segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Marxismo legal



Marxismo legal


            A revolução socialista foi derrotada, em escala mundial, na década de vinte do século passado. A contrarrevolução vitoriosa assumiu o seu caráter mais cruel na URSS, auto-proclamada “pátria-mãe do socialismo”, o que não passava de uma fraude, uma vez que ali se processou a construção do capitalismo de Estado e nunca as proposições de um projeto socialista. Os meios de produção e distribuição das riquezas passaram a ser estatais e o Estado era da tutela única e exclusiva do Partido. Socialismo, no seu sentido exato, é a transformação da propriedade privada em propriedade social e, isso, não existiu.
          O alvo maior da contrarrevolução, sob os auspícios do stalinismo, foi a doutrina socialista revolucionária. Para perpetrar seu crime contrarrevolucionário, os soviéticos, usando o prestígio da revolução socialista de 1917, promoveram o assassinato dos princípios. Primeiro, a URSS proclamou-se, como já dissemos, “a pátria-mãe do socialismo”. Em um segundo momento, apontou como inimigo todo aquele que se opusesse aos interesses do capitalismo de Estado, sob a tutela da burocracia soviética. A partir disso, os mais proeminentes quadros do bolchevismo, foram execrados como inimigos da “revolução” e perseguidos, torturados, presos e muitos deles executados. Depois disso, a contrarrevolução stalinista operou falsificações na teoria, sobretudo quando substituiu a contradição central entre classe opressora versus classe oprimida, pelo conceito de nações opressoras versus nações oprimidas, elegendo essa última contradição como sendo central.
          Através da Academia de Ciência da URSS, a contrarrevolução stalinista construiu um conjunto de falsos conceitos e dogmas, ao mesmo tempo que tolheu, violentamente, o livre debate, tão necessário à vida política. Uma das mais perversas distorções praticadas pela URSS foi o discurso dos dois mundos, que consistia em dizer que conviviam dois sistemas socioeconômicos distintos: o capitalismo decadente e o socialismo ascendente. Esse discurso alimentou a ação de uma vasta legião de militantes por muitos anos e, quando da queda do Muro de Berlim, ficou evidente a sua burla.
            Nesse processo, a “esquerda”, ficou reduzida a um nível de indigência tal, que o espaço para as elaborações teóricas passou a ser ocupado pelo “marxismo legal”, ou seja, um “marxismo” sabor burguês, patrocinado regiamente pela “generosa” burguesia que, além de conferir razoáveis remunerações aos seus acólitos, reservam-lhes uma boa parcela de prestígio. Esses senhores, que não passam de ilustres charlatães de uma presumida ciência política, são hoje operadores de um falso saber. São belos e sinistros ilusionistas.
            Caso se considere a Academia de Ciência da URSS como a grande fonte de atraso e de perversão teórica do socialismo, esse processo de rebaixamento veio a se acentuar, mais ainda, através do “marxismo legal”, embora ele se revista de formas eruditas e ostente títulos de mestres, doutores e pós doutores, fornecidos, fartamente, pela burguesia.
            Criou-se, pois, a rentável e segura profissão de “marxista”. Dessa maneira, torna-se imprescindível que os revolucionários tenham a coragem de enfrentar essa trapaça, negando-se em deixar que a chantagem preconceituosa possa lhes intimidar. É preciso distinguir a verdade da mentira, mesmo que essa mentira se apresente sob o manto “sagrado do saber” conferido pelas academias burguesas, como outrora se revestiu da indumentária de uma pretendida “academia proletária”, sediada em Moscou.
            Coragem. Eis a palavra de ordem que se coloca diante de nós, na imprescindível tarefa de dizer que “o rei está nu” e essa verdade, tão custosa, deve ser assumida em toda sua plenitude, mesmo sabendo que ela fere o consenso imposto pelo próprio capitalismo, interessado maior em turvar nossas mentes. Já se disse que a verdade é revolucionaria e é, por essa razão, alvo do boicote, da intolerância e da perseguição.

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