terça-feira, 8 de abril de 2014

Ao Diego Ferreira




Ao Diego Ferreira

            Na verdade, nunca imaginei despertar tanta fúria em uma pessoa como ao Diego Ferreira, quando escrevi um trabalho sob o título “Pôr a viola no saco”. A raivosidade do Diego leva a que ele use um velho truque stalinista, de rebaixamento, dizendo-me assemelhado ao Diogo Mainardi ou à revista Veja. Trata-se de uma velha prática de se fugir do debate pela acusação, buscando desqualificar aquele que ousa pensar e dizer diferente.
            Pouco importa se alguém usou ou não usou, antes, a expressão “stalinista-trotskista”. Isso é de somenos importância. O que vale é buscar saber se a afirmação tem fundamento ou não. Para sabê-lo, é necessário definir, com a maior justeza possível, o que é stalinismo. Temos afirmado que esse fenômeno histórico não foi fruto da mente diabólica do senhor Josef Stalin e seus asseclas e, sim, produto da derrota da Revolução Socialista em escala mundial.
            O fenômeno do stalinismo começou a se esboçar, com maior força, através do X Congresso do PC Russo e o massacre do Soviete de Kronstad, em 1921. No dito Congresso, foi tirada uma resolução patrocinada pelos senhores Vladimir Lenin e Leon Trotsky, no sentido de impor um único partido, um único discurso, a supressão do direito de tendência e a aplicação extrema do monolitismo. Para consecução dessas resoluções, que feriam de morte a democracia socialista, tornou-se necessária a criação de uma polícia política, disposta a usar os métodos  mais cruéis de repressão aos dissidentes, fossem eles de direita e, mais ainda, de esquerda. É verdade que a intenção dos proponentes dessa medida era de que ela fosse transitória, mas, meu caro Diego, a história não se faz pelas intenções.
            A partir do citado episódio, o X Congresso, o processo contrarrevolucionário entrou em plano inclinado e veio se consolidar com a chegada de Josef Stalin ao comando supremo, tanto do partido quanto do Estado, indevidamente chamado de Estado Operário. A disputa que se deu, entre as diversas troikas, teve um caráter palaciano. Quem passou a ideia de que o stalinismo deu-se após a morte de Vladimir Lenin foi o senhor Leon Trotsky e os seus seguidores. Leon Trotsky afirmou, categoricamente: “Nunca imaginei que uma caçada de patos tivesse tanto desdobramento histórico”. Essa afirmação é expressão de sua presunção de que, se ele tivesse participado do enterro de Lenin, teria se apresentado como o seu legítimo herdeiro, e a história teria tomado outro rumo. Isso raia à inocência, ao mais puro idealismo, pois o destino da Revolução Russa não se limitava a Moscou e, sim, residia, sobretudo, na Europa Ocidental.
            Colocando o furor e a raivosidade de lado, creio ser de bom proveito prosseguir na discussão dessa questão politicamente vital, procurando ver que a derrota da Revolução Russa foi parte da derrota da revolução mundial e não um fenômeno isolado.
            A Terceira Internacional foi a executora-mor da contrarrevolução e é ela que explica a ascensão do nazismo, a derrota da guerra civil na Espanha, os percalços e os desvios da Revolução Chinesa, o pacto de não agressão Stalin e Hitler, e outras tantas barbaridades.
            O stalinismo, que tem as características já apontadas, se revestiu de várias roupagens: o stalinismo ortodoxo, o kruchevista, o maoísta, o fidelista e, porque não dizer, o stalinismo em sua feição trotskista, quando contribuiu para equívocos funestes como: Estado Operário burocratizado, revolução traída, revolução desfigurada, revolução política regeneradora, e outros tantos despropósitos, que só se prestaram a colaborar com uma visão equivocada da história.
            Por muitos anos, colocou-se que o antídoto do stalinismo era o trotskismo, e isso é totalmente falso. Trotsky não rompeu com as resoluções do X Congresso de 1921. O trotskismo, sempre raivoso, levou a excludência às últimas consequências e, como prova disso, temos centenas de movimentos, partidos e grupos trotskistas, que se ocupam em se agredirem reciprocamente. É sobre essas questões que devemos refletir, com a coragem talvez bem maior do que aquela que nos permitiu enfrentar às câmaras de tortura.



            

Nenhum comentário:

Postar um comentário