sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

INDONÉSIA




            É claro que muitos são os fatos que desconhecemos. Nesse mundo gigante da ignorância de cada um de nós existem suas gradações. Por exemplo, não saber da existência e da importância dos EUA expressa um grau de profunda ignorância. Mas os diferente graus de desconhecimento não se restringem a um exemplo de tamanha envergadura como nossa referência aos EUA. Nos meios letrados, e até muito bem letrado, transita um nível de ignorância deveras assustador, a lista é grande, é quase infinda. Tomemos entre esses fatos que desafiam o nível de ignorância, mesmo dos bem letrados, tomemos o exemplo da Indonésia. Dentre os bem letrados, alguns sabem apenas que a Indonésia é um país asiático e predominantemente mulçumano. Aqueles mais informados, que chegaram a fazer tese de doutorado, sabem e são muito pouco os que sabem, que a Indonésia, no infame jogo da guerra fria, foi usada por ambos os lados, isto é, EUA e URSS, procurando o seu governante máximo Sukarno, manobrar de forma a tirar proveitos na ciranda política da Guerra Fria.
            Nessa política os russos capitaneados por Nikita Kruschev, defendiam o caminho pacífico para a conquista do socialismo, e tinham em Sukarno seu grande aliado, enquanto isso, os chineses, capitaneados por Mao Tse-Tung defendiam a tese da luta armada, a partir do princípio do campo cercando a cidade, através de uma guerra popular e prolongada. Enquanto isso, os EUA e seus aliados conviviam com a experiência levada a cabo por Kruschev e seus aliados procurando tirar partido das disputas e levando adiante uma política de conspiração que impusesse limites à chamada política progressista do senhor Sukarno.
            Esse limite chegou, e contra o governo progressista do Sr. Sukarno, foi desfechado um golpe de Estado liderado pelo general Suharto, que se transformou num banho de sangue, onde foi sacrificada uma cifra que vai de 300 a 500 mil pessoas, e o caminho pacífico do Sr. Kruschev desapareceu no ar, sem que houvesse um estudo necessário desse episódio histórico, Sukarno, na condição de chefe político e militar da Indonésia, foi agraciado com a medalha de honra auferida aos grandes heróis do socialismo, a medalha Vladimir Lênin. Ora, uma experiência como essa, não só mereceria ser estudada, como pelo menos conhecida nas suas linhas mais gerais, entretanto, assim como outros episódios, a história é jogada para debaixo do tapete.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

JUÍZA CONDENADA


            Não fosse o seu caráter de deboche, a notícia de que uma juíza de direito foi condenada por receber propina em troca de uma sentença que favorecia o delinquente. Aliás, não se trata de um caso isolado, recentemente uma ministra do Conselho Nacional de Justiça, teve a coragem de dizer que muitos bandidos se amparavam nas togas juízes, foi o bastante para o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Cezar Peluso, vir a público censurar a ministra, acusando-a de leviandade. Por sua vez, lideranças das associações de magistrados, vieram tornar público os seus reclamos, ou melhor, os seus protestos, diante do comportamento ilibado da magistratura no Brasil. É verdade que a maioria dos juízes não se presta ao enriquecimento ilícito praticando atitudes torpes, como essa de vender sentenças, para inocentar bandidos. Foi por essa razão que a ministra do Conselho Nacional de Justiça desafiou: “É muito mais fácil o sargento Garcia prender o Zorro, do que a justiça prender um juiz delinquente”. O mais grave, a maior insolência de todas, é que essa juíza, recém condenada por ter vendido sentença, inocentando réus, teve como punição extrema o ato de ser aposentada, mantendo todos os seus ganhos.
            Vê-se que o sistema capitalista, não só no Brasil, a cada dia exibe a podridão de suas vísceras. Não faz pouco tempo, alguns generais brasileiros foram acusados de participarem de falcatruas envolvendo desvios de dinheiro público, praticado no DNITI, como ficou evidente nesse ultimo escândalo, apesar da “operação cala a boca”. Por sua vez, o ministro responsável pelo zelo da chamada coisa pública, não teve o menor escrúpulo em mandar arquivar um processo recheado de denúncias contra as falcatruas cometidas pelo ex-ministro Antonio Palocci, gente do agrado e da proteção da fina-flor da direção petista e seus apaniguados.
            A cada minuto que o PT-PSB-PCdoB, se dizem empenhados em salvar o Brasil dessa escalada de corrupção, mais e mais dão eles o seu próprio contributo para que o sistema apodreça.          

sábado, 24 de dezembro de 2011

GOVERNO POPULAR?


            Há uma situação de degradação política nas hostes da esquerda. Sobretudo, a autointitulada marxista-leninista, justamente por não ser nenhuma coisa, nem outra. No transcurso da história, a esquerda, no seu primeiro momento, mal formulava algumas palavras buscando construir um projeto para uma nova ordem econômica e social que se colocasse além da situação de crise daquele momento.
            Uma das tarefas do socialismo consiste em definir com correção a instituição ESTADO. Os primeiros socialistas tentavam enfrentar o desafio de sistematizar um saber científico para elucidar os enigmas da sociedade. De início, foram os socialistas utópicos, para eles existiam duas causas que determinavam a divisão em classes sociais.     Esses primeiros socialistas imputavam a existência do Estado como causa da desigualdade. O posterior segmento socialista, chamado marxista, refutava essa tese dizendo que o ESTADO era produto da desigualdade e nunca a sua causa. No mais, os utópicos e os marxistas tinham bastante pontos de afinidades, mesmo que dentre eles ocorressem diferenças importantes, mas que não chegavam a ser de caráter essencial, como era no caso da discussão histórica que se fazia quanto ao papel do ESTADO, na construção da desigualdade e na presumida construção da igualdade.
            Caso fosse correto o conceito anarquista de que o Estado é causa da desigualdade, seria procedente promover a sua destruição, sem levar em consideração a tarefa da necessidade de uma nova organização da economia de maneira que fosse possível construir a igualdade.
            Enquanto isso, na perspectiva marxista, o governo seria um instrumento subalterno ao ESTADO e, sendo ele uma instituição de classe, não seria possível essa combinação entre um ESTADO burguês e um governo popular. Não se confunda popular com populista. O populismo serve tão somente aos propósitos do capitalismo.  Portanto, ou o governo serviria ao capitalismo ou esse hipotético governo serviria ao socialismo. Há uma impossibilidade em se servir a esses dois tão distintos senhores.


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

UM FESTIVAL DE PROSTITUIÇÃO





            Em 2012, haverá eleições em todo o território nacional. E, a seguir os velhos modelos, estaremos às portas de um verdadeiro festival de prostituição. Uns compram, e muitos vendem.
            Atentemos para o fato de que uma das grandes bandeiras da revolução democrática burguesa foi instituir e participar da forma mais ampla dos processos eleitorais. A bandeira democrático-burguesa, representava um dos ítens políticos mais avançados no projeto de transformação econômica, política e social da época. Ficou provado, particularmente nos países mais adiantados, que a liberdade eleitoral, não obstante os seus defeitos, era possível tornar-se exequível, nos limites do novo sistema, ou seja, no capitalismo. Alguns países, sobretudo, a Alemanha, haviam chegado longe na conquista de certas formas de liberdade eleitoral.
            Esse trunfo era exibido pela burguesia. Ela o apontava como o caminho crescente para se chegar a uma sociedade de justiça. Mas não era somente a burguesia que aplaudia as vitórias eleitorais; ao lado dela, uma certa esquerda direitosa, aclamava o processo eleitoral como a trilha segura que nos levaria à conquista da justiça entre os homens.
            Um exemplo exaltado era o da Alemanha, onde o Parido Operário havia conquistado mais de cem cadeiras no parlamento e esse fato exibia a tese burguesa de que o processo natural da libertação do homem estaria no caminho das disputas eleitorais.
            Alguns socialistas desconheciam a diferença qualitativa entre governo e poder, outros socialistas, de olhos mais argutos, faziam, em resposta à esperteza da burguesia, um questionamento que a deixava sem resposta. É verdade, senhores! O desenvolvimento político, econômico e social nos trouxe ao capitalismo e que ele, não espontaneamente, produziu uma nova ordem econômica e social de maior envergadura, e ela nos brindou com a democracia política. Desafiamos esse sistema a nos proporcionar a existência, não somente da democracia política mas, sobretudo, da democracia social, daí a expressão, social democracia.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

GRANDE PALHAÇADA




            Uma pessoa no topo de uma montanha, a refletir sobre o mundo haveria de constatar que esse mundo é repleto de tragédias, dramas, momentos de alegria e de amargura. É claro que tudo isso não é movido por forças ocultas e caprichosas que se dão ao trabalho de desenhar os nossos destinos, sejam eles, dos ricos, repleto de alegria ou da massa de desvalidos, predestinados a amargarem uma vida de dissabor, habitando favelas, vivendo nos charcos ou até mesmo esmolando.
            Os absurdos são tantos, que os desencontros são infinitos, e a vida, se apresenta como uma sucessão de fatos embaralhados. A história da humanidade tem as suas leis e ela caminha em sua obediência, quase sagrada. Mas o que nos chama a atenção é o fato de que nossas vidas são conduzidas por conceitos, pré-conceitos, lendas, fantasias, mentiras... Uma das grandes mentiras, que é espalhada mundo afora, chega a ter o odor repelente da palhaçada. E elas não são poucas também, apenas pouco a percebemos. Dentre esse conjunto de palhaçadas, que formam as nossas crenças, os nossos saberes, os nossos valores, existem aqueles que se revestem de uma roupagem popular e existem aqueles que se revestem da purpurina da erudição. Mas, ambas, mentirosas, ambas palhaçadas. Tipo: “o petróleo é nosso”, “a Amazônia é nossa”, “as terras são nossas”, “as minas são nossas” e até “os bancos são nossos”...
            Com a derrota da Revolução Russa, os princípios foram substituídos pelos dogmas, e assim estabeleceu-se: nação opressora x nação oprimida. O velho Manifesto Comunista, esteio dos princípios do socialismo revolucionário, foi jogado na cesta do lixo, e a velha frase: “A tarefa de libertação dos trabalhadores, será obra dos próprios trabalhadores”, foi substituída pelo dogma de partidos libertadores, uma fraude, uma grande palhaçada. Cabe-nos tentar demover todo esse entulho que o stalinismo nos legou nesses últimos noventa anos de existência. E isso é uma tarefa da maior urgência histórica possível e dela não podemos renunciar sob pena do suicídio social.
           

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

UMA QUESTÃO DE LEITURA?


            A nossa “idolatrada” Academia tem imposto uma linguagem que, às vezes, serve para esconder a ignorância, a conduta de camelôs ou apenas para exibir erudição.
            Uma das palavras, ultimamente, mais em uso é: Leitura. É muito esquisito, mas as discussões são marcadas por esse pressuposto. Aqui alguém diz: “os últimos tumultos que têm havido em nosso planeta causados por tsunamis, tufões, furacões, vulcões, alagamentos, secas têm se dado de forma dramática e dependem muito, quando se quer estudar as causas, da leitura que se faça”.
            Uns mais espontaneístas afirmam que esses desequilíbrios e desencontros naturais são obras puramente espontâneas. Outros dizem que a agressão sistemática que se faz à natureza tem sido a causa maior para tantos abalos, que chegam a colocar em perigo a própria vida, como fazem crer, com justa razão, os ambientalistas, que se atêm à proposta de querer enfrentar um problema de tão grande envergadura, opondo a imediata construção de uma mirrada cultura que se apega a medidas que até parecem cirandas infantis, apregoando a conservação das plantinhas, o não uso de copos descartáveis, o uso, quase obrigatório, do papel reciclado e outras medidas positivas, porém insuficientes.
            O capitalismo tem procurado fazer da questão ambiental um modo de arrancar lucros. Tudo que a burguesia procura fazer é no sentido de subtrair vantagens para a sua classe, mesmo que suas atitudes cheguem a ameaçar a vida, como é o caso do meio ambiente.
            Voltemos ao nosso tema, Uns, lêem de uma forma e a verdade estará posta a partir dessa leitura. Outros, escolhem um caminho diverso. Tudo, portanto, depende da leitura que se faça e o exemplo está aí: quantas leituras temos do “marxismo-leninismo”? Quantas leituras temos desse segmento stalinista chamado trotskismo? Por fim, chamamos a atenção de que dentre as várias leituras do antigo e novo evangelho, existe uma que diz: “Vinde a mim as criancinhas, que delas será o reino do céu”, e aí está posta uma verdade para os pedófilos? 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

ROMEIROS E BEATOS


            O ato de refletir, infelizmente, é prática de uma extrema minoria. O que se registra na história é que poucos assumem a tarefa de pensar, enquanto a maioria assume o papel de meros seguidores. Tivemos o clássico exemplo dos milhares de romeiros e beatos, isto é, de seguidores, que acompanharam meia dúzia de líderes da Europa Ocidental até o Oriente Médio sob o pretexto de libertar o Santo Graal das mãos dos infiéis.
            Por trás disso o que havia era a enganação, o saque, o estupro e tantos e quantos crimes que entraram para história com o nome de as Santas Cruzadas.
            Os exemplos de beatos sacrificando a própria vida por cultivar de forma emocional um determinado credo são muito grandes. Caso típico ocorreu na Rússia tzarista quando Ivanovich Pugachev conseguiu reunir um bando de romeiros com o objetivo de libertar a Rússia do tzarismo. Ele próprio tornou-se agente da bandidagem e se proclamou o “Tzar Vermelho”, a quem não faltava seguidores.
            Vindo para o Brasil, tivemos o exemplo do beato Antonio Conselheiro, portador dos ideais mais conservadores e, mesmo assim, conseguiu agrupar milhares de devotos com o propósito de salvar os homens dos pecados que trazia a monarquia.
            Antonio Conselheiro, não deixava de desfiar um rosário de crendices atrasadas e em torno delas conseguiu levar ao sacrifício milhares de homens que foram dizimados em nome da hipocrisia republicana.
            O Beato Zé Lourenço, no Cariri cearense, também conseguiu agrupar romeiros e beatos em torno de meias verdades e, em nome delas, soube reagir a desenfreada repressão que a ordem constituída se lhe abateu.
            Famoso, muito mais famoso ainda, tornou-se o Pe. Cícero, condutor de romeiros e beatos, que em seu nome seriam capazes de matar, morrer, incendiar.
            Infelizmente alguns movimentos de caráter político, até com pretensões revolucionárias, levaram e levam a que uma legião de romeiros e beatos, que não se dão ao trabalho da reflexão, apaixone-se por causas insuficientemente fundamentadas, quando não, falsas, como tem sido o caso histórico da esquerda stalinista.