terça-feira, 29 de março de 2011

Nenhuma palavra

No dia 24 de março de 2011, foi ao ar pelo rádio e televisão, um programa do Partido Comunista do Brasil – PCdoB, em comemoração aos 89 anos de sua existência. Quem conhece a verdadeira trajetória do socialismo no Brasil, irá se dar conta de que esse partido, dito comunista, deixou de sê-lo desde 1928, quando, por ocasião do VI Congresso da Terceira Internacional, foi imposto o social-patriotismo, tão combatido pelos verdadeiros marxistas, por ocasião da primeira grande guerra, quando a Segunda Internacional abandonou os princípios revolucionários para mudar-se para o campo do nacionalismo burguês.

A Terceira Internacional Comunista foi criada para dar combate ao social-patriotismo e restabelecer os princípios do socialismo revolucionário. Em decorrência, porém, da vitória da contra-revolução em escala mundial e o isolamento da URSS, a Terceira Internacional tornou-se cópia fiel da anterior, ostentando, descaradamente, o social-patriotismo sob o rótulo indevido do marxismo-leninismo.

A partir de 1928, os partidos ditos comunistas, se descaracterizaram completamente e seus militantes, a maioria beatos de boa fé, transformaram-se em patrioteiros, abandonaram o principio da luta de classes, para aderir à tese da capitulação, cujo esteio era eleger a contradição nação opressora versus nação oprimida, como motor da história. Assim é que os ditos comunistas passaram a defender com intransigência absoluta os interesses da nação, sem se darem conta de que ela é patrimônio da burguesia, uma vez que as terras, as fábricas, as minas, os transportes, os bancos são propriedade somente da classe burguesa, enquanto a imensa maioria do povo trabalhador não passa de uma massa de despossuídos. Defender os interesses nacionais é, em última instância, defender os interesses do capitalismo. Por essa razão, é que os ditos comunistas do PCdoB, em seu programa de rádio e televisão, não pronunciaram nenhuma palavra contra o capitalismo, e limitaram-se a festejar o avanço e a consolidação desse sistema no solo da “pátria amada”.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Para os pobres

A nossa cultura judaico-cristã nos impele a ver com benevolência qualquer assistência aos pobres e aos miseráveis para lhes mitigar os sofrimentos. Muitos, de extremada piedade, foram agraciados não somente com um lugar no Paraíso. Alguns deles lograram conquistar a condição de santos e santas. É comum ouvir: “Deus ama os pobres”, como também é comum se ouvir: “Quem dá aos pobres, empresta a Deus”. Essa cultura predominante leva-nos a que procuremos administrar a pobreza e a miséria e nunca erradicá-la como bem demonstram os milênios de prática desse pensar.

Não é, porém, reduzido ao mundo religioso o comportamento de festejar as atitudes tomadas em favor dos pobres e miseráveis, mesmo que elas sejam apenas migalhas. Fala-se do quanto foi dado as massas carentes, mas não se fala o tanto e quanto delas foram retirados.

Dois exemplos clamorosos, tivemos e temos aqui no Brasil. Primeiro foi a política assistencialista implementada por Getúlio Vargas e a sua preocupação em regulamentar as relações de trabalho, concedendo às massas laboriosas direitos que lhes eram negados.

O segundo momento de populismo desbragado deu-se com o governo Lula e o seu tão aclamado programa Bolsa Família, que assiste as massas miseráveis estendo-lhe as mãos com umas poucas moedas que lhe minimiza sua situação de imensa carência.

Diz-se em alto e bom som que o governo lulo-petista reserva a cifra de treze bilhões de reais para viabilizar esse programa social. Por fim, diz-se o quanto se dá aos pobres e miseráveis, mas se não diz que o quanto deles se retira. Na verdade o fato é que se dá aos pobres, mas retira-lhes em parcela extraordinariamente superior.

Seja quando se trata do glorioso reino do Céu, ou quando se trata do reino da Terra, sob capitalismo, tão gracioso e tão gentil para os ricos e sempre cruel para os pobres e miseráveis. Cabe aos verdadeiros socialistas desmascarar essa fraude, entretanto, partidos como o PT, PSB, PCdoB compõem esse cenário enganoso como eficientes atores à serviço da burguesia.

terça-feira, 22 de março de 2011

Visita do Obama

Assistimos à visita da família Barack Obama, ou seja, “a primeira família do império norte americano”. Num estilo popularesco o casal empenhou-se em agradar com largos sorrisos e sinais de afeto.

Mas o que existiu atrás do espetáculo, cujo desempenho a presidente Dilma tanto colaborou? Por trás das congratulações e votos de extremada estima reinava uma única coisa: os interesses comerciais das partes. É público e notório, que os empresários norte americanos e suas corporações estão preocupados com a presença dos chineses no mercado hispano-americano e tentam reverter esse quadro de forma a permitir uma maior parcela de lucros para a burguesia ianque e associados.

Aliás, é bom enfatizar, que tudo que é feito dentro do capitalismo traz sempre o propósito de criar condições para melhores negócios das partes envolvidas. Escondem esse propósito através de uma cortina de fumaça levantada pelo processo de espetacularização e atitudes francamente demagógicas para o consumo das massas populares, enquanto nos gabinetes se celebram acordos que envolvem ações de negócios, como já dissemos.

Temos dito, com muita insistência, que a alma do capitalismo é a busca tresloucada pelo lucro. Em nome do lucro ele não se detém, e promove uma sistemática destruição da vida. O mais grave, gravíssimo mesmo, é que não temos uma esquerda socialista que faça a denúncia explícita desse sistema que nos leva à tragédia. Os discursos políticos, sejam de lá ou de cá, feitos pelos partidos e agrupamentos, restringem-se a uma única fala, restringem-se em dizer que estão em curso os interesses da nação.

Sente-se a ausência de uma esquerda que reconheça o mundo dividido em classes e camadas sociais com interesses conflitantes. Nossa esquerda, regra geral, contenta-se em se apresentar como defensora de interesses nacionais, atropelando o fato de que as nações são biombos que escondem as conveniências das corporações e dos grupos capitalistas. A visita de Obama poderia ter deixado isso muito claro, porém, predomina a cegueira política.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Discurso único

É trágico, mas estamos assistindo os partidos e os políticos, sejam de direita, esquerda ou centro, agitarem um único discurso. Batem incessantemente na mesma tecla. Todo mundo anda convencido com o discurso da burguesia que diz ser o sistema capitalista é bom, desde que gerenciado com honestidade. Isso é uma mentira!

A corrupção é uma chaga de grandes consequências, porém, é errado pensar que o sistema vigente é bom e que o único problema é “falta de vergonha na cara”. A corrupção é uma chaga, mas não é o único motivo do desmantelo social em que vivemos. Aliás, ela não é causa, é conseqüência, provocada pelo sistema capitalista cujo objetivo é garantir lucros para uns poucos e carência para a maioria.

Imaginemos, para efeito didático, alguém com uma grave infecção, e ela causa febre, dor de cabeça, desânimo e outros sintomas. Diante desse quadro de saúde, algumas pessoas se alarmam com a febre e procuram sanar esse problema ministrando alguns remédios, porém, mantendo a causa. Assim se dá com a questão do combate à corrupção. Ela é como a febre do nosso exemplo e merece ser combatida, é verdade, mas o correto é eliminar, buscar a causa e na questão da corrupção lutar contra ela implica, antes de tudo, lutar contra o sistema de desigualdade social, um sistema que privilegia não a competência, não a seriedade, mas a ostentação do que possuímos ou deixamos de possuir.

Esse discurso de guardiões da moralidade beneficia muitíssimo a burguesia, uma vez que as pessoas se voltam contra as consequências e deixam a causa, o capitalismo, intocado, livre de ameaça. Por sua vez muitos políticos demagogos se beneficiam desse discurso moralista. Jânio da Silva Quadros foi eleito Presidente da República ostentando uma vassoura que limparia o Brasil da corrupção. Fernando Collor apresentou-se como o Caçador de Marajás, e revelou-se um mestre na arte da roubalheira. Vê-se que o moralismo, em si, não nos leva à libertação dos inúmeros males sociais que padecemos. Fora o capitalismo! Eis o caminho.

terça-feira, 15 de março de 2011

O avesso da lição

Quando, aos dezesseis anos de idade, passei a me interessar intensivamente pelas questões políticas, encontrei o PCBão. Seria o partido-escola que ensinaria a repudiar a sociedade vigente e a lutar por justiça e paz.

O caminho do aprendizado era a leitura, a polêmica constante, a disputa diária, o embate com posições consideradas conservadoras. Essa era a trilha do aprendizado que se prestava a formar militantes, fosse no trabalho de panfletagem, de pichação, de discursos relâmpagos, da presença em portas de fábricas, sítios e fazendas.

A queda do Muro de Berlim pareceu a muitos que houve uma reviravolta qualitativa. Isso não! Aquele evento representou apenas a ruína do velho discurso das “esquerdas” que consistia em dizer que o mundo estava divido entre o mundo capitalista decadente e o mundo socialista ascendente. Esse discurso era fraudulento, e a queda do Muro representou o fim dessa fraude e a esquerda ficou desprovida de mensagem.

Face tal situação o velho conhecimento “marxista-leninista” sumiu, deixando um vazio que passou a ser ocupado, desastrosamente, pelas academias burguesas. Ora, essas instituições, assim como outras instituições de classe, existem para servir a um só senhor: o capitalismo. É claro que nas escolas há maiores espaços para se estabelecer a polêmica política, bem mais espaço do que existe nas instituições policiais, por exemplo. Entretanto, não se pode esperar que da escola “aberta e progressista” possa ressurgir o socialismo, quase completamente sepultado pelos longos anos de hegemonia stalinista.

Frisemos o fato que antes, o caminho do aprendizado pretensamente socialista, era a militância tenaz, fosse na prática, fosse na polêmica, fosse nas leituras. Hoje, para se ser um socialista, basta alisar os bancos das academias, postular suas graduações e ser aquinhoado com o título de cientista político-social, mesmo que esses senhores sejam incapazes de distinguir, minimamente, a diferença primária que existe entre governo e poder. Houve assim, para pior, uma inversão de caminhos.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Golpe de mestre


O PMDB mostrou que é formado por velhas raposas na arte da rapinagem. Partido fisiológico não tem compromissos senão o de praticar golpes sejam de natureza política, sejam fisiológica.

Na votação do preço do salário mínimo na Câmara dos Deputados, o PMDB logrou praticar uma grande encenação. Sua bancada votou maciçamente na proposta do governo Dilma em estabelecer em R$ 545,00 o preço do salário mínimo. O golpe foi o de exibir para os capitalistas e para o governo Dilma que o PMDB estava coeso em apoiar as medidas do interesse do sistema. É claro que para este partido, de natureza estritamente fisiológica, nada é feito gratuitamente. Em troca do apoio maciço que foi dado ao mísero salário mínimo proposto pelo grande capital, com a anuência das centrais sindicais corrompidas, esse partido colherá grandes frutos, na forma de cargos e benesses do aparelho de Estado.

Veja-se a quanto chegamos com o lulismo no governo! Antes, porém, faz-se necessário deixar explicitado o que significa lulismo. Para fazê-lo, recorremos ao seu “irmão gêmeo”, o peronismo argentino, que desmantelou a vida política naquele país, cooptou os sindicatos, levantou a bandeira dos “descamisados” com medidas similares às do Bolsa Família e gerenciou o grande capital. Quando exaurido, Perón foi deposto do governo. Mas, quando se fez necessário, a classe burguesa foi buscá-lo no exílio e promoveu um evento eleitoral onde o “general do povo” conseguiu 92% dos votos válidos como candidato à presidência da Argentina.

Como o peronismo, o lulismo tem caminhado no sentido de excluir a vida política e transformar o jogo do poder num simples processo de barganha. Lula jamais poderia ser chamado de estadista mesmo no sentido burguês da palavra. Evitou fazer as reformas de base, necessárias ao desentrave do crescimento do capitalismo para se poupar de qualquer impopularidade. Praticou desbragadamente o populismo e nisso teve êxito, porém, não teria caso não soubesse celebrar um ‘casamento’ tão escabroso como o foi PT-PMDB.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Querer. Um ingrediente.

Como temos falado, o capitalismo, para se manter, se apóia em discursos mentirosos e falsos conceitos. A história, do ponto de vista da burguesia, é um feito decorrente de santos, heróis, bandidos, traidores, gênios e mártires. A história é movida pelo querer, pela vontade.

Na verdade o querer tem o papel de ingrediente, às vezes, importantíssimo, mas, não podemos esquecer que a vontade está subordinada às condições objetivas que a história coloca.

Um dos exemplos históricos é o da Comuna de Paris, em 1871, quando o proletariado daquela cidade assumiu o poder e nele permaneceu por setenta e dois dias. Sobre esse episódio, sentenciou Karl Marx: “O proletariado parisiense quis tomar o céu de assalto”. Essa afirmação propunha dizer que não havia condições objetivas para que o proletariado assumisse o poder político e implementasse o seu projeto socialista.

Somente nos fins do século XIX deu-se o advento do imperialismo e ele trouxe as condições objetivas para a consecução do projeto socialista. Porém, nesse momento, 1912/13, deu-se uma luta política monumental entre a proposta capitalista conservadora e a proposta socialista de transformação social.

Nesse embate político, cujo cenário maior foi a Europa Ocidental, o capitalismo obteve sua grande vitória política, ou seja, o socialismo foi politicamente derrotado. Restou na Europa lugar para o sucesso da proposta socialista na Rússia tzarista, onde não existiam as condições objetivas para implementação de um projeto socialista e, além disso, esse projeto se daria nos limites de uma só nação, agravado pelo fato de que se tratava de um país com baixos níveis de desenvolvimento, um país pré-capitalista, cujo traço predominante era os restos feudais e a autocracia.

Nessas condições, tão adversas, quis-se, por força da vontade, implementar o projeto socialista calcado na esperança de que essa proposta progredisse na Europa Ocidental, o que não ocorreu. E daí a grande tragédia, diante da qual a obstinada vontade não pode alterar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Vamos vulgarizar

Soube que certo senhor, militante “marxista-leninista-trotskista”, prenhe de pretensão, referiu-se a mim dizendo que eu praticava um marxismo vulgar. Ora, isso é quase verdade, não que eu pratique um marxismo vulgar, pois esse tem nome e endereço, chama-se stalinismo. O que ocorre é que eu tento, obstinadamente, vulgarizar o marxismo, tornar o socialismo científico uma ciência de massa que permita ao povo compreender o mundo econômico, político e social que vivemos.

Mas, para ter bom êxito no empenho de vulgarizar o marxismo, torná-lo atraente e compreensível, é necessário iniciar a jornada pelas galerias das inúmeras universidades, que despejam toneladas de cientistas sociais e políticos que sequer percebem a diferença conceitual entre governo e poder.

Dizem eles, insistentemente, e com toda empáfia: “Quando o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder...” Ora, essa proposição é um escândalo. O poder, “senhores cientistas”, é o Estado, e ele tem caráter vitalício, permanente, e seu objetivo é salvaguardar a economia, o sistema econômico que, no caso, é o capitalismo. Governos, senhores, têm caráter rotativo, vão e vêm e são guardiões de diversas políticas econômicas, seja ela nacionalista, desenvolvimentista, entreguista, progressista, conservadora ou o que diabo seja.

Entre economia e política econômica há uma diferença abissal. É bem verdade que a transformação de um determinado sistema econômico por outro, só poderá advir através da atividade política, mas essa política, senhor catedrático, é a política socialista, e ela é essencialmente diferente dessa política que compõe o jogo do poder em torno das diversas facções que representam o sistema. O governo PT-PMDB por exemplo, representa diversas correntes de políticas econômicas. Seria bom que isso ficasse claro.

Não me venham com a gracinha de dizer que faço o culto da ignorância, quando repudio o charlatanismo praticado pelas prestigiadas escolas do capitalismo. Pelo contrário, louvo e cultivo o conhecimento legítimo e libertador.

terça-feira, 1 de março de 2011

A velha chantagem

No processo de consolidação do stalinismo na Rússia soviética usou-se, de forma abusiva, da chantagem. Todo aquele que se opusesse, criticasse, censurasse de forma justa ou injusta era apontado como “inimigo do povo”. Por conta dessa acusação o individuo ou grupo, estava sujeito aos mais violentos castigos, que iam do ostracismo aos campos de concentração até a execução sumária.

Já em 1921, levou-se a cabo uma grande calunia quando os operários insurretos do Soviete de Kronstadt foram caluniados como “inimigos do povo” e por conta dessa acusação caluniosa foram alvo dos canhões do senhor Leon Trotsky com pleno apoio de Vladimir Lênin.

Durante esses noventa anos de hegemonia stalinista a chantagem funcionou e continua funcionando como elemento de repressão a qualquer manifestação de dissidência, e os trotskistas foram o contingente político que mais sofreu essa chantagem, por ironia da história, e ela está repleta de ironias.

Os grupos trotskistas, assim como o próprio Trotsky, usou e usa abusivamente desse expediente para inibir qualquer divergência, qualquer quebra do velho monolitismo imposto no X Congresso do Partido Comunista Russo, em 1921. Na tentativa de fugir dessa vil chantagem, Leon Trotsky, ainda na URSS, organizou tardiamente seu grupo político com o nome de Oposição de Esquerda, na vã tentativa de fugir da acusação de serem eles, os trotskistas, considerados inimigos do povo.

De forma branda, porém com as mesmas características, comporta-se a esquerda direitosa formada pelo PT, PSB e PCdoB, hoje, em relação ao governo PT-PMDB. Fazer oposição a esse governo, que representa a fina flor da escória da política fisiológica no Brasil, é correr o risco de ser acusado de estar fazendo o jogo da direita, como se não fossem eles, PT, PSB, PCdoB, em conluio com o PMDB e assemelhados, autênticos representantes da direita na medida em que, além do fisiologismo, praticam a política de manutenção do sistema capitalista. Hoje é a velha esquerda direitosa que faz a chantagem, mas não devemos nos intimidar.