evitar a consumação da tragédia. Não.  Não é essa esquerda direitosa, linha auxiliar de sustentação desse sistema exaurido que haverá de nos permitir conquistar uma nova sociedade calcada na igualdade e na justiça. Para se ter, entretanto, essa esquerda anticapitalista, precisamos resgatar a verdadeira literatura socialista, distorcida pelo stalinismo através da Academia de Ciências da URSS. Ao invés de aceitarmos a distorção que nos leva a crer que a vida política gira em torno da contradição, nação opressora versus nação oprimida, estabeleça-se o principio de que a vida política gira em torno da contradição capital versus trabalho.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

ELES NÃO FALAM




          Dentre os partidos que se reivindicam “marxistas-leninistas” ou mesmo “marxistas-leninistas-trotskistas” é costumeiro ouvirmos que a nossa participação no processo eleitoral, deve-se ao fato de podermos denunciar o capitalismo. A triste realidade é que essa denúncia não se observa. Diante dos problemas sociais, que vão da natalidade, à saúde, à segurança , ao desemprego, ao uso das drogas...  O que vemos e ouvimos são tagarelices, tanto dos partidos da direita explícita, quanto dos partidos que se autoproclamam de esquerda.
        Explorando a desinformação reinante no seio do povo, esses senhores limitam-se a tratar as questões sociais, unicamente, pelo prisma administrativo. Diante do problema da saúde, propõem a construção de um, dois, três mil hospitais; o mesmo raciocínio dá-se no quesito educação quando ouvimos com insistência a proposta de construção de escolas em tempo integral e outras conversas. A violência crescente tem sido tratada da mesma maneira, sugerem-se penitenciárias, delegacias e o aumento do efetivo policial.
        Em outras palavras, quão é lastimável vermos e ouvirmos essas campanhas eleitorais sem que nelas sejam denunciadas as causas que movem as inúmeras e incontáveis desgraças sociais. Eles não ousam dizer que a solução está na desconstrução do capitalismo. Agem como se não houvesse classes e camadas sociais distintas, como se não houvesse tantas e quantas desigualdades.
      Assim sendo, ao invés de aproveitar os processos eleitorais para uma denúncia consistente do capitalismo como causa de tantas iniquidades, procuram-se outros caminhos, procuram-se outros rodeios de forma que tais atalhos, deixem intocáveis o capitalismo. E isso é, como já dissemos, extremamente penoso, na medida em que se foge da verdade para acalentar a massa do povo com promessas, lendas e mentiras e, dessa forma, assegurar a manutenção do capitalismo ao invés de tentar construir uma cultura política de natureza anticapitalista como se faz necessário.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

CONLUIO



            Para nós, não é novidade os expedientes usados pela burguesia para usufruir lucros enganando o povo. O período eleitoral é farto nas promessas vãs. Em Fortaleza, a prefeita Luizianne Lins do PT, soube se entender muito bem com fornecedores e empreiteiros junto à Prefeitura.
            Tanto é assim, que durante os seus anos de mandato sempre foi bem agraciada na coleta de recursos para as campanhas eleitorais. Uma das bandeiras da “socialista” Luizianne Lins era a de ter evitado o aumento da tarifa nos transportes coletivos da cidade de Fortaleza. Tratava-se de um acordo entre prefeita e empresários. Ela promovia a diminuição de taxas e impostos para que os empresários pudessem manter os mesmos preços em suas tarifas. Esse jogo terminaria logo depois de passadas as eleições, quando novo acordo seria feito e seria permitido o aumento das taxações. Mas os empresários, diante da derrota eleitoral da prefeita, resolveram entrar na Justiça solicitando um aumento de R$0,25 na passagem e essa solicitação foi atendida com todo apreço que “merecem” os empresários nesse sistema capitalista.
            Sai a “socialista” Luizianne Lins e entra o “socialista” Roberto Claudio e tudo fica a mesma coisa: lucros para os capitalistas e sacrifícios para as massas populares. É em razão desse jogo sujo que eles promovem, que nós denunciamos, o discurso fraudulento que diz ser possível erradicar as desgraças sociais mudando apenas os governos. Refutamos os que dizem existir alternância de poder, no âmbito do capitalismo. Não é verdade que exista esse tipo de alternância. Muda-se de um governo para outro, entretanto, conserva-se o poder na mão dos capitalistas.
            Governos vão e vêm e o capitalismo continua garantindo fartos lucros para a burguesia enquanto tentam enganar o povo com pequenas migalhas. Exemplo patente está nos governos petistas. Dizendo representar os interesses dos trabalhadores, o ex-metalúrgico Lula da Silva, empenhou-se em garantir os interesses da burguesia e assegurar a paz social necessária a esse sistema cuja característica é a busca do lucro, a qualquer custo, para um punhado de pessoas, enquanto a imensa maioria é levada ao permanente sacrifício. Mais uma vez o povo foi vítima de uma fraude e isso tem que parar.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Mutretas e picaretas




            Quando Inácio Lula da Silva, o metalúrgico, dirigia o Partido dos Trabalhadores, cuja marca era a de que seria um partido diferente, que praticaria também uma nova política, fiel à máxima do capitalismo de que o sistema é bom desde que bem gerenciado, o nosso metalúrgico cunhou o slogan: “o modo PT de governar”. Esse modo haveria de tornar o capitalismo justo e palatável ao gosto de todas as classes e camadas sociais. Estaria feito, então, o grande milagre social.
Não bastasse esse discurso, Lula se ocupava em expor as mazelas do capitalismo, atribuindo-as à mazelas de governos, dizia ele: “o que falta é vergonha na cara”. A cada desacerto, falcatrua, irregularidade o nosso metalúrgico berrava a todos pulmões: “são maracutaias, negócios desonestos, praticados contra o povo”. Não se contendo diante de tantos malfazejos, denunciou com toda veemência: “no Congresso existem mais de trezentos picaretas”. Ora, logo que Lula chegou ao governo, ao invés de cessarem, proliferaram as tão denunciadas maracutaias. Foi o tão escandaloso mensalão, prática desonesta e obscena, capitaneado pelo chefe petista da quadrilha, José Dirceu, e formada por tantos outros delinquentes. Diante do escândalo, Lula teve o desplante de vir a público dizer: “Isso se chama caixa dois, e todos os partidos praticam”. Mas o PT não seria um partido diferente? Isso pouco importa, e se sucederam as maracutaias: Valdomiro, na Casa Civil, “sanguessugas”, no Ministério da Saúde, a palhaçada dos aloprados, novo escândalo na casa Civil, com Erenice, invasão de sigilo fiscal e por último o escândalo do “Porto Seguro”.
            Quanto aos picaretas, Lula se deu muito bem com eles. Tornou-se notória sua aproximação com figuras como: José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Romero Jucá e outros tantos mestres da picaretagem. Com eles, Lula soube muito bem se entender e trocar valorosos favores às expensas dos interesses maiores da população. Correram livres as mutretas e “nunca antes na história desse país” os picaretas entenderam-se tão bem.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Alternância no Poder?




            A burguesia domina o mundo através da mentira política. Dentre elas, está essa história de que na democracia deles, na democracia burguesa, existe alternância de poder. Já dissemos que o poder não é rotativo, o que é rotativo são os governos. Eles representam propostas de políticas econômicas. O poder representa a própria economia, o que no nosso caso é a economia capitalista.
            Mas uma pergunta torna-se por demais pertinente: onde estão os cientistas políticos daqui e dali que não denunciam essa grotesca fraude? Onde estão os “marxistas-leninistas” que não protestam contra esses embustes da esperta e cavilosa burguesia?
            Temos dito que as tão mitificadas universidades, no sistema capitalista, têm dois objetivos precípuos. O primeiro deles é formar técnicos e cientistas que deverão prestar serviço aos negócios do sistema. Lembremos que o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki, não teria sido possível, não fosse o empenho e a eficácia de técnicos e cientistas, bem remunerados. O segundo objetivo das universidades, é formar ideólogos para bem servirem as classes ora dominantes, defendendo conceitualmente a ordem por eles estabelecida.
            A burguesia, repetimos, ampara-se no império da mentira. Algumas delas, têm raízes milenares. Outras são mentiras modernas. Existem aquelas produzidas pela festejada Revolução Francesa que ainda hoje povoam a cabeça dos chamados políticos progressistas e de seus inúmeros bacharéis, mestres, doutores e pós-doutores. Dessas mentiras modernas destaca-se uma verdadeira pérola, o famoso “Estado de Direito”. Ora, no capitalismo, o estado é o guardião da ordem burguesa, da exploração do homem pelo homem, e assim sendo, não passa de um estado de direita. Eles separam o estado em duas categorias: o estado de exceção chamado de ditadura e o Estado de Direito chamado democracia e isso é, do ponto de vista da essência, um caviloso e falso jogo de conceito que fazem a cabeça da maioria dos intelectuais, inclusive os ditos “marxistas-leninistas”.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A lição de casa




            Essa expressão, fazer a lição de casa, corresponde dizer: cumprir com as obrigações que nos são impostas por diversas vias, circunstâncias e conveniências.
A burguesia, enquanto classe social, fez e faz, competentemente, a lição de casa. No primeiro momento histórico, ela buscou abrir caminhos para o seu fortalecimento e logo que fortalecida, através do capitalismo mercantilista, soube estabelecer uma aliança histórica em torno da implantação do absolutismo, condição básica para o seu maior crescimento. Soube, ainda naquele momento, patrocinar as grandes navegações e, através delas, de certa forma conquistar o “Novo Mundo” e estabelecer contato com o Oriente.
Enriquecida, após muitos anos de atividade comercial e pelo incremento das manufaturas, a burguesia tratou de conquistar novos patamares e galgar melhores posições econômicas, sociais e políticas.
De forma brilhante, através dos seus intelectuais, conseguiu conceber um projeto de nova sociedade tão bem, doutrinariamente, desenvolvido pelos “iluministas”. Construídas as linhas mestra de um projeto econômico e social de acordo com seus interesses, a burguesia ocupou-se em conspirar contra a velha ordem feudal e buscou implementar insurreições que lhe levassem ao poder político. Conquistado o poder, tratou de levar a cabo duas grandes tarefas concomitantes: primeiro, consolidar esse poder; segundo, tornar universal a nova ordem econômica, política e social, a ordem capitalista, tomando-se a Revolução Francesa como referência. O comportamento inglês foi completamente diferente no quesito “universalizar o capitalismo”. Os ingleses foram ferrenhos e ativos inimigos da revolução burguesa na França.
É oportuno esclarecer que a caminhada evolutiva do capitalismo não se deu de forma retilínea e antecipadamente planejada. Não! Na medida em que as questões eram postas, a burguesia procurou responder satisfatoriamente aos seus interesses imediatos e históricos.
No exemplo francês não houve um planejamento político, mas a elaboração antecipada de um bem delineado projeto de uma nova ordem. Esse projeto, construído pelos já citados iluministas, somado a outros fatores, deu à Revolução Francesa a oportunidade de se tornar a revolução clássica burguesa.
Voltemos, porém, à nossa abordagem que, mesmo procurando ser didática, não pretende atropelar a complexa realidade histórica, presumindo existir uma linha reta sem os devidos percalços. Isso, jamais! A simplificação de que lançamos mão, tem o objetivo único de estabelecer uma linha de raciocínio que nos enseje entender o transcurso evolutivo da história, livres das idas e vindas, dos ziguezagues e dos múltiplos acidentes e dramas.
Quando a burguesia chegou ao seu estágio superior de desenvolvimento, com o imperialismo, ela teve que enfrentar dois grandes problemas que lhes eram inerentes: tinha que enfrentar as suas profundas contradições fazendo uso, em última instância, do confronto bélico, tanto na Primeira como na Segunda Grande Guerra Mundial, para resolver, suas pendências, mesmo com altos custos sociais. Outra tarefa vital para a burguesia na sua fase imperialista, era derrotar o movimento socialista que propunha um novo projeto de sociedade e a consequente desconstrução do capitalismo. Dessa segunda tarefa, ela se desincumbiu impondo ao movimento socialista sua completa descaracterização, levando-o ao social-patriotismo que ainda hoje perdura com muita força.
Após essa espetacular derrota do movimento socialista, em 1912/13, veio um segundo momento de confronto que vai de 1917 a 1923, quando uma nova leva revolucionária se levanta e, mais uma vez, a burguesia lança mão de sua sagacidade política no manejo dos meios que dispunha e consegue impor uma nova derrota ao socialismo em dramáticos embates quando estava em jogo o destino imediato da proposta revolucionária, particularmente o destino da URSS. Dessa segunda derrota brotou um fenômeno histórico de gravíssimas consequências: o stalinismo.
É necessário ressaltar que fortes elementos causadores dessa nova derrota têm suas raízes em 1912/13 quando vicejou no seio da esquerda social-democrata, o social-patriotismo, que desarmou politicamente a classe trabalhadora tornando-a presa fácil da contra-revolução.
O socialismo, enquanto projeto de nova sociedade, foi engessado pelo stalinismo transformando a sua ciência em um amontoado de dogmas e os chamados partidos comunistas em organizações de caráter social-patriota. Por sua vez, a comunhão de interesses entre o imperialismo, capitaneado pela burguesia, e a burocracia stalinista em evitar, a qualquer custo, o avanço da revolução mundial, levou o movimento socialista a uma situação de derrota quase absoluta e, consequentemente, permitiu que a burguesia desfrutasse nos dias de hoje, um momento de inimaginável hegemonia.
            Vejamos a grande ironia da história, tão pródiga no seu mister. A burguesia foi revolucionária nos seus primórdios, logo, progressista. Quando atingiu a fase imperialista, ela iniciou o seu processo de crescente exaustão. Antes, tinha uma proposta e um discurso que interessavam a maioria da humanidade; hoje, ela não dispõe de nenhum discurso que possa lançar esperança de solução a problemas graves como: a miséria crescente, a violência, a destruição da natureza e tantos outros, decorrentes de sua própria existência.
Enquanto isso, o socialismo detém como bandeira a única proposta capaz de levar reais esperanças ao conjunto da humanidade. Isso é deveras irônico: uma classe social como a burguesia, exaurida e sem discurso, é politicamente hegemônica. Enquanto isso, a esquerda verdadeiramente socialista, está confinada em pequenos guetos e quando ousa levantar a cabeça é perseguida pelos diversos herdeiros de Stalin e pelas forças da burguesia.
A resposta para essa intrigante questão está no fato de que os noventa anos de dominação stalinista e a aliança estabelecida por ela com o imperialismo para sustar qualquer possibilidade de vitória da revolução mundial, levantou barreiras quase intransponíveis à causa socialista.
A chamada esquerda “marxista-leninista” transformou-se em legiões de militantes presos aos dogmas e substituindo o princípio da luta de classes pelo obsceno “princípio” de nações opressoras versus nações oprimidas, dando respaldo ao tão nefasto nacionalismo que contaminou gravemente essas legiões. O subproduto desse desvio político/ideológico é o obtuso antiamericanismo, que ultrapassa às raias do absurdo, quando vê, com mal dissimulada simpatia, o teocrático fascismo iraniano, pelo simples fato dele, assim como a Síria e o Bin Laden, terem posições anti-americanas, esquecendo o fato de que ser anti-americano não implica em se ser anticapitalista, posição essa indispensável aos que pretendem a emancipação humana.
Ora, a barreira imposta pelo conluio imperialismo/stalinismo que nos reduziu a tão brutal situação de indigência teórica, quando os dogmas substituíram os princípios e os militantes tornaram-se beatos acríticos, só pode ser removida caso estejamos dispostos a promover um profundo trabalho de auto-crítica, cortando na própria carne.
Essa tarefa, porém, requer um grau de coragem muito maior do que foi demonstrado por muitos militantes de esquerda, mundo a fora, diante dos cárceres, das torturas, da clandestinidade ou do exílio. A tarefa de demover a barreira que nos foi imposta implica em dispormos a nos desfazer de deuses, mitos e dogmas, construídos para inibir qualquer iniciativa ou posição que possam ser consideradas heréticas, pois prevalecia e prevalece, nos mais diversos grupos de viés stalinista, o catecismo inconteste e isso tem que ser superado.
Vale refletir sobre o fato de que a burguesia, como já dissemos, cumpriu e cumpre o seu papel histórico. Hoje, esse papel é o de preservar a nau capitalista flutuando, mesmo seriamente avariada, evitando o seu naufrágio. Para os reais marxistas fica claro que se trata de uma tarefa impossível a eternização do sistema sócio econômico vigente. Não é de bom alvitre, porém, que o capitalismo sucumba, arrastando consigo a própria humanidade. Queremos o fim do capitalismo, sim, mas ele só nos interessa na medida em que seja sucedido pelo socialismo e nunca pela tragédia total.
            Por seu turno, estamos convencidos de que a tarefa, a lição de casa, da esquerda socialista, seria impor reais derrotas à burguesia. No entanto, cabe perguntar: Foi isso o que aconteceu na Espanha, em 1936? Na Alemanha, diante da ascensão do nazismo hitlerista? No Brasil, quando do golpe em 1964? No Chile de Allende, em 1973? Na Indonésia de Sukarno, em 1965? Na China de Mao, que se tornou, desde priscas eras, num estado policial, para depois desembocar no capitalismo de estado? É justo que vivamos de migalhas, confundindo restritas vitórias eleitorais, que em nada ameaçam o capitalismo, como se elas representassem pungentes avanços? E o que dizer da gloriosa e heróica, “Guerra de Libertação Nacional” vietnamita, onde hoje se exibe, em suas avenidas e estradas, propagandas de empresas imperialistas, enquanto exporta para a China mão de obra barata? Por fim, cabe indagar: a esquerda, por sua esmagadora maioria, fez ou faz a sua lição de casa?
Esses e tantos outros episódios que formariam uma lista quase infinda, demonstram que a história do socialismo representou uma sucessão de derrotas políticas  e ao invés de se procurar delas tirar os necessários ensinamentos, preferiu-se e prefere-se o caminho irresponsável e desvairado do triunfalismo totalmente infundado.
Os equívocos políticos, em suas mais diversas versões: o maoísmo, o fidelismo, o kruschevismo e mesmo o extravagante nazi-fascismo, expressão exacerbada da contra-revolução, produziram e produzem grandes legiões de beatos, abnegados, heróis e mártires. Esse fato não faz com que os equívocos deixem de sê-los e por conta da qualidade moral dos seus devotados militantes devam ser tratados com generosidade, aquiescência.
É oportuno e necessário esclarecer que reconhecer as sucessivas derrotas do movimento socialista, não implica em se ser derrotista. Implica em assumi-las e buscar situar as suas verdadeiras causas, evitando suposições infundadas, do tipo “revolução traída”, “revolução desfigurada”, no caso da URSS. Tratando-se do Brasil, diante do golpe de 1964, devemos repelir a tese de que: “o golpe nasceu em Washington”. Isso corresponde dizer, com certo acento nacionalista, ter sido a causa da nossa derrota naquele momento o comportamento reprovável do inimigo que “rasgou a constituição e atropelou a legalidade”. Inimigos não traem, essa deveria ser uma lição elementar. Imputar ao inimigo a causa de nossa derrota é fugir da necessária auto-crítica, é deixar de assumir as nossas responsabilidades.
Expurgar o idealismo filosófico, o triunfalismo, as fantasias, as ilusões, o seguidismo acrítico, a veneração religiosa, os preconceitos, as práticas caluniosas e outras tantas manifestações de rebaixamento político e ideológico é uma tarefa urgentíssima e, só procedendo dessa forma, seremos capazes de romper o círculo de ferro político-ideológico imposto pelo conluio imperialismo/stalinismo.
Pretendemos, como temos feito, apontar o que para nós parece ser a saída. Trata-se de empreender esforços para responder de forma abalizada ao seguinte questionamento que, embora parcialmente respondido, persiste: o que nos cabe fazer? A resposta seria: devemos lutar para construir outra esquerda, disposta a restabelecer a livre discussão, sepultada que foi de forma brutal a partir de 1921, quando, no X Congresso do Partido Comunista da URSS, por proposta de Lênin e Trotsky, que pretendia ser uma medida transitória, foi suprimido o direito de tendência e instituído o monolitismo que se tornou universal por conta do papel assumido pela Terceira Internacional, ao corromper-se, o que ocorreu um pouco depois de sua fundação.
Estamos convencidos de que sem a construção dessa outra esquerda, desfeita de suas marcas direitistas ou direitosas, não será possível sair dessa situação de profunda derrota a que fomos submetidos.
Em outras palavras, diríamos: a construção de outra esquerda calcada nos princípios do socialismo científico, construídos por Marx, Engels, Plekhànov, Lênin, Rosa, Trotsky, Martov, Kautsky, Labriola, Franz Mehring e poucos outros próceres,  é a tarefa que se impõe, e buscar cumpri-la é fazer a lição de casa.
Isso é necessário, caso levemos em consideração o fato de que o socialismo é apenas uma possibilidade e nunca uma fatalidade imposta pelas contradições do capitalismo tão aguçadas presentemente.
O socialismo, para se impor como saída para o nosso impasse histórico, precisa ter força para fazê-lo e, assim, fica evidente a necessidade de apressar os passos uma vez que estamos diante da célere marcha do sistema vigente para o colapso.
Os fatos conflituosos da nossa realidade global estão continuamente em marcha, pouco importando se despertarmos ou não, em tempo, historicamente hábil, para intervir evitando a grande tragédia, qual seja: a destruição da vida. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A INSURREIÇÃO ESTÁ VIVA!




            Recorremos aos fatos ultimamente ocorridos nos países árabes, para refutar o argumento de figuras “marxistas-leninistas” que não têm a necessária clareza dos fatos e nos dizem: a época das insurreições passou, hoje apresenta-se para nós o caminho das vitórias institucionais para que, a partir delas, atinjamos os objetivos socialistas.
            Trata-se de uma infeliz ilusão no caminho constitucionalista para o socialismo. Dão como exemplo o coronel Hugo Chávez na Venezuela, figura raivosa diante do imperialismo ianque, mas que desconhece o imperialismo como produto do desenvolvimento capitalista, estando, portanto, presente em todos os recantos e nunca confinado nos limites de um único país, embora observemos o papel de polícia que exerce o chamado Império do Norte.  Por sua vez, ressaltam o “avanço” do socialismo constitucional através dos processos na Bolívia, no Equador, no Paraguai e assim por diante.
            Não refletem esses senhores “marxista-leninistas” que o socialismo insurrecional que desmantelou, por completo, os estados burgueses, em alguns países, terminou por ser derrotado em decorrência do fato principal dessas insurreições terem acontecido na periferia do capitalismo.
            As insurreições árabes, o rápido movimento de rebeldia na Inglaterra, os sinais de insubmissão na França, na Grécia, na Espanha, demonstram, de forma cabal, que o caminho da insurreição não ficou no passado, considerando ser a insurreição um movimento em busca da ruptura. Quando os insurretos estão desarmados de um projeto de transformação, essas insurreições confundem-se com meras rebeliões e terminam por se circunscrever no âmbito da política burguesa, empalmando a bandeira das liberdades democráticas e das reformas sociais, no âmbito do próprio sistema. Os exemplos dados desmentem totalmente a tese de que insurreição é coisa do passado. Por sua vez, a realidade mostra a total inviabilidade de um socialismo constitucional, calcado nas regras jurídicas do próprio capitalismo, como soe acontecer nos exemplos dados.