Com
a chegada do PT e do PCdoB ao governo, muitos são os que proclamam estar a
esquerda no poder. Essa afirmação comete dois gravíssimos erros de natureza
política. O primeiro é imaginar que PT e PCdoB são de esquerda. Caso
consideremos de esquerda, as posições anticapitalistas, concluiremos que os
citados partidos nada têm de esquerda.
Se
por ventura, houve no PT, um sentimento anticapitalista, com o andar da
carruagem, prevaleceu à adesão desse partido a condição de força de sustentação
da ordem socioeconômica vigente. Isso ficou claro com a “Carta ao Povo
Brasileiro”, documento em que o PT se propunha a garantir os interesses maiores
do sistema.
Empenharam-se
em mostrar que o “leão era mansinho e desdentado”. Procuraram garantir que as
linhas gerais do Plano Real seriam mantidas. Não bastassem essas garantias,
comprometiam-se em nomear para o Banco Central, alguém da confiança do grande
capital.
As
promessas foram cumpridas, e o PT se prestou a promover um trabalho de
engessamento do movimento popular. Ao lado da paralisia dos movimentos
populares e sindicais, processou-se um trabalho de construção de um imenso
colégio eleitoral, base de sustentação política para o petismo, através do
Bolsa Família.
Esse
conjunto de medidas assegurava à burguesia, a “paz social” para que fossem
auferidos grandes lucros, sem maiores estremecimentos. Em troca de tantos
serviços prestados, o PT passou a merecer os mimos dos afortunados,
especialmente dos empreiteiros, que nunca se negaram a regar, com gordas
doações, os caixas de campanha.
Quanto
ao PCdoB que, mesmo equivocado, era um partido de teor ideológico,
transformou-se em uma agremiação fisiológica e até vem contribuindo para uma
nova “formulação política”, qual seja, a do “caminho para o socialismo, através
do esporte”. A combatividade e os mártires desse partido, ocorridos outrora,
não podem servir de salvo-conduto para a sua vergonhosa capitulação.
Esquerda
não são, nem PT, nem PCdoB! Por sua vez, essas organizações chegaram, apenas,
ao governo. É bom salientar, porém, que há uma diferença abismal entre governo
e poder. Governos vão e vêm, têm um caráter episódico, enquanto isso, o poder
tem caráter permanente. O poder é o Estado, e mudanças de governo não implicam
na desconstrução do Estado. Ele permanece pronto para defender os interesses do
capitalismo. Esquerda no poder é um disparate, próprio de pessoas de má fé ou
politicamente desinformadas.