segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Che e a russificação


Quando falamos de um ativista político, teremos duas apreciações distintas. Uma é o individuo com suas qualidades positivas ou negativas. Outra, é o ente político com seus acertos, erros, limitações, talentos, genialidades. Partindo daí, é que nos propomos tratar de Che Guevara. Vendo do lado pessoal, temos testemunhos de sua grandeza, destacando-se o fato de ele rejeitar a russificação de Cuba, preferindo se imolar nos grotões bolivianos, depois de ter passado pelo Congo. Lamentável, é que ele não atinava a dimensão de sua grandeza, nem conhecimento da História. Fosse ele possuído de formação política na perspectiva do socialismo, ao invés de se embrenhar no Congo ou na Bolívia, teria, isso sim, deixado Cuba para se instalar em Paris, Londres ou Roma, centros do capitalismo desenvolvido, tanto do ponto de vista econômico, quanto político.
Tivesse Guevara elaborado um manifesto ao mundo, discorrendo sobre o verdadeiro papel da URSS e fazendo um apelo às classes trabalhadoras de todos os países, para formarem uma frente anticapitalista, haveria de fazer estremecer as estruturas políticas do sistema socioeconômico vigente. Seu precário nível de formação política, fazia com que ele não extrapolasse as fronteiras da guerrilha dentro da logica maoísta do “campo cercando a cidade”. O seu apelo para que se criassem um, dois, três Vietnãs, expressava seus equívocos.
Em nome da decência, Che negou-se em aceitar a russificação e preferiu o caminho do martírio. Essa conduta lhe confere justas reverências. Mas do ponto de vista da História, sua atitude ficou aquém e, de tudo, restaram as estampas de sua imagem angelical, impressa nas camisetas da juventude.

Che, não legou um ensaio, um artigo, um livro, dotado da mínima substância que servisse como peça de esclarecimento capaz de orientar no rumo de uma militância realmente revolucionária. Em apoio aos nossos argumentos, basta lembrarmos do fato de que a brava guerra de libertação nacional levada avante pelos vietnamitas, hoje não passa de página virada, pois como já dissera Marx e Engels, o eixo da história é a luta de classes e nunca uma presumida luta entre nações opressoras e oprimidas. Essa deplorável lógica, circunscreveram muitos militantes de boa fé nos marcos da periferia do capitalismo, dando às costas as massas trabalhadoras da Europa ocidental, dos Estados Unidos, do Japão, cidadelas de sustentação do aludido sistema. Che Guevara poderia ter contribuído para quebrar essa percepção, fruto do atraso imposto pelos longos anos de hegemonia stalinista.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

“Coração valente”


A jovem Dilma Rousseff demonstrou ter um coração valente quando enfrentou as câmaras de tortura. Dessa mesma forma comportaram-se milhares de jovens dispostos a sacrificarem a vida, a liberdade e a submeterem-se à tortura insana dos seus algozes. É lamentável, entretanto, que, agora, o coração valente da, senhora Dilma, tenha derretido diante do grande capital. Não estamos falando de coisas fantasiosas. Veja as escolhas da presidente, reeleita para o ministério da agricultura. Nada mais, nada menos do que a emblemática Kátia Abreu, legitima representante do agronegócio. Veja, por outro lado, onde a senhora, agora, de coração acovardado, foi buscar a sua equipe econômica, senão entre os mais confiáveis quadros existentes entre os grandes banqueiros.
Coração valente seria dizer não ao capitalismo e não somente demonstrar bravura, como demonstraram os cristãos primitivos diante das feras que lhes estraçalhavam as vísceras. Não basta um coração valente, é preciso que ele esteja a serviço de uma boa causa, e a senhora Rousseff tinha como bandeira a luta pelas reformas e pela soberania nacional, enquanto propugnava por um modelo de país onde reinasse um discurso único, um partido único, uma imprensa única, uma polícia política, como era modelo a então URSS e hoje permanece Cuba, Coreia do Norte, China, para citarmos alguns exemplos.
O coração valente daqueles jovens tangidos pela má informação e pela ingenuidade, não se levantava contra o capitalismo e, tão logo deram-se as oportunidades, vimos muitos deles se agacharem diante do grande capital propondo-se gerenciar o capitalismo, garantindo a paz social necessária para que a burguesia auferisse, sem traumas, seus grandes lucros.
Os “corações valentes” que se alocaram no governo petista, engessaram as centrais sindicais e estudantis, transformando essas instituições em meros aparelhos burocráticos.

O socialismo, a luta direta e sem sofisma contra o capitalismo, precisam de corações valentes. Mas não bastam a bravura e o martírio para tornar legítima uma pretensa militância, quando tudo termina em um estúpido engano. Queremos, sim, homens e mulheres destemidos. Empunhando a causa da verdade e não cultuando apenas a bravura e o martírio sem atentar para quão inócuos foram tantos sacrifícios.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Truque muito experto


Apesar do empenho dos revolucionários, a maré da contrarrevolução foi vitoriosa na década de 20 do século passado. Houve uma esperança de que a Revolução Russa pudesse promover uma reviravolta. Isso não ocorreu e as garras da contrarrevolução chegou à URSS. Não aconteceu de forma indolor. Travou-se ali uma luta entre a revolução e a contrarrevolução, com a vitória dessa última.
A Rússia, país retardatário, não conseguiu realizar a revolução democrática burguesa no seu sentido clássico. Ocorreu, então, que as tarefas dessa revolução passaram a ser levadas a cabo pelo Partido Comunista Russo. Em outras palavras, todas as tarefas para o cumprimento da revolução burguesa, passaram a ser exercitada pelo PC russo. A inviabilidade da revolução socialista em razão das condições objetivas e subjetivas, que se impunham, determinava que ali se construísse o capitalismo que não se deu pela forma clássica de revolução burguesa, como já nos referimos.
Na URSS construiu-se o capitalismo de Estado mas para fazê-lo, usando o nome do socialismo, tornou-se necessário a criação de um brutal aparelho policial calcado na revogação completa e absoluta dos princípios da democracia política. Para o exercício dessa tarefa, os dirigentes desse processo contrarrevolucionário lançaram mão de um truque muito esperto. Autoproclamaram-se legítimos defensores do povo e trataram de denominar todo e qualquer opositor como inimigo dos trabalhadores.
 Assim, os contrarrevolucionários, ostentando o rótulo de “marxista-leninista”, exercitaram uma draconiana política repressiva, acusando os dissidentes de inimigos do povo, quando na verdade eram eles que mereciam essa definição.
Esse truque se prestou aos demais herdeiros do “marxismo-leninismo”. Nos países onde eles dominavam era considerado inimigo do povo todo aquele que se opusesse as suas perversões politicas e denunciasse a fraude de que ali se construía o socialismo. Por sua vez os grupos, movimentos e partidos “marxista-leninistas” praticam esse mesmo truque, autoproclamam-se juízes da verdade e da coerência. Tudo que fazem dizem coerente e tudo que refuta é a própria incoerência e isso, além de arbitrário, é uma profunda distorção da verdade que só prejuízos trazem a verdadeira causa do socialismo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Papai Noel existe


É claro que o “bom” velhinho existe para as crianças ricas, crianças da classe média e filhos de alguns poucos assalariados. Para a multidão de pobres e miseráveis, o Papai Noel não passa de um velhinho faltoso, que povoa o imaginário dessas crianças, filhas dos despossuídos. Para esses, tudo termina numa tremenda frustração. Essa realidade é lamentável, muito dolorosa.

Temos que convir, o capitalismo é assim mesmo, bom para uns poucos e razoável para um punhadinho de aquinhoados. Para o resto da população, para o povão, o máximo que ele pode reservar é o menos ruim. Assim é que lutamos por transporte menos ruim, moradia menos ruim, escola menos ruim, hospital menos ruim, salário menos ruim... O bom mesmo fica restrito, como já dissemos, à burguesia e alguns setores da classe média.


Por outro lado, Papai Noel existe sim, não só como fantasia e, sim, como um grande vendedor, que traz lucros para os comerciantes de plantão. Essa é nossa dura realidade e devemos nos empenhar em transformá-la.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

“O tempo está acabando”


Como marxistas, poderíamos iniciar esse artigo citando Marx ou Engels. Entretanto, pretendemos fazer nossa abordagem citando o Santo Papa Francisco, que, movido pela sensibilidade aguçada, dá-se conta de que nada é infinito, tudo está fadado a desaparecer. Dentro dessa percepção, o Papa conclui que o mundo está na iminência de mergulhar no colapso, caso a humanidade não intervenha, em tempo hábil, para mudar esse destino. Vejam que falamos em tempo hábil, e isso quer dizer: antes que seja tarde.
Esse discurso confronta com aquele outro tão frequente, quanto inconsistente, quando alguém num gesto de altruísmo, desprendimento, afirma: devemos lutar para dar um paradeiro no capitalismo predatório e o superando construirmos um mundo de justiça e paz, para depois acrescentar: tal mundo poderá não ser para nós, mas poderá ser para nossos filhos, netos ou bisnetos. Trata-se de um discurso infundado, pois o tempo está acabando e qualquer postura que não leve em consideração esse fato é destituído de fundamento.
É uma ironia ver legiões inteiras de “marxista-leninistas” ou trotskystas, cultivando esse equivoco, legando a salvação da humanidade a uma imprecisa posteridade, sem se dar conta de que a realidade urge que se conscientize o mundo quanto à catástrofe que se avizinha.
Esse papel de esclarecimento do drama histórico que atravessamos, haveria de ser obra daqueles que se autoproclamam de esquerda. Ao invés disso, por sua maioria, eles se ocupam em levar a cabo duras lutas pela conquista dos aparelhos burocráticos, sejam eles sindicais, estudantis, partidários ou institucionais.

A população desinformada busca a salvação individual, quando não se prostra diante das promessas místicas, e outros se rendem ao uso das drogas ou caem na epidêmica depressão emocional. Não percebe, a maioria, que não existe salvação individual. Ou nos salvamos todos, ou não se salvará ninguém. Eis uma lição que se deve levar em consideração, no devido tempo, para que se possa evitar que se consuma o tão apregoado fim da vida.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Qual imprensa proletária

É com bastante insistência que uma pretensa esquerda “marxista-leninista” ou trotskysta, denuncia, com todo vigor, a imprensa burguesa. Referindo-se a ela como sendo “a grande mídia”, chegam a considerá-la como operadora de um sórdido plano golpista a serviço da extrema direita.
Há uma questão que merece ser colocada abertamente na mesa de discussão, caso queiramos nos reger pela verdade. Nos meus longos anos de militância socialista, por mais que eu tentasse, nunca consegui encontrar, até a data de hoje, a tão desejada e incensada imprensa proletária democrática. No inicio de minha caminhada, existia o jornal “Novos Rumos”, publicação do semiclandestino Partido Comunista Brasileiro-PCB, em que se registrava a total ausência da prática democrática, do livre debate, ao qual o filosofo alemão Friedrich Hegel fazia referência, dizendo ser ele a alma de qualquer partido político. Hoje as publicações de periódicos “marxista-leninistas” ou trotskystas, difundem um único discurso, não exercitando, portanto, o saudável confronto de ideias.
Os jornais sindicais, regra geral, não se apresentam como uma imprensa proletária democrática. Isso se dá em razão de que, a derrota da revolução socialista em escala mundial, na década de XX do século passado, redundou na indiscutível vitória da contrarrevolução que produziu, na URSS, o capitalismo de Estado, sob o indevido e criminoso rótulo de comunismo e esse ato levou a que se desse a revogação das liberdades políticas e fosse imposto o mais severo totalitarismo, que se reproduz em cada grupo, movimento ou partido que se dizem “marxista-leninistas” ou trotskystas, não deixando a salvo os sindicatos e suas centrais.
Esse é um dado cruel de nossa realidade. Não existe, a rigor, a pretensa democracia proletária e, portanto, inexiste uma imprensa dotada dessa qualidade. Nossa grande tragédia, reside no fato de que existem a direita explicita, e concomitantemente, a direita travestida de esquerda que tem em comum no seu DNA a total supressão das liberdades políticas.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

No fundo do poço


O movimento socialista chegou ao fundo do poço. Nunca dantes o capitalismo havia conquistado tanta força política. No Brasil, tivemos uma demonstração estarrecedora dessa força. Nas eleições de 2014, o país dividiu-se em dois blocos que se propunham a gerenciar o sistema socioeconômico vigente, defendendo propostas semelhantes, senão iguais. Cinquenta milhões de eleitores votaram em um dos blocos e, quase outro tanto, no outro bloco. Este fato demonstrou a total hegemonia da direita. O anticapitalismo ficou reduzido a uma ínfima votação.
Dizia-se que existia a disputa de dois projetos. Um de direita, representado por Alckmin, Aécio, Serra, Tasso, FHC... o outro seria de esquerda, e em torno dele estariam Lula, Dilma, o presidiário Zé Dirceu, Sarney, Barbalho, Calheiros, Collor, Maluf... Logo que se elegeu, Dilma passou a montar o seu governo de “esquerda” convocando quadros da confiança do grande capital para compor a equipe econômica, e Kátia Abreu foi chamada para assumir o Ministério da Agricultura.
Essa realidade gera grave preocupação. Os trabalhadores ficaram na orfandade política. A crise social aumenta e parte da juventude que busca nas academias de ensino a porta da “salvação”. Outra parte, sem perspectiva, se lança ao uso das drogas. Enquanto isso, o desespero, a desesperança no mundo dos homens, empurram largos contingentes para o fundamentalismo religioso. A depressão emocional tornou-se vultosa. Essas ocorrências decorrem da exaustão do capitalismo e da crise do movimento socialista. Aos socialistas revolucionários só resta um caminho. Sabedores de que só a força do povo poderá superar o capitalismo, sua maior tarefa deverá ser centrada em um trabalho cujo principio seja: conscientizar é preciso.
Em favor do projeto socialista, estão as condições objetivas que revelam a existência de uma classe, a burguesia, movida pela busca do lucro e, de outro lado, os trabalhadores, os deserdados, que amargam a dura vida que lhes reserva o capitalismo. As condições precárias de vida da maioria, sejam na moradia, na mobilidade, na segurança, na saúde, na educação, haverá de empurrar para as ruas as massas populares. A questão é saber se o povo irá às ruas, consciente de que o inimigo é o capitalismo. A falta desse saber pode proporcionar a emergência da direita fascista, como já dá sinais de desabrochar, quando despontam grupos clamando pela volta dos militares ao governo.

O perigo fascista só será evitado com um vigoroso trabalho de conscientização política das massas. Este deve ser o balizador de nossa militância, ao invés de gastar nossas energias com as eternas disputas entre grupos em torno de questões menores. Conscientizar é preciso, repetimos, e para isso não deveremos poupar esforços.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Netos ou bisnetos


Dentre os vários discursos equivocados praticados, até de boa fé, por uma pretensa esquerda desinformada ou má informada, registramos um que tem ares de altruísmo e desprendimento. Trata-se da enganosa afirmação de que a nossa luta por um mundo fraterno, de justiça e paz, poderá não ser uma conquista da nossa geração, mas certamente será dos nossos netos ou bisnetos.
A grande verdade é que esse discurso não oferece nenhuma sustentação, não passando, pois, de uma descabida presunção. Nada é eterno, que não seja o movimento. Tudo é finito, tem o seu “prazo de validade” e isso se aplica a tudo, inclusive ao capitalismo. Ele, inicialmente progressista e revolucionário, no decorrer de sua acelerada caminhada chegou, nos dias de hoje, ao seu momento de exaustão, de total esgotamento. Esse fato impõe para a humanidade um dilema: ou esse sistema socioeconômico dá lugar a um novo sistema ou teremos a tragédia total que poderá ser a extinção da vida. Diante disso, levanta-se a pergunta: será que a humanidade terá condições de superar o capitalismo em tempo historicamente hábil? Ou seja, será que se pode evitar a tragédia total de que tanto falamos?

Para que logremos esse tento, para que exista a vitória contra o colapso da vida, é necessário que se tenha força política capaz de evitar a grande tragédia a que o capitalismo celeremente nos arrasta. É necessário que se tenha força para alcançar essa vitória e é preciso que isso, que essa força se conquiste a tempo. Dessa maneira se estabelece uma louca corrida contra o relógio da história, pois sabemos, e sabemos muito bem, que a sanha predatória do capitalismo não nos dá trégua e talvez não existam nossos netos ou bisnetos para desfrutar de uma conquista que não tivemos. O discurso desprendido que lega aos descendentes um inevitável paraíso é irreal, é sonhático, pois esse paraíso poderá existir ou não, tudo dependerá da correlação de forças no confronto final entre a revolução e a contrarrevolução, e essa realidade é implacável e irrevogável.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Um paralelo


Para ensejar uma boa reflexão, lancemos mão de um paralelo entre Brasil e Cuba. Embora, já se tenha dito, com toda pertinência, que por trás da mais democrática república burguesa, está a ditadura do capital sobre o trabalho, haveremos de reconhecer estarem as liberdades políticas nesse sistema, anos luz à frente do fascismo, seja ele sob quaisquer dos rótulos.
Na pútrida república burguesa do Brasil, liderada hoje pelo PT, existem dezenas de partidos políticos, inclusive alguns se autodenominam comunistas, socialistas ou trabalhistas. Há, inegavelmente, franca liberdade de organização e de opinião. Existem tantos e quantos jornais em circulação com pensamentos diferentes. Por sua vez, mesmo vivendo-se, por alguns anos, um regime político de exceção, ou seja, um momento de ditadura, as liberdades políticas permitiram que desabrochassem centenas de quadros políticos qualificados. Exemplos contundentes desse fato é a emergência do político Lula da Silva, além de outros do mesmo naipe como, Olívio Dutra, Paim, Dilma Rousseff e mesmo Marina Silva. Concomitantemente, despontaram figuras como Tasso, Ciro Gomes, Alckmin, Eduardo Campos (falecido), Aécio...
Enquanto isso, vejamos a história de Cuba. Ali só existem um discurso, um partido, uma imprensa. Os dissidentes são taxados de agentes da CIA. Em mais de 50 anos, cabe perguntar: quais quadros teóricos foram gerados no processo cubano? Quais militantes socialistas ganharam expressão na “sagrada” ilha? O que explica o fato das lideranças públicas se restringirem aos irmãos Castro?
Uma reflexão critica e livre, nos levará a concluir que no Brasil existe um Estado democrático e em Cuba a democracia foi negada. Não podemos, é verdade, nos deter nos limites da democracia burguesa. Como os marxistas de outrora, pretendemos, ao lado da democracia política, construir a democracia social. Mas não devemos opor à democracia burguesa o totalitarismo que dá amparo ao capitalismo de Estado, como tem ocorrido.
A distorção desses fatos é o grande responsável pela sobrevivência de um capitalismo exaurido. O povo, as parcelas mais conscientes, se negam em trocar a democracia, mesmo burguesa, pelo fascismo, mesmo que ele esteja acobertado do rotulo socialista.

Tratemos, pois, dessa questão que merece ser vista com a devida coragem, com ausência de preconceitos e medos que aterrorizam os beatos de boa fé. Pensar, criticamente, a nossa realidade histórica é um imperativo do momento. Fugir desse desafio, é contribuir consciente ou inconscientemente para que o capitalismo nos arraste para a tragédia total.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Armadilhas


A burguesia, extremamente esperta, além de semear mentiras, lendas e fantasias, arma muitas armadilhas, objetivando manter as massas populares iletradas, letradas e até bem letradas, circunscritas a determinados limites e isso muito lhe convém.
Hoje, vivemos uma perigosa armadilha política, que tem sido muito bem sucedida, considerando os interesses da burguesia e de seus aliados. Trata-se do falso dilema: PSDB versus PT. Para construção e êxito dessa dualidade forjada, tem havido a permanente contribuição da esquerda direitosa que defende e alimenta esse confronto político, tão distante dos reais interesses das classes trabalhadoras.
Ora, tanto o PSDB, quanto o PT e os seus circundantes, têm compromisso com os interesses do grande capital. A dualidade a que devemos nos ater é a que existe entre os interesses da burguesia e os das classes trabalhadoras. Recentemente, assistimos, um espetáculo politico deveras deplorável. A burguesia conseguiu, nas ultimas eleições (2014), que o povo brasileiro se dividisse entre dois blocos de direita: petralhas e tucanalhas, deixando de lado qualquer sinal em favor dos interesses reais da massa dos deserdados.

Terminadas as eleições, com a vitória da candidata Dilma Rousseff, o que se tem visto é ela buscar montar sua equipe econômica com os quadros do agrado do grande capital, sejam eles, os banqueiros, o agronegócio, os capitães da indústria... De boa fé, muitos caem na armadilha e se põem a discutir quem “melhor” dos dois: petralhas ou tucanalhas? Essa discussão deve ser prontamente rejeitada, por todos nós. Devemos pôr na mesa o antagonismo existente entre os interesses da burguesia e os dos trabalhadores. Este sim, deve ser o eixo dos nossos debates. Agindo assim, estaremos rejeitando um falso dilema, fugindo da armadilha, uma vez que tanto um bloco como o outro propõem-se, no atacado, servir ao capitalismo, embora pretendam dispensar aos explorados a concessão de medidas de varejo, pequenas migalhas, que possam atenuar as tensões sociais e, dessa forma, garantir a paz aos grandes senhores.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Chegando ao Poder


É corriqueiro ouvirmos o seguinte discurso: o PT era um partido de perfil socialista, mas, quando chegou ao poder, ele mudou. Primeiro, é necessário entender que chegar ao governo nada tem a ver com chegar ao poder. O poder é o Estado, e ele tem caráter permanente. Os governos existem para gerenciar, eventualmente, os negócios do sistema socioeconômico vigente que, em nosso caso, é o capitalismo. Temos dito, insistentemente, que governos vão e vêm e o sistema continua, em sua essência, o mesmo. Quando ocorre de algum governo entrar em conflito com o poder, ele é deposto. A História está repleta, quanto a isso, de exemplos.
Feita essa observação, é fácil concluir que o PT não chegou ao poder, mas, tão somente, ao governo. Por outro lado, não é acertado dizer que ele mudou depois de conquistar sua vitória eleitoral. Isso não. O PT mudou para conseguir governar. Com esse propósito, publicou sua “Carta ao povo brasileiro” que, na verdade, era destinada ao grande capital. Nessa carta, o citado partido deixava claro que a burguesia não tinha de que ter medo, o leão era mansinho. Em seguida, o PT pagou muito caro, em moeda corrente, para ter um rico e insuspeito industrial na chapa de Lula, na condição de vice.
Ao lado dessas providências, fez as suas promessas. Garantiu manter-se fiel ao Plano Real. Garantiu que o Banco Central haveria de ser dirigido por um banqueiro da confiança do capital financeiro internacional. Garantiu evitar comoções sociais, mantendo os trabalhadores imobilizados pelas centrais sindicais, fazendo o mesmo com as centrais estudantis.

Dessa forma, o PT e seus assemelhados não mudaram quando conquistaram o governo, isso é preciso deixar bastante claro. O PT, pelas mãos de seus dirigentes, vendeu sua alma ao diabo e, nesse processo de triste capitulação, sobressaíram-se as figuras de José Dirceu, Luiz Gushiken, José Genuíno, Gilberto Carvalho, Delúbio Soares, Luís Pereira e outros trânsfugas, se é que esses senhores, algum dia, foram, de fato, socialistas revolucionários.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Socialismo e sacrifício


Somos, enquanto marxistas, absolutamente, contra o sacrifício desnecessário, o sacrifício do penitente que resvala para o autoflagelo, a partir da ideia mística de que o “sofrimento do corpo ameniza os pecados da alma”. Esse conceito de sacrifício sempre se prestou aos interesses das classes exploradoras, na medida em que a massa de sofredores possa se sentir bem, dentro daquele pensar bastante popular: “pouco importa o sofrimento, pois Deus esta vendo e haverá de me destinar a felicidade após a morte”. Apesar de refutar esse tipo de sacrifico calcado no autoflagelo, nós, socialistas revolucionários, sabemos que é inevitável o sacrifico para a conquista do objetivo maior que é a libertação da humanidade dos grilhões do capitalismo.
Quem conhece a história do movimento socialista, verá que bem antes do socialismo marxista, militantes revolucionários, além dos menores e constantes desconfortos, chegaram ao ponto de sacrificar suas vidas na luta pela justiça e pela paz. Exemplo digno de ser ressaltado encontra-se na “Conspiração dos Iguais” quando, em torno de um manifesto igualitarista, um grupo de revolucionários, já em 1796, urdia um plano para deposição do governo burguês e a instalação de um governo do povo. Esses conspiradores, logo que descobertos foram levados aos cárceres e o seu líder maior, Graco Babeuf, foi decapitado. Diante do tribunal que o sentenciou, Graco, pronunciou um destemido discurso de fé em seus propósitos.
São quase infindáveis os testemunhos de sacrifícios necessários à conquistas de nossos objetivos socialistas, desde o sacrifício da vida aos de menor monta, como uma longa caminhada, um jejum compulsório, noites mal dormidas, múltiplos desconfortos... estão na lista do fazer militante.
O sacrifício de um domingo de lazer, por um dia de intensa panfletagem, deve ser considerado, pelo militante ganho para a causa, como algo que acalenta nossos corações ávidos na busca da felicidade social plena, que só poderá acontecer com a superação do capitalismo. A isso podemos dizer: bendito sacrifício, pois foi o preço imposto na nossa busca de um objetivo superior a cada um dos nossos anseios menores, enquanto indivíduos. O que foi dito pode ser reduzido à reafirmação de que não faz sentido o autoflagelo místico, entretanto se impõe o sacrifício indispensável para a causa socialista quando o momento exige. 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Dá para pensar!


Quando alguém disse que a terra era redonda, a maioria das pessoas falou alto: Que é isso, gente? A terra é plana, embora marcada por ondulações, por montanhas. Que conversa é essa de dizer que a terra é redonda...? Coisa de louco!
Quando, anos depois, alguém falou que a terra se movia ao redor do sol, que ela não era fixa, os protestos foram maiores, e quase que um certo senhor, Galileu Galilei, foi atirado na fogueira da santa ignorância por ter dito tamanho absurdo.
Quando uns pouquíssimos afirmaram que era possível fazer uma máquina para voar, a imensa maioria discordou, achou um absurdo, coisa de quem não tem o que fazer. Uma ideia impossível de se realizar.
Quando se falava na possível chegada do homem à lua, a descrença era quase absoluta.
Os casos apontados se repetem, hoje em dia, de outra forma. Quando se diz que poderemos ter uma sociedade de igualdade, justiça e paz, a maioria não acredita nessa afirmação e diz algo que não é verdade. Diz que o mundo foi sempre assim e assim será. Bate no peito e diz: Eu não acredito, isso não tem fundamento.
A terra sempre foi redonda, mesmo que a maioria das pessoas não acreditasse. A terra girava e gira em torno do sol, não era e não é fixa, embora isso não fosse claro para tantos. Apesar da discordância de quase todos, era possível fazer uma máquina voar. A ida à lua, que parecia uma fantasia, mostrou-se possível. Um mundo de igualdade e paz social não é uma ilusão, mas, sim, o único caminho para salvar a humanidade da tragédia total que o capitalismo nos arrasta, e isso é uma verdade, quer se acredite ou não. Não se trata de uma questão de fé, trata-se de uma realidade, tão verdadeira quanto a afirmação de que a terra é redonda.
Existe, porém, uma grande diferença entre os casos citados e a proposta de se conquistar um outro tipo de sociedade igualitária e justa. Caso a maioria não acredite e não se envolva na luta pela igualdade social, ela não acontecerá e, então, teremos o fim da raça humana.
Pense nisso, pesquise, discuta, observe e lembre-se: Dizer apenas: Não acredito, não é o caminho que possa nos levar à verdade e, como já foi dito, só a verdade nos salvará. Permanecendo a mentira, as ilusões, as fantasias que hoje reinam, a humanidade haverá de desaparecer diante desse monstro destruidor que é o capitalismo, cuja alma clama tão somente pela busca do lucro para uns poucos.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Stalin e o Stalinismo



            Esses anos de hegemonia “marxista-leninista” engendraram uma profunda confusão, inclusive dentre alguns muito bem letrados. A maioria dos que se reivindicam de esquerda, ou apoiam o próprio Stalin, ou imaginam que o stalinismo foi um fenômeno posterior à morte de Lenine.
Há uma diferença entre o fenômeno do stalinismo e a figura de Stalin. O stalinismo é produto da derrota do movimento socialista em escala mundial. Não é, pois, algo nascido na cabeça de delinquentes, como pretendem as análises idealistas. O surgimento do stalinismo, enquanto fenômeno político, começa a se gestar bem antes da ascensão de Joseph Stalin.
O insucesso do socialismo, na Europa Ocidental, levou a que a derrota se estendesse à nascente URSS e, a partir desse fato, deram-se as condições materiais e teóricas para que a contrarrevolução se consolidasse em território russo, pois, ao invés dos bolcheviques assumirem a derrota, empenharam-se em se manter, a qualquer custo, atropelando as leis básicas da História.
Há um princípio universal, nas artes da guerra, de que, quando se vislumbra uma derrota, o mais correto é promover a retirada, de forma a permitir menores danos. Pois bem, esse princípio não foi levado em consideração e, mesmo quando a causa se mostrava perdida, houve um obstinado propósito de não aceitar a derrota. Pior ainda, tudo que se construiu, em prol da contrarrevolução, foi apresentado como vitória do socialismo, vendendo-se “gato por lebre”.
Um dos fatos que deram respaldo teórico ao stalinismo foi a adoção de medidas de exceção, tomadas no X Congresso, em 1921, apesar das advertências proféticas de que aquelas medidas sepultariam o socialismo e isso, de certa forma aconteceu, mesmo que não tenha sido definitiva.
Enganam-se aqueles que imaginam que Khrushchov, quando denunciou os crimes de Stalin, rompeu com o stalinismo, isto é, que ele foi anti-stalinista, quando, na verdade, só o reformou, porém não rompeu com os princípios básicos da contrarrevolução, levada avante em nome do “marxismo-leninismo”.
No rol dos eruditos, que pensaram ser Khrushchov um anti-stalinista, estão figuras de prestígio como Eric Hobsbawm e outros tantos doutos. Por sua vez, existem aqueles que julgam ser, o trotskismo, o contrário do stalinismo, e isso também é um profundo engano.
Leon Trotsky poderia ter feito o papel de analista crítico da Revolução Russa e ter procedido uma autocrítica, deixando claro que a contrarrevolução triunfara. Para se desincumbir dessa tarefa, esse senhor tinha prestígio e qualidades intelectuais suficientes para fazê-lo. Ao invés disso, Trotsky e os trotskistas não romperam com as resoluções do X Congresso do PC Russo e venderam a falsa ideia de que existia um Estado Operário burocratizado, ao invés de denunciar a sua não existência e, sim, a construção do capitalismo de Estado, dirigido por uma casta burocrática.
Em função desses fatos, criou-se um empobrecimento político de profundas consequências. Há que se repetir, como se repete o Pai Nosso entre os cristãos, a seguinte verdade: Stalin e stalinismo são coisas diferentes, embora que, simbioticamente, ligados.
Como exercício de uma reflexão política, devemos colocar essas questões, que causam arrepios entre os beatos “marxistas-leninistas” e os trotskistas, de maneira que possamos resgatar o socialismo revolucionário, pois, assustadoramente, a velha esquerda ficou reduzida a um antiamericanismo insano e inconsequente, pois deixam de ver que o inimigo é o capitalismo, e não reduzir a luta a uma posição estritamente anti-ianque, como se observa, chegando-se ao cúmulo de se ver, com simpatia, o fascismo islâmico, desvairado e selvagem, porque eles têm um sentimento contrário aos infiéis do “Império”.