Ao
Diego Ferreira
Na verdade, nunca imaginei despertar
tanta fúria em uma pessoa como ao Diego Ferreira, quando escrevi um trabalho
sob o título “Pôr a viola no saco”. A raivosidade do Diego leva a que ele use
um velho truque stalinista, de rebaixamento, dizendo-me assemelhado ao Diogo
Mainardi ou à revista Veja. Trata-se de uma velha prática de se fugir do debate
pela acusação, buscando desqualificar aquele que ousa pensar e dizer diferente.
Pouco importa se alguém usou ou não
usou, antes, a expressão “stalinista-trotskista”. Isso é de somenos
importância. O que vale é buscar saber se a afirmação tem fundamento ou não.
Para sabê-lo, é necessário definir, com a maior justeza possível, o que é
stalinismo. Temos afirmado que esse fenômeno histórico não foi fruto da mente
diabólica do senhor Josef Stalin e seus asseclas e, sim, produto da derrota da
Revolução Socialista em escala mundial.
O fenômeno do stalinismo começou a
se esboçar, com maior força, através do X Congresso do PC Russo e o massacre do
Soviete de Kronstad, em 1921. No dito Congresso, foi tirada uma resolução
patrocinada pelos senhores Vladimir Lenin e Leon Trotsky, no sentido de impor
um único partido, um único discurso, a supressão do direito de tendência e a
aplicação extrema do monolitismo. Para consecução dessas resoluções, que feriam
de morte a democracia socialista, tornou-se necessária a criação de uma polícia
política, disposta a usar os métodos mais
cruéis de repressão aos dissidentes, fossem eles de direita e, mais ainda, de
esquerda. É verdade que a intenção dos proponentes dessa medida era de que ela
fosse transitória, mas, meu caro Diego, a história não se faz pelas intenções.
A partir do citado episódio, o X
Congresso, o processo contrarrevolucionário entrou em plano inclinado e veio se
consolidar com a chegada de Josef Stalin ao comando supremo, tanto do partido
quanto do Estado, indevidamente chamado de Estado Operário. A disputa que se
deu, entre as diversas troikas, teve um caráter palaciano. Quem passou a ideia
de que o stalinismo deu-se após a morte de Vladimir Lenin foi o senhor Leon
Trotsky e os seus seguidores. Leon Trotsky afirmou, categoricamente: “Nunca
imaginei que uma caçada de patos tivesse tanto desdobramento histórico”. Essa
afirmação é expressão de sua presunção de que, se ele tivesse participado do
enterro de Lenin, teria se apresentado como o seu legítimo herdeiro, e a
história teria tomado outro rumo. Isso raia à inocência, ao mais puro
idealismo, pois o destino da Revolução Russa não se limitava a Moscou e, sim,
residia, sobretudo, na Europa Ocidental.
Colocando o furor e a raivosidade de
lado, creio ser de bom proveito prosseguir na discussão dessa questão politicamente
vital, procurando ver que a derrota da Revolução Russa foi parte da derrota da
revolução mundial e não um fenômeno isolado.
A Terceira Internacional foi a
executora-mor da contrarrevolução e é ela que explica a ascensão do nazismo, a
derrota da guerra civil na Espanha, os percalços e os desvios da Revolução
Chinesa, o pacto de não agressão Stalin e Hitler, e outras tantas barbaridades.
O stalinismo, que tem as
características já apontadas, se revestiu de várias roupagens: o stalinismo
ortodoxo, o kruchevista, o maoísta, o fidelista e, porque não dizer, o
stalinismo em sua feição trotskista, quando contribuiu para equívocos funestes
como: Estado Operário burocratizado, revolução traída, revolução desfigurada,
revolução política regeneradora, e outros tantos despropósitos, que só se
prestaram a colaborar com uma visão equivocada da história.
Por muitos anos, colocou-se que o
antídoto do stalinismo era o trotskismo, e isso é totalmente falso. Trotsky não
rompeu com as resoluções do X Congresso de 1921. O trotskismo, sempre raivoso,
levou a excludência às últimas consequências e, como prova disso, temos
centenas de movimentos, partidos e grupos trotskistas, que se ocupam em se
agredirem reciprocamente. É sobre essas questões que devemos refletir, com a
coragem talvez bem maior do que aquela que nos permitiu enfrentar às câmaras de
tortura.
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