segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Governo e Poder



Governo e Poder

 

Gilvan Rocha(*)


Aproximam-se as eleições. No seu bojo vem o velho equivoco em torno dos conceitos de governo e poder. A burguesia tem todo interesse em passar a ideia de que governo e poder são as mesmas coisas. Dizendo melhor, ela tem interesse que se imagine ser a conquista do governo o mesmo que a conquista do poder. Em decorrência disso, poucos são os que percebem ser governo e poder categorias distintas. Governos são temporários, rotativos. Enquanto isso, o poder tem caráter permanente, ou seja, governos vão e vem e o poder permanece.

Temos um sistema sócioeconômico, o capitalismo. Em defesa dele existe o poder exercido pelo Estado, pelos aparatos judiciais e legislativos, pelas forças armadas e policiais, tudo isso calcado em um conjunto de leis e doutrinas cujo princípio é a manutenção da “ordem”. Por outro lado, observamos que existem várias políticas de gerenciamento do capitalismo. É em torno das diferentes políticas econômicas que se dão as disputas eleitorais no âmbito do sistema. Assim, cada governo encarna uma política de gerenciamento, uma política econômica, seja ela neoliberal, nacionalista, nacional-reformista...

Os governos, portanto, tem liberdade para implementar determinadas políticas econômicas, mas, caso algum governo ouse conflitar-se com os interesses maiores do sistema, ou mesmo, se mostre frágil ao ponto de colocar em risco o “status quo”, esse governo será, fatalmente, deposto, pouco importando o que digam “a carta magna” ou os discursos democráticos. A deposição de governos pelo poder é fartamente registrada pela história, merecendo destaque a derrubada do governo nacional-reformista de João Goulart e de Salvador Allende no Chile, para citarmos, apenas, dois exemplos.

No rastro da confusão entre os conceitos de governos e poder vem a confusão quanto a natureza das oposições. Uma coisa é opor uma política econômica a outra política econômica. Completamente diferente é fazer-se oposição ao próprio sistema econômico. Na primeira hipótese, vamos encontrar diferentes segmentos comprometidos com o próprio sistema. No caso de oposição a economia capitalista, vamos encontrar, apenas, os verdadeiros socialistas, aqueles que estão bem além de um simples rótulo, de um simples carimbo.

A confusão entre governo e poder é um ato deliberado da cultura burguesa. Lamentável é ver a chamada esquerda, que teria o dever de denunciar essa manobra, compartilhar, por ignorância ou conveniência, desse desastroso equívoco. Em síntese, governo é, apenas, governo e está subalterno ao poder. É ilusório, portanto, que se pretenda chegar ao poder a partir da conquista do governo. Essa ilusão tem nos levado a desastres, cabendo ressaltar, além dos exemplos de João Goulart e Salvador Allende, os exemplos de Largo Caballero na Espanha, Juan Torres na Bolívia, Jacobo Arbenz na Guatemala, Sukarno na Indonésia, casos que redundaram na implantação de ditaduras sanguinárias. Por sua vez, vale registrar os exemplos de “bom comportamento” do PT inglês e da social democracia européia. Estes não conflitaram com o sistema e se reservaram a tarefa de gerenciar o capitalismo para demonstrá-lo viável, palatável, exequível, o que representa uma postura enganosa.

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