Ao
Michael Bocádio
Camarada Michael,
Fiquei
sensibilizado com a sua declaração de que precisamos preservar um espaço aberto
e, sobretudo democrático, onde as diferenças possam vir à luz sem que haja a
excludência e as ofensas desrespeitosas.
Nos meus
55 anos de militância socialista não tive a oportunidade de encontrar a chamada
“democracia proletária”. Regra geral, revistas, jornais e outras mídias dos
mais diversos grupos “marxistas-leninistas” e “marxistas-leninistas-trotskistas”
têm uma postura de exclusão. Nada publicam que contrarie o discurso oficial e
único do agrupamento.
Recentemente,
fui vítima de um ato de exclusão por parte do jornal eletrônico “Correio da
Cidadania”. Após ter publicado um artigo sob o título: “Aos trotskistas”, a
direção do referido jornal foi pressionada para que eu não dispusesse mais
daquele espaço tão importante. Essa atitude de excludência, essa atitude antidemocrática
é de natureza stalinista, ou seja, é uma atitude que conserva fidelidade às
resoluções do X Congresso do PC Russo, de 1921, aprovadas sob o patrocínio de
Vladimir Lenin e Leon Trotsky, e que tinha a pretensão de ser temporária.
O
monolitismo apoiado no discurso único, no partido único, na imprensa única,
tomou formas bastante agudas com a plena consolidação do stalinismo em suas
diversas roupagens, inclusive o stalinismo trotskista. E, quando vejo você,
camarada Michael, clamar pelo livre debate, isso me traz alegria e espero que
essa postura ganhe espaço e a democracia proletária passe a existir de fato.
Temos
uma lista quase infinda de questões a serem respondidas, com a máxima urgência
e seriedade, e isso só pode ser feito através do livre debate, respeitoso e sem
preconceitos.
Diante
de nós, socialistas revolucionários, existe o dever de responder aos seguintes
questionamentos: Como se explica a sobrevivência do sistema capitalista,
completamente exaurido e despido de qualquer proposta de esperança? Será justo
imputar essa indevida sobrevivência à competência política do inimigo sem nos
reportarmos à incompetência dos que sempre ostentaram o título de “marxistas-leninistas”
ou “marxistas-leninistas-trotskistas”? Não é de bom alvitre parar de atribuir
ao inimigo às razões dos nossos inúmeros insucessos? Não é oportuno deixar
claro que o papel do inimigo é ser inimigo e que eles não mandam flores?
Além
dessas, meu caro Bocádio, se seguem outras tantas interrogações que merecem a atenção
de nossa parte e a coragem de cortar, na própria carne, para que a verdade
histórica possa ser desvelada e as lendas, mentiras e fraudes sejam expurgadas
do nosso pensar e do nosso fazer.
Fortaleza,
24 de abril de 2014.
Gilvan Rocha
Presidente
do CAEP -
Centro de Atividades e Estudos Políticos
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