sexta-feira, 24 de maio de 2013

Jesus dos ricos




É isso mesmo. Tudo no capitalismo é dividido entre pobres e ricos. Fui surpreendido com o falecimento de um amigo. Morte súbita. Por se tratar de alguém da chamada classe média alta, a missa de sétimo dia, foi marcada para uma igreja, de um bairro nobre. Confesso que fiquei tocado pela suntuosidade daquela “casa de Jesus”. Ambiente climatizado, bancos acolchoados, cânticos provindos de belas vozes, instrumentistas qualificados... Tudo isso compunha um conjunto em que ressaltava o luxo.
Com certeza não encontraria nos bairros da periferia uma “casa de Jesus” tão confortável e bonita. Ficou bastante evidente que, também em “Jesus”, existem as diferenças de classe. Há um Jesus dos ricos e outro dos pobres. E como tudo que é dos ricos é melhor e mais eficaz, ponho-me a pensar: será que o Jesus dos ricos é mais eficiente para nos acudir em nossas desditas? Será que esse Jesus, tão bem incensado, não tem olhares cúmplices com os abonados?
A cultura cristã tenta nos impingir que os pobres merecem a compaixão dos deuses. Entretanto há uma certa lógica muito intrigante. Uma das condições para que se possa conquistar o “reino do céu”, diz respeito à necessidade de sermos bons. Mas os atos de bondade, sempre apresentados, são aqueles em que alguém concede a um pobre ou miserável, uma dádiva. Assim sendo, quem tem mais oportunidade de praticar atos caridosos, são os aquinhoados. Por sinal, são inúmeros os casos em que pessoas ricas, até nobres, por seus atos de bondade, mereceram, não somente o reino do céu, como a conquista da sua santificação.
Não se tem notícia de que algum miserável, desses seres paupérrimos, tenha conseguido torna-se santo. Enquanto rainhas, reis e outros nobres, foram premiados com a salvação eterna e com a conquista de posições elevadas na hierarquia celestial, pois tiveram seus pecados redimidos, por via dos seus atos de bondade, sempre associados à doação cristã aos desfavorecidos e isso nos leva a concluir que, sem os pobres e miseráveis, o caminho do céu seria inviável para os “bons”.

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