segunda-feira, 2 de junho de 2014

Caro Alexandre Costa



Caro Alexandre Costa,

Na verdade, você tem razão quanto ao uso da palavra expurgo, pois ela está associada aos crimes do stalinismo ortodoxo. Terei o cuidado de não repeti-la e, ao invés de expurgo, gostaria de clamar pela depuração do lixo fartamente produzido pelo stalinismo nas suas mais diversas roupagens.

Sinto que você, sem nenhuma má fé, deixou de tratar do foco da questão por mim levantada, em se tratando de Ramón Mercader. Esse senhor, executor de Leon Trotsky, nunca se considerou um homicida. Ele e legiões imensas de beatos do stalinismo consideravam que a sua ação era de natureza estritamente revolucionária. Isso se dá em função do caráter beato dos seguidores dos diversos credos. Toda igreja, toda seita, têm os seus Ramón Mercader, herói para uns, facínora para outros. O cerne da questão, portanto, caro Alexandre, é a idolatria acrítica que leva, por exemplo, fundamentalistas islâmicos a se converterem em homens-bombas.

Em polêmica com Leon Trotsky, quando este afirmou para Rosa Luxemburgo que não era idólatra da democracia formal burguesa, ela respondeu: “Não sou idólatra da democracia formal burguesa, como não sou de Deus ou de Marx”. O que pretendemos, meu caro amigo, é a depuração total da beatice acrítica e a reposição da crítica livre que nos conduza a recomposição do socialismo revolucionário jogado na cesta do lixo pelo “marxismo-leninismo” e “marxismo-leninismo-trotskismo”.

Fraterno abraço,

Gilvan Rocha
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário