terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Coréia do Norte


Temos lembrado, constantemente, que as revoluções burguesas trouxeram, como grande conquista para a humanidade, as liberdades democráticas. Lembramos que a burguesia assim procedeu não por generosidade, nem por esperteza, e sim pela necessidade em quebrar todas as amarras do velho sistema feudal.
A burguesia necessitava de amplas liberdades, fossem elas econômicas ou políticas. Os socialistas, vindos após a revolução burguesa, não rejeitaram a democracia política embora reconhecessem que por trás dela existia a ditadura do capital sobre o trabalho. O fascismo foi à revogação completa da democracia política. Discurso único, partido único, imprensa única, polícia política, intolerância, excludência, compunham o fascismo.
Essa política se deu, em seu primeiro momento, na URSS. Ali também não foram tomadas essas providências senão pela necessidade em se instaurar o capitalismo de Estado. Essa tarefa, a construção do capitalismo de Estado, sob o rótulo do socialismo, não poderia acontecer sem que houvesse o Estado policial. Expressão contundentemente sanguinária do fascismo em maior proporção se deu na Alemanha hitlerista. Isso não quer dizer que em outros lugares essa prática tenha sido indolor.

Hoje expressão mais contundente do fascismo é a Coréia do Norte. Ali se cometeu e se cometem as maiores perversões políticas. Descaradamente lá foi implantada uma tirania hereditária e tudo isso sob a bandeira vermelha marcada com o símbolo da foice e do martelo. O intrigante e condenável, é que muitas pessoas de boa fé sintam-se na obrigação de defender esses e outros crimes praticados em nome do socialismo quando na verdade essas experiências, ou seja, essas anomalias deram-se e se dão contra os interesses reais do projeto socialista. Faz-se, portanto necessário e urgente, que façamos uma reflexão sobre este assunto de forma a compreendermos que esses fatos tem se constituído na força maior da propaganda anticomunista, quando os conservadores aproveitam-se para dizer que, embora o capitalismo tenha os seus “defeitos”, a experiência dita comunista foi muito além com os crimes praticados, indevidamente em seu nome.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Che e a russificação


Quando falamos de um ativista político, teremos duas apreciações distintas. Uma é o individuo com suas qualidades positivas ou negativas. Outra, é o ente político com seus acertos, erros, limitações, talentos, genialidades. Partindo daí, é que nos propomos tratar de Che Guevara. Vendo do lado pessoal, temos testemunhos de sua grandeza, destacando-se o fato de ele rejeitar a russificação de Cuba, preferindo se imolar nos grotões bolivianos, depois de ter passado pelo Congo. Lamentável, é que ele não atinava a dimensão de sua grandeza, nem conhecimento da História. Fosse ele possuído de formação política na perspectiva do socialismo, ao invés de se embrenhar no Congo ou na Bolívia, teria, isso sim, deixado Cuba para se instalar em Paris, Londres ou Roma, centros do capitalismo desenvolvido, tanto do ponto de vista econômico, quanto político.
Tivesse Guevara elaborado um manifesto ao mundo, discorrendo sobre o verdadeiro papel da URSS e fazendo um apelo às classes trabalhadoras de todos os países, para formarem uma frente anticapitalista, haveria de fazer estremecer as estruturas políticas do sistema socioeconômico vigente. Seu precário nível de formação política, fazia com que ele não extrapolasse as fronteiras da guerrilha dentro da logica maoísta do “campo cercando a cidade”. O seu apelo para que se criassem um, dois, três Vietnãs, expressava seus equívocos.
Em nome da decência, Che negou-se em aceitar a russificação e preferiu o caminho do martírio. Essa conduta lhe confere justas reverências. Mas do ponto de vista da História, sua atitude ficou aquém e, de tudo, restaram as estampas de sua imagem angelical, impressa nas camisetas da juventude.

Che, não legou um ensaio, um artigo, um livro, dotado da mínima substância que servisse como peça de esclarecimento capaz de orientar no rumo de uma militância realmente revolucionária. Em apoio aos nossos argumentos, basta lembrarmos do fato de que a brava guerra de libertação nacional levada avante pelos vietnamitas, hoje não passa de página virada, pois como já dissera Marx e Engels, o eixo da história é a luta de classes e nunca uma presumida luta entre nações opressoras e oprimidas. Essa deplorável lógica, circunscreveram muitos militantes de boa fé nos marcos da periferia do capitalismo, dando às costas as massas trabalhadoras da Europa ocidental, dos Estados Unidos, do Japão, cidadelas de sustentação do aludido sistema. Che Guevara poderia ter contribuído para quebrar essa percepção, fruto do atraso imposto pelos longos anos de hegemonia stalinista.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

“Coração valente”


A jovem Dilma Rousseff demonstrou ter um coração valente quando enfrentou as câmaras de tortura. Dessa mesma forma comportaram-se milhares de jovens dispostos a sacrificarem a vida, a liberdade e a submeterem-se à tortura insana dos seus algozes. É lamentável, entretanto, que, agora, o coração valente da, senhora Dilma, tenha derretido diante do grande capital. Não estamos falando de coisas fantasiosas. Veja as escolhas da presidente, reeleita para o ministério da agricultura. Nada mais, nada menos do que a emblemática Kátia Abreu, legitima representante do agronegócio. Veja, por outro lado, onde a senhora, agora, de coração acovardado, foi buscar a sua equipe econômica, senão entre os mais confiáveis quadros existentes entre os grandes banqueiros.
Coração valente seria dizer não ao capitalismo e não somente demonstrar bravura, como demonstraram os cristãos primitivos diante das feras que lhes estraçalhavam as vísceras. Não basta um coração valente, é preciso que ele esteja a serviço de uma boa causa, e a senhora Rousseff tinha como bandeira a luta pelas reformas e pela soberania nacional, enquanto propugnava por um modelo de país onde reinasse um discurso único, um partido único, uma imprensa única, uma polícia política, como era modelo a então URSS e hoje permanece Cuba, Coreia do Norte, China, para citarmos alguns exemplos.
O coração valente daqueles jovens tangidos pela má informação e pela ingenuidade, não se levantava contra o capitalismo e, tão logo deram-se as oportunidades, vimos muitos deles se agacharem diante do grande capital propondo-se gerenciar o capitalismo, garantindo a paz social necessária para que a burguesia auferisse, sem traumas, seus grandes lucros.
Os “corações valentes” que se alocaram no governo petista, engessaram as centrais sindicais e estudantis, transformando essas instituições em meros aparelhos burocráticos.

O socialismo, a luta direta e sem sofisma contra o capitalismo, precisam de corações valentes. Mas não bastam a bravura e o martírio para tornar legítima uma pretensa militância, quando tudo termina em um estúpido engano. Queremos, sim, homens e mulheres destemidos. Empunhando a causa da verdade e não cultuando apenas a bravura e o martírio sem atentar para quão inócuos foram tantos sacrifícios.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Truque muito experto


Apesar do empenho dos revolucionários, a maré da contrarrevolução foi vitoriosa na década de 20 do século passado. Houve uma esperança de que a Revolução Russa pudesse promover uma reviravolta. Isso não ocorreu e as garras da contrarrevolução chegou à URSS. Não aconteceu de forma indolor. Travou-se ali uma luta entre a revolução e a contrarrevolução, com a vitória dessa última.
A Rússia, país retardatário, não conseguiu realizar a revolução democrática burguesa no seu sentido clássico. Ocorreu, então, que as tarefas dessa revolução passaram a ser levadas a cabo pelo Partido Comunista Russo. Em outras palavras, todas as tarefas para o cumprimento da revolução burguesa, passaram a ser exercitada pelo PC russo. A inviabilidade da revolução socialista em razão das condições objetivas e subjetivas, que se impunham, determinava que ali se construísse o capitalismo que não se deu pela forma clássica de revolução burguesa, como já nos referimos.
Na URSS construiu-se o capitalismo de Estado mas para fazê-lo, usando o nome do socialismo, tornou-se necessário a criação de um brutal aparelho policial calcado na revogação completa e absoluta dos princípios da democracia política. Para o exercício dessa tarefa, os dirigentes desse processo contrarrevolucionário lançaram mão de um truque muito esperto. Autoproclamaram-se legítimos defensores do povo e trataram de denominar todo e qualquer opositor como inimigo dos trabalhadores.
 Assim, os contrarrevolucionários, ostentando o rótulo de “marxista-leninista”, exercitaram uma draconiana política repressiva, acusando os dissidentes de inimigos do povo, quando na verdade eram eles que mereciam essa definição.
Esse truque se prestou aos demais herdeiros do “marxismo-leninismo”. Nos países onde eles dominavam era considerado inimigo do povo todo aquele que se opusesse as suas perversões politicas e denunciasse a fraude de que ali se construía o socialismo. Por sua vez os grupos, movimentos e partidos “marxista-leninistas” praticam esse mesmo truque, autoproclamam-se juízes da verdade e da coerência. Tudo que fazem dizem coerente e tudo que refuta é a própria incoerência e isso, além de arbitrário, é uma profunda distorção da verdade que só prejuízos trazem a verdadeira causa do socialismo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Papai Noel existe


É claro que o “bom” velhinho existe para as crianças ricas, crianças da classe média e filhos de alguns poucos assalariados. Para a multidão de pobres e miseráveis, o Papai Noel não passa de um velhinho faltoso, que povoa o imaginário dessas crianças, filhas dos despossuídos. Para esses, tudo termina numa tremenda frustração. Essa realidade é lamentável, muito dolorosa.

Temos que convir, o capitalismo é assim mesmo, bom para uns poucos e razoável para um punhadinho de aquinhoados. Para o resto da população, para o povão, o máximo que ele pode reservar é o menos ruim. Assim é que lutamos por transporte menos ruim, moradia menos ruim, escola menos ruim, hospital menos ruim, salário menos ruim... O bom mesmo fica restrito, como já dissemos, à burguesia e alguns setores da classe média.


Por outro lado, Papai Noel existe sim, não só como fantasia e, sim, como um grande vendedor, que traz lucros para os comerciantes de plantão. Essa é nossa dura realidade e devemos nos empenhar em transformá-la.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

“O tempo está acabando”


Como marxistas, poderíamos iniciar esse artigo citando Marx ou Engels. Entretanto, pretendemos fazer nossa abordagem citando o Santo Papa Francisco, que, movido pela sensibilidade aguçada, dá-se conta de que nada é infinito, tudo está fadado a desaparecer. Dentro dessa percepção, o Papa conclui que o mundo está na iminência de mergulhar no colapso, caso a humanidade não intervenha, em tempo hábil, para mudar esse destino. Vejam que falamos em tempo hábil, e isso quer dizer: antes que seja tarde.
Esse discurso confronta com aquele outro tão frequente, quanto inconsistente, quando alguém num gesto de altruísmo, desprendimento, afirma: devemos lutar para dar um paradeiro no capitalismo predatório e o superando construirmos um mundo de justiça e paz, para depois acrescentar: tal mundo poderá não ser para nós, mas poderá ser para nossos filhos, netos ou bisnetos. Trata-se de um discurso infundado, pois o tempo está acabando e qualquer postura que não leve em consideração esse fato é destituído de fundamento.
É uma ironia ver legiões inteiras de “marxista-leninistas” ou trotskystas, cultivando esse equivoco, legando a salvação da humanidade a uma imprecisa posteridade, sem se dar conta de que a realidade urge que se conscientize o mundo quanto à catástrofe que se avizinha.
Esse papel de esclarecimento do drama histórico que atravessamos, haveria de ser obra daqueles que se autoproclamam de esquerda. Ao invés disso, por sua maioria, eles se ocupam em levar a cabo duras lutas pela conquista dos aparelhos burocráticos, sejam eles sindicais, estudantis, partidários ou institucionais.

A população desinformada busca a salvação individual, quando não se prostra diante das promessas místicas, e outros se rendem ao uso das drogas ou caem na epidêmica depressão emocional. Não percebe, a maioria, que não existe salvação individual. Ou nos salvamos todos, ou não se salvará ninguém. Eis uma lição que se deve levar em consideração, no devido tempo, para que se possa evitar que se consuma o tão apregoado fim da vida.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Qual imprensa proletária

É com bastante insistência que uma pretensa esquerda “marxista-leninista” ou trotskysta, denuncia, com todo vigor, a imprensa burguesa. Referindo-se a ela como sendo “a grande mídia”, chegam a considerá-la como operadora de um sórdido plano golpista a serviço da extrema direita.
Há uma questão que merece ser colocada abertamente na mesa de discussão, caso queiramos nos reger pela verdade. Nos meus longos anos de militância socialista, por mais que eu tentasse, nunca consegui encontrar, até a data de hoje, a tão desejada e incensada imprensa proletária democrática. No inicio de minha caminhada, existia o jornal “Novos Rumos”, publicação do semiclandestino Partido Comunista Brasileiro-PCB, em que se registrava a total ausência da prática democrática, do livre debate, ao qual o filosofo alemão Friedrich Hegel fazia referência, dizendo ser ele a alma de qualquer partido político. Hoje as publicações de periódicos “marxista-leninistas” ou trotskystas, difundem um único discurso, não exercitando, portanto, o saudável confronto de ideias.
Os jornais sindicais, regra geral, não se apresentam como uma imprensa proletária democrática. Isso se dá em razão de que, a derrota da revolução socialista em escala mundial, na década de XX do século passado, redundou na indiscutível vitória da contrarrevolução que produziu, na URSS, o capitalismo de Estado, sob o indevido e criminoso rótulo de comunismo e esse ato levou a que se desse a revogação das liberdades políticas e fosse imposto o mais severo totalitarismo, que se reproduz em cada grupo, movimento ou partido que se dizem “marxista-leninistas” ou trotskystas, não deixando a salvo os sindicatos e suas centrais.
Esse é um dado cruel de nossa realidade. Não existe, a rigor, a pretensa democracia proletária e, portanto, inexiste uma imprensa dotada dessa qualidade. Nossa grande tragédia, reside no fato de que existem a direita explicita, e concomitantemente, a direita travestida de esquerda que tem em comum no seu DNA a total supressão das liberdades políticas.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

No fundo do poço


O movimento socialista chegou ao fundo do poço. Nunca dantes o capitalismo havia conquistado tanta força política. No Brasil, tivemos uma demonstração estarrecedora dessa força. Nas eleições de 2014, o país dividiu-se em dois blocos que se propunham a gerenciar o sistema socioeconômico vigente, defendendo propostas semelhantes, senão iguais. Cinquenta milhões de eleitores votaram em um dos blocos e, quase outro tanto, no outro bloco. Este fato demonstrou a total hegemonia da direita. O anticapitalismo ficou reduzido a uma ínfima votação.
Dizia-se que existia a disputa de dois projetos. Um de direita, representado por Alckmin, Aécio, Serra, Tasso, FHC... o outro seria de esquerda, e em torno dele estariam Lula, Dilma, o presidiário Zé Dirceu, Sarney, Barbalho, Calheiros, Collor, Maluf... Logo que se elegeu, Dilma passou a montar o seu governo de “esquerda” convocando quadros da confiança do grande capital para compor a equipe econômica, e Kátia Abreu foi chamada para assumir o Ministério da Agricultura.
Essa realidade gera grave preocupação. Os trabalhadores ficaram na orfandade política. A crise social aumenta e parte da juventude que busca nas academias de ensino a porta da “salvação”. Outra parte, sem perspectiva, se lança ao uso das drogas. Enquanto isso, o desespero, a desesperança no mundo dos homens, empurram largos contingentes para o fundamentalismo religioso. A depressão emocional tornou-se vultosa. Essas ocorrências decorrem da exaustão do capitalismo e da crise do movimento socialista. Aos socialistas revolucionários só resta um caminho. Sabedores de que só a força do povo poderá superar o capitalismo, sua maior tarefa deverá ser centrada em um trabalho cujo principio seja: conscientizar é preciso.
Em favor do projeto socialista, estão as condições objetivas que revelam a existência de uma classe, a burguesia, movida pela busca do lucro e, de outro lado, os trabalhadores, os deserdados, que amargam a dura vida que lhes reserva o capitalismo. As condições precárias de vida da maioria, sejam na moradia, na mobilidade, na segurança, na saúde, na educação, haverá de empurrar para as ruas as massas populares. A questão é saber se o povo irá às ruas, consciente de que o inimigo é o capitalismo. A falta desse saber pode proporcionar a emergência da direita fascista, como já dá sinais de desabrochar, quando despontam grupos clamando pela volta dos militares ao governo.

O perigo fascista só será evitado com um vigoroso trabalho de conscientização política das massas. Este deve ser o balizador de nossa militância, ao invés de gastar nossas energias com as eternas disputas entre grupos em torno de questões menores. Conscientizar é preciso, repetimos, e para isso não deveremos poupar esforços.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Netos ou bisnetos


Dentre os vários discursos equivocados praticados, até de boa fé, por uma pretensa esquerda desinformada ou má informada, registramos um que tem ares de altruísmo e desprendimento. Trata-se da enganosa afirmação de que a nossa luta por um mundo fraterno, de justiça e paz, poderá não ser uma conquista da nossa geração, mas certamente será dos nossos netos ou bisnetos.
A grande verdade é que esse discurso não oferece nenhuma sustentação, não passando, pois, de uma descabida presunção. Nada é eterno, que não seja o movimento. Tudo é finito, tem o seu “prazo de validade” e isso se aplica a tudo, inclusive ao capitalismo. Ele, inicialmente progressista e revolucionário, no decorrer de sua acelerada caminhada chegou, nos dias de hoje, ao seu momento de exaustão, de total esgotamento. Esse fato impõe para a humanidade um dilema: ou esse sistema socioeconômico dá lugar a um novo sistema ou teremos a tragédia total que poderá ser a extinção da vida. Diante disso, levanta-se a pergunta: será que a humanidade terá condições de superar o capitalismo em tempo historicamente hábil? Ou seja, será que se pode evitar a tragédia total de que tanto falamos?

Para que logremos esse tento, para que exista a vitória contra o colapso da vida, é necessário que se tenha força política capaz de evitar a grande tragédia a que o capitalismo celeremente nos arrasta. É necessário que se tenha força para alcançar essa vitória e é preciso que isso, que essa força se conquiste a tempo. Dessa maneira se estabelece uma louca corrida contra o relógio da história, pois sabemos, e sabemos muito bem, que a sanha predatória do capitalismo não nos dá trégua e talvez não existam nossos netos ou bisnetos para desfrutar de uma conquista que não tivemos. O discurso desprendido que lega aos descendentes um inevitável paraíso é irreal, é sonhático, pois esse paraíso poderá existir ou não, tudo dependerá da correlação de forças no confronto final entre a revolução e a contrarrevolução, e essa realidade é implacável e irrevogável.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Um paralelo


Para ensejar uma boa reflexão, lancemos mão de um paralelo entre Brasil e Cuba. Embora, já se tenha dito, com toda pertinência, que por trás da mais democrática república burguesa, está a ditadura do capital sobre o trabalho, haveremos de reconhecer estarem as liberdades políticas nesse sistema, anos luz à frente do fascismo, seja ele sob quaisquer dos rótulos.
Na pútrida república burguesa do Brasil, liderada hoje pelo PT, existem dezenas de partidos políticos, inclusive alguns se autodenominam comunistas, socialistas ou trabalhistas. Há, inegavelmente, franca liberdade de organização e de opinião. Existem tantos e quantos jornais em circulação com pensamentos diferentes. Por sua vez, mesmo vivendo-se, por alguns anos, um regime político de exceção, ou seja, um momento de ditadura, as liberdades políticas permitiram que desabrochassem centenas de quadros políticos qualificados. Exemplos contundentes desse fato é a emergência do político Lula da Silva, além de outros do mesmo naipe como, Olívio Dutra, Paim, Dilma Rousseff e mesmo Marina Silva. Concomitantemente, despontaram figuras como Tasso, Ciro Gomes, Alckmin, Eduardo Campos (falecido), Aécio...
Enquanto isso, vejamos a história de Cuba. Ali só existem um discurso, um partido, uma imprensa. Os dissidentes são taxados de agentes da CIA. Em mais de 50 anos, cabe perguntar: quais quadros teóricos foram gerados no processo cubano? Quais militantes socialistas ganharam expressão na “sagrada” ilha? O que explica o fato das lideranças públicas se restringirem aos irmãos Castro?
Uma reflexão critica e livre, nos levará a concluir que no Brasil existe um Estado democrático e em Cuba a democracia foi negada. Não podemos, é verdade, nos deter nos limites da democracia burguesa. Como os marxistas de outrora, pretendemos, ao lado da democracia política, construir a democracia social. Mas não devemos opor à democracia burguesa o totalitarismo que dá amparo ao capitalismo de Estado, como tem ocorrido.
A distorção desses fatos é o grande responsável pela sobrevivência de um capitalismo exaurido. O povo, as parcelas mais conscientes, se negam em trocar a democracia, mesmo burguesa, pelo fascismo, mesmo que ele esteja acobertado do rotulo socialista.

Tratemos, pois, dessa questão que merece ser vista com a devida coragem, com ausência de preconceitos e medos que aterrorizam os beatos de boa fé. Pensar, criticamente, a nossa realidade histórica é um imperativo do momento. Fugir desse desafio, é contribuir consciente ou inconscientemente para que o capitalismo nos arraste para a tragédia total.