terça-feira, 26 de abril de 2011

ALMAS LAVADAS

Após a Páscoa, inúmeras igrejas e seitas cristãs, depois de cumprirem contritamente os preceitos religiosos sentem-se de almas lavadas, de bem com o “Reino Eterno”. Parte deles, obedecendo ao seu credo, procurou fazer piedosamente um rigoroso jejum como parcela de sacrifício, tendo em vista o bem eterno. Pouquíssimos pararam para refletir que, bilhões de seres humanos tiveram que cumprir, compulsoriamente, um rigoroso jejum que não se atém apenas aos dias de Páscoa, mas se estende por todos os dias.

Parece até que uma imensa massa de pobres e miseráveis não pertence à categoria de seres humanos. Por inspiração cristã, dispensa-se a uns poucos algumas dádivas, seja na forma de uma parca refeição ou de outras iniciativas que mitigam as dores desse punhado de escolhidos. Provavelmente, não brotará dentre esses miseráveis nenhuma figura santa. Até achamos que caso se fizesse um levantamento dos santos da corte celestial, haveríamos de encontrar homens e mulheres, ricos ou aquinhoados, que souberam comprar com a sua bondade um lugar de proeminência no reino do céu.

Inúmeros são os afortunados que obtiveram a condição de santos. Uma pergunta, entretanto, nos invade o pensamento: Terá havido um só exemplo de homem ou mulher atirados às agruras da miséria, que tenham podido se erguer aos céus na condição de santos? A realidade indica que isso é improvável. Ser bom, ser caridoso é, em primeiro lugar, atributo de pessoas ricas. É bem verdade que, aqui ou ali, tenham surgido figuras modestas que se dedicaram à tarefa de pedir dos ricos para servir a uns poucos pobres. Lembramos as louváveis figuras de Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce da Bahia, Zilda Arns de São Paulo, que se sobressaíram por suas obras caridosas, contudo, deixaram o mundo tal como ele é, dividido entre pobres e uns poucos extremamente ricos. Isto é, essas caridosas almas deixaram, em plena vigência, o sistema capitalista que não se cansa de aplaudi-las como almas santas que ingenuamente prestaram serviços à permanência desse cruel sistema.

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