sexta-feira, 29 de abril de 2011

Modelo? Que modelo?


Há cerca de oitenta anos a esquerda convencional, de matriz stalinista, abdicou da bandeira anticapitalista para aderir ao velho social-patriotismo da Segunda Internacional degenerada. Com a burocratização da Revolução Russa, os interesses do Estado Soviético passaram a sobrepujar os interesses da Revolução Socialista. Nos países mais desenvolvidos a esquerda convencional passou a defender a política de co-gestão do sistema capitalista através das famosas Frentes Populares, coligações eleitorais que reuniam partidos pretensamente de esquerda com setores de uma dita burguesia progressista.

Nos países retardatários, a esquerda convencional assumiu uma política nacional-reformista cujo esteio era a luta patriótica pela soberania e a consecução de algumas reformas que possibilitariam, num momento posterior e indefinido, que se chegasse a uma segunda etapa, a etapa da Revolução Socialista.

Assim, por longos anos, deixou-se de lado o anticapitalismo para centrar as energias contra o “inimigo comum” ao proletariado e à burguesia, que seria o imperialismo. Num primeiro momento, o imperialismo era representado pelos países centrais do capitalismo. Depois, deu-se um passo atrás no processo de degeneração política e reduziu-se a expressão anti-imperialista aos yanques, supondo-se que eram eles, a causa dos males sociais e não o capitalismo.

Posteriormente, a esquerda convencional passou a denunciar um capitalismo selvagem, pretendendo que houvesse um modelo civilizado de capitalismo. Por fim, chegou a era do neo-liberalismo. Tratava-se do modelo mais cruel de espoliação e isso motivou uma campanha exacerbada contra esse modelo. Essa campanha deixava distante a necessária denúncia do capitalismo e passava-se a reivindicar outro modelo, que fosse menos cruel, e promovesse um pretenso desenvolvimento sustentável nos marcos do próprio sistema. Mas a questão não é trocar um modelo por outro. A questão é centrar a luta contra o capitalismo, independente do modelo que ele se apresente.

terça-feira, 26 de abril de 2011

ALMAS LAVADAS

Após a Páscoa, inúmeras igrejas e seitas cristãs, depois de cumprirem contritamente os preceitos religiosos sentem-se de almas lavadas, de bem com o “Reino Eterno”. Parte deles, obedecendo ao seu credo, procurou fazer piedosamente um rigoroso jejum como parcela de sacrifício, tendo em vista o bem eterno. Pouquíssimos pararam para refletir que, bilhões de seres humanos tiveram que cumprir, compulsoriamente, um rigoroso jejum que não se atém apenas aos dias de Páscoa, mas se estende por todos os dias.

Parece até que uma imensa massa de pobres e miseráveis não pertence à categoria de seres humanos. Por inspiração cristã, dispensa-se a uns poucos algumas dádivas, seja na forma de uma parca refeição ou de outras iniciativas que mitigam as dores desse punhado de escolhidos. Provavelmente, não brotará dentre esses miseráveis nenhuma figura santa. Até achamos que caso se fizesse um levantamento dos santos da corte celestial, haveríamos de encontrar homens e mulheres, ricos ou aquinhoados, que souberam comprar com a sua bondade um lugar de proeminência no reino do céu.

Inúmeros são os afortunados que obtiveram a condição de santos. Uma pergunta, entretanto, nos invade o pensamento: Terá havido um só exemplo de homem ou mulher atirados às agruras da miséria, que tenham podido se erguer aos céus na condição de santos? A realidade indica que isso é improvável. Ser bom, ser caridoso é, em primeiro lugar, atributo de pessoas ricas. É bem verdade que, aqui ou ali, tenham surgido figuras modestas que se dedicaram à tarefa de pedir dos ricos para servir a uns poucos pobres. Lembramos as louváveis figuras de Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce da Bahia, Zilda Arns de São Paulo, que se sobressaíram por suas obras caridosas, contudo, deixaram o mundo tal como ele é, dividido entre pobres e uns poucos extremamente ricos. Isto é, essas caridosas almas deixaram, em plena vigência, o sistema capitalista que não se cansa de aplaudi-las como almas santas que ingenuamente prestaram serviços à permanência desse cruel sistema.

terça-feira, 19 de abril de 2011

DIFERENÇA SÓ DE ESTILO

De um lado tratemos do prof. Fernando Henrique, ex-presidente da república, quadro extremamente qualificado do sistema capitalista que, num passado não tão longínquo, vestia a fantasia da esquerda direitosa. Em outras palavras, FHC era chamado, assim como alguns tantos outros, de intelectual progressista. Do outro lado a figura de Luis Inácio Lula da Silva, ex-retirante e proeminente líder sindical nos trazia esperança através de sua proposta de organização de um partido dos trabalhadores, que haveria de ter posições realmente avançadas, pois nutria a esperança de que esse partido representasse a proposta de superação do capitalismo e a construção do socialismo.

Não demorou tanto e Lula, o metalúrgico, junto a seus sequazes, chegou à conclusão de que só poderia galgar a presidência da república caso deixasse explícito que o leão era mansinho e desdentado e, portanto, não haveria de causar medo ao sistema socioeconômico em curso. Dando garantias ao capital nacional e internacional de que cumpriria a política econômica e financeira do Plano Real antes refutado, Lula tornou-se um quadro de confiança para a burguesia e no exercício do governo fez jus à confiança que lhe foi depositada. Fazendo uso do populismo, numa manobra bem articulada, conseguiu conservar os princípios do Plano Real. Por baixo custo, comprou o apoio da imensa massa dos desesperados, convertendo-as num fiel colégio eleitoral. Cooptou, através de propinas, as centrais sindicais e estudantis e garantiu tranquilidade e altos lucros à burguesia.

A diferença entre FHC e Lula é de estilo. Devemos, entretanto, deixar claro que tanto um quanto o outro, resguardadas pequenas diferenças, compõem a frente e o verso de uma mesma moeda. Ambos são quadros testados e qualificados nas lides políticas a serviço da manutenção da ordem econômica e social vigente. Assim, FHC não mentiu quando, recentemente, afirmou que a massa dos desfavorecidos havia sido colocada a serviço do PT e que, taticamente, caberia ao PSDB disputar a hegemonia sobre a classe média.



sexta-feira, 15 de abril de 2011

Erradicar a miséria

O vocalista Bono Vox, da Banda U2, esteve com Lula da Silva e esposa. Em conversa trataram de medidas para minimizar a fome no continente africano. Por sua vez, a presidente Dilma tem como proposta a erradicação da miséria aqui no Brasil. É interessante notar-se que as chagas sociais produzidas pelo sistema capitalista sempre encontram pessoas dispostas a eliminá-las. Os exemplos são incontáveis, desde iniciativas individuais, como as da Madre Tereza de Calcutá, mitigando a fome de um punhado de miseráveis indianos, a outros piedosos corações que se abalam com os sofrimentos sociais mundo a fora. Geralmente, essas almas caridosas são muito bem aceitas pelo sistema. Outros existem que chegam a fazer fortuna em decorrências de seus rasgos de bondade, como exemplo a Banda U2 que fatura milhões enquanto promove ações de benemerência. A própria Organização das Nações Unidas – ONU, quartel general do capitalismo mundial, sempre se propõe a socorrer famintos e flagelados, aqui e ali.

Colocar-se contra a miséria, o abandono de menores, a violência, em suas mais diversas formas, o uso crescente das drogas que massacram a juventude, é atitude frequente. A questão é a busca correta para que se tenha sucesso em nossas iniciativas de ver um mundo despido de tantas agruras. Para que tenhamos sucesso, é necessário responder corretamente a esta pergunta: por que o mundo em seu tão avançado estágio de desenvolvimento, capaz de permitir façanhas como a conquista do espaço sideral e tantas outras proezas, permite a existência desses males sociais? Ou seja, qual a causa de tantos sofrimentos que atingem uma parcela de bilhões de seres humanos, sem que seja dada uma resposta correta a essas indagações? Todas as iniciativas em tratar das mazelas sociais mostrar-se-ão infrutíferas enquanto não enxergarmos que elas têm como causa única a sobrevivência desse sistema que responde pelo nome de capitalismo. Lutar realmente contra as mazelas seria lutar contra o capitalismo e nunca praticar encenações honestas ou demagógicas.

terça-feira, 12 de abril de 2011

“Esfregar a cara”

Assistindo a um desses programas policiais onde é costume bravejarem contra “delinquentes pobres”, escutei o seguinte: uma residência de um bairro nobre havia sido pixada por dois menores, e o delegado determinou que eles pintassem a mansão que haviam sujado. O apresentador, fingindo indignação, disse que o castigo era pouco, devia-se esfregar a cara desses delinquentes para lhes servir de lição. Nunca vi nenhum apresentador desses programas sugerir que se esfregasse a cara do Sr. Maluf, diante das roubalheiras por ele impunemente praticadas. Deveríamos esfregar a cara de Jader Barbalho que assaltou o Banco da Amazônia? E o Sr. Romero Jucá, líder dos governos FHC, Lula da Silva e hoje Dilma Rousself, onde se haveria de esfregar-lhe a cara? E o Sarney, que castigo humilhante mereceria pelos tantos roubos praticados? E para a quadrilha do mensalão, chefiada pelo sinistro José Dirceu, haverá castigo? A lista dos ricos que roubam e vivem na impunidade é grande. Enquanto isso, 60% da população carcerária do Brasil é formada pela juventude pobre que tem de 18 a 24 anos de idade. Esses sim, têm suas caras esfregadas e exibidas nos programas policiais, que gozam de grande audiência e servem de trampolim para eleger esses valentes apresentadores a cargos públicos.

Vê-se em tudo isso, o retrato pronto e acabado da hipocrisia que cresce viçosamente sobre o lodo que o sistema capitalista tão abundantemente produz. Faz pouco, um juiz de direito embriagado, quando voltava de uma balada, atropelou e arrastou por 123 metros um pobre motoqueiro. Apesar de embriagado, não foi lavrado o flagrante e ele pagou uma fiança de 900 reais e foi colocado em liberdade. Temos que assinalar que esse senhor tinha os 900 reais disponíveis, o que não aconteceria com grande parte de pobres e miseráveis que venha a cometer um delito que se julgue afiançável. Por sua vez, a titularidade desse senhor concede-lhe uma imunidade que o deixa muito longe do alcance dos braços curtos da justiça, quando se trata de alcançar os delinquentes ricos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Jair Bolsonaro

Na política brasileira ressaltam-se três correntes: a obtusa extrema direita; a direita lúcida que já se certificou de que o “leão era mansinho e desdentado”; e a terceira corrente formada pela esquerda direitosa, ou seja, uma direita travestida de esquerda representada pelos partidos PT, PSB, PCdoB, PDT. Quanto a esquerda revolucionária, ela tem uma presença residual e tropeça em suas heranças marcadas por sérios vícios produzidos pelos longos de hegemonia stalinista.

É neste cenário político que vem a tona mais uma disparate do deputado militar Jair Bolsonaro filho legítimo de uma direita obtusa, quando insulta a artista Preta Gil dizendo que um filho seu não casaria uma negra porque ela não admitia essa promiscuidade que ocorre na família dela. Essa postura mereceu o pronto protesto inclusive direta lúcida, chegando até a propor a cassação do seu mandato por falta de decoro parlamentar.

Vale salientar que não é somente o Jair Bolsonaro a representar uma extrema direita intolerante, preconceituosa e repressiva. Em muitos episódios essa extrema direita carcomida apresenta-se com seus discursos da velha era. Assim foi no caso da nomeação do General José Elito Carvalho para o cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Na sua posse ele manifestou explicitamente o seu desacordo com a proposta de criação da Comissão da Verdade, cujo objetivo é esclarecer os processos e os rumos que levaram centenas de brasileiros constarem na lista de desaparecidos. Pela lógica seria razão suficiente para que este ministro fosse demitido de suas funções, vez que o governo de plantão, capitaneado por uma senhora que sofreu as agruras das torturas nas masmorras da repressão teria força moral para proceder um gesto de justiça praticando essa atitude.

Bolsonaro é parte de um canil de pitbulls disposto a estraçalhar homens, mulheres ou crianças que se atrevam a colocar em risco os interesses maiores do capitalismo e suas atitudes sempre estarão respaldadas no discurso de respeito à ordem constituída.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Enxugar gelo



Existe uma expressão popular, “enxugar gelo”, quando se diz que uma pessoa se empenha em fazer algo impossível. A toda hora, vemos pela grande imprensa, especialmente pela televisão, exemplos de iniciativas com o objetivo, por exemplo, de retirar da rua o menor abandonado, eliminar a prostituição, evitar o uso das drogas e outras iniciativas.

Aqui, é apresentada uma “Banda de lata” em que uma centena de adolescentes está organizada em torno de um conjunto musical, e com essa iniciativa, pretende-se dizer que foi retirado das ruas esse número “significativo” de jovens expostos às garras das drogas. Ali, é apresentada uma comunidade de jovens praticando artesanato e, com isso, garantindo renda e evitando que algumas jovens sejam empurradas, pelas necessidades e outras pressões e terminem se lançando na prostituição. Em outro recanto é apresentado um Grupo de Capoeira e pretende-se que, com essa dança, outros tantos jovens sejam afastados da violência urbana. E assim, poderíamos levantar uma vasta lista de iniciativas positivas, enquanto atitudes de resistência à sanha destruidora do capitalismo.

Porém, o grade pecado reside no fato de que esses e tantos outros projetos, são organizados e levados à prática com o intuito de tornar o capitalismo humanizado, um capitalismo palatável. Mas, não são somente essas incontáveis iniciativas populares que pretendem transformar um capitalismo selvagem em um pretenso capitalismo civilizado. Várias iniciativas, nesse mesmo sentido, ou seja, no sentido de viabilizar o capitalismo, são tomadas pelo governo com inúmeros programas assistenciais e isso não passa de uma fraude política, má fé por parte de alguns, ou uma dose cavalar de ingenuidade, nos que, bem intencionados, buscam o caminho da construção de um mundo onde possa imperar a igualdade, portanto, a paz e a justiça, o que quer dizer um mundo liberto das garras desse sistema.

Essas práticas, além de enganosas, não passam do exercício de enxugar gelo, pois o sistema vigente permanecerá na sua marcha destruidora da vida.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Universidade. Instrumento de transformação?

Desde que surgiu a sociedade dividida em classes, nasceu a instituição escola e ela apresentava duas tarefas fundamentais. A primeira era preparar pessoas aptas para servir ao novo sistema. A segunda, formar ideólogos que defendessem, como justa, a desigualdade. Dessa época até hoje a escola tem tido os mesmos propósitos: formar técnicos, cientistas e ideólogos que sirvam ao sistema dividido em classes sociais.

Portanto, é escandaloso que algumas pessoas ditas “marxistas-leninistas” afirmem que a universidade é um instrumento de transformação. Ela é sim, instrumento da ordem vigente. É das universidades que a burguesia recruta seus cientistas para produzir remédios e proporcionar grandes lucros à indústria farmacêutica e também, técnicos e cientistas para fabricarem armas de guerra, inclusive a bomba atômica que dizimou Hiroshima e Nagasáki. É nelas que a burguesia recruta eruditos que dão sustentação àquilo que chamam de estado de direito, que não passa de uma forma menos dolorosa do que o estado de exceção, chamado de ditadura. É sob o patrocínio generoso da burguesia que cresce o “marxismo legal”. Isso já havia acontecido no começo do século passado, mas foi fortemente repelido pelos verdadeiros marxistas.

É revoltante, assistirmos crescer essa mentira de que a universidade é transformadora. Os autores dessa afirmação não compreendem o que é transformação, ou agem de má fé. A burguesia, consciente dos seus interesses, não poderia nunca praticar um suicídio através de uma de suas instituições, no caso a universidade. Pode-se dizer que no âmbito das universidades existem espaços que podem nos permitir propagar melhor os fundamentos do anticapitalismo, ou seja, o socialismo. Mas somente isso e nada mais além do que tentam enxergar através dessa indústria de monografias, teses de mestrados e doutorados circunscritas ao âmbito dos “iniciados” que usam e abusam da linguagem cifrada, sem nenhum propósito de dialogar com a sociedade, como convêm ao sistema.