sexta-feira, 13 de junho de 2014

Discurso. Todos têm



Discurso. Todos têm

Repetimos, exaustivamente, que ninguém pode viver sem um discurso político. Para comprovar, experimentemos fazer uma ligeira pesquisa entrevistando pessoas. Ao gari, postado em nossa esquina, perguntamos: Por que, apesar de tantos progressos, existem mais de um bilhão de pessoas passando fome? Nesse momento, o nosso singelo personagem apoia-se em sua vassoura e responde: Ah! Meu amigo, o povo não quer mais trabalhar. Daí, a fome de que você fala. Cônscio da justeza de seu discurso, o nosso amigo retorna à sua lida, sem perceber que assumira uma posição política.
Seguimos em nossa pesquisa e abordamos uma contrita senhora, perguntando-lhe: Por que tanta violência no mundo? E ela, sem pestanejar, afirma: Meu filho é a falta de Deus no coração! Eis a causa da violência e, com essas palavras, ela pronunciou o seu discurso, mesmo que ela não tenha imaginado fazê-lo.
Prosseguimos em nossas andanças e questionamos um professor, indagando da razão de tantas mazelas mundo afora. Ele afirma, solenemente, que é tudo obra do imperialismo ianque. Não fala no imperialismo inglês, alemão, francês, canadense, japonês... Tudo, para ele, se reduz ao imperialismo ianque e, contra ele, vale até se aliar ao fascismo islâmico.
Permanecendo em nossa busca, eis que nos colocamos diante do senador Cristovão Buarque. Circunspecto, ele afirma que o problema do Brasil está na ausência de educação. Retrucamos o ilustre senhor, lembrando-lhe que a cultíssima e letrada Itália produziu o fascismo, enquanto a não menos culta e letrada Alemanha produziu o nazismo. Mas ele muda de assunto, ciente de que o seu discurso lhe rende votos e prestígio.
Vemos, pois, que, desde um singelo gari ao festejado senador, todos têm um discurso, ou melhor, vários discursos políticos. A questão, portanto, é avaliar se eles são dotados de fundamentos. Observamos que nenhum deles se aproximou da verdade, nenhum deles revelou a verdadeira causa dos nossos crescentes dramas sociais. Nenhum dos discursos postos afirmou: a humanidade tem cerca de duas centenas de milhares de anos e, somente a dez ou doze mil anos, deu-se aquilo que se poderia chamar de “pecado original”. Deu-se o advento da propriedade privada dos meios de produção e a consequente desigualdade social com todas as suas mazelas e que, hoje, se apresenta no seu último estágio, o capitalismo imperialista em pleno processo de exaustão. Entendemos que esse é o discurso que falta ser encontrado na boca do gari, do professor, do estudante, da dona de casa...

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