A nossa
cultura judaico-cristã nos leva a processar uma lógica binária. Deus ou diabo;
o bem ou mal, são os parâmetros que servem de guia às nossas considerações
diante dos fatos da vida real. Há sempre um esforço para nos manter diante de
dilemas. Na política atual brasileira, há uma tentativa de nos impor uma falsa
dicotomia: nacional desenvolvimentismo versus neoliberalismo. Colocam-nos esse dilema
levando-nos a crer que não temos outra saída, se não nos alinharmos a uma
dessas duas correntes, sem que seja dito, que ambas estão contidas nos limites
da ordem capitalista.
Numa manobra
de clara intenção em fazer uma chantagem, é afirmado que assumir a defesa das
políticas neoliberais representa uma posição de direita. Enquanto isso, aqueles
que se colocam em defesa do nacional desenvolvimentismo seria a esquerda.
Pode-se até considerar que uma política neoliberal torne mais cruel a
exploração capitalista, entretanto, não devemos nos ater à questão de mais ou
menos cruéis, é nosso dever fugir dessa imposição, dessa falsa dicotomia, que
procuram nos impingir. Devemos, sim, ao invés de fazer uma campanha de repúdio
apenas ao neoliberalismo, nos empenharmos em impopularizar o capitalismo.
É necessário
criar uma consciência anticapitalista, pois é nesse sistema que está o nó górdio
da questão. As mazelas sociais que nos afligem, como a violência, as favelas, a
prostituição, as drogas e tantas outras, não serão banidas pela hegemonia de
uma ou de outra corrente política no âmbito do capitalismo, seja ela neoliberal
ou o nacional desenvolvimentista. As mazelas sociais só poderão ser superadas,
através da desconstrução do capitalismo. Refutemos pois, essa tentativa de querer
nos colocar uma camisa de força, que nos leve a escolher entre tucanalhas versus petralhas.
É oportuno
lembrar, do princípio basilar, de que a sociedade capitalista tem no seu seio
duas classes sociais distintas e antagônicas: a classe burguesa que monopoliza
os meio de produção e a partir daí explora as classes trabalhadoras que só
dispõem de sua força de trabalho e são obrigadas a vendê-la a troco de
salários. Aí sim, está o âmago da questão, e esse fato nos faz levantar bem
alto a bandeira do socialismo, pois se um dilema existe, ele se prende ao fato
de estarmos diante de um impasse: socialismo ou a tragédia total.