É isso mesmo. Tudo no
capitalismo é dividido entre pobres e ricos. Fui surpreendido com o falecimento
de um amigo. Morte súbita. Por se tratar de alguém da chamada classe média
alta, a missa de sétimo dia, foi marcada para uma igreja, de um bairro nobre.
Confesso que fiquei tocado pela suntuosidade daquela “casa de Jesus”. Ambiente
climatizado, bancos acolchoados, cânticos provindos de belas vozes,
instrumentistas qualificados... Tudo isso compunha um conjunto em que
ressaltava o luxo.
Com certeza não encontraria
nos bairros da periferia uma “casa de Jesus” tão confortável e bonita. Ficou
bastante evidente que, também em “Jesus”, existem as diferenças de classe. Há
um Jesus dos ricos e outro dos pobres. E como tudo que é dos ricos é melhor e
mais eficaz, ponho-me a pensar: será que o Jesus dos ricos é mais eficiente
para nos acudir em nossas desditas? Será que esse Jesus, tão bem incensado, não
tem olhares cúmplices com os abonados?
A cultura cristã tenta nos impingir
que os pobres merecem a compaixão dos deuses. Entretanto há uma certa lógica muito
intrigante. Uma das condições para que se possa conquistar o “reino do céu”,
diz respeito à necessidade de sermos bons. Mas os atos de bondade, sempre
apresentados, são aqueles em que alguém concede a um pobre ou miserável, uma
dádiva. Assim sendo, quem tem mais oportunidade de praticar atos caridosos, são
os aquinhoados. Por sinal, são inúmeros os casos em que pessoas ricas, até
nobres, por seus atos de bondade, mereceram, não somente o reino do céu, como a
conquista da sua santificação.
Não se tem notícia de que algum
miserável, desses seres paupérrimos, tenha conseguido torna-se santo. Enquanto
rainhas, reis e outros nobres, foram premiados com a salvação eterna e com a
conquista de posições elevadas na hierarquia celestial, pois tiveram seus
pecados redimidos, por via dos seus atos de bondade, sempre associados à doação
cristã aos desfavorecidos e isso nos leva a concluir que, sem os pobres e
miseráveis, o caminho do céu seria inviável para os “bons”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário