quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Autocrítica



Autocrítica

Como todos os mortais, tenho vários defeitos. Um deles, não sei se o mais grave, é o de idealizar pessoas e circunstâncias. Isso tem me levado a grandes equívocos. Em outras palavras, eu diria que isso tem me levado a apostar no “cavalo” errado.

Francamente, não sei como superar tal defeito. Até parece, pelos indícios, que o herdei do meu saudoso pai. Mas, vez ou outra, as minhas apostas têm tido algum cabimento e isso tem me compensado nessa dura caminhada em busca da emancipação humana, em busca do socialismo, palavra tão enlameada, tão conspurcada, quanto tornaram-se as palavras social-democracia e comunismo.

Não obstante, meus lamentos em acumular tantos enganos quanto a pessoas e circunstâncias tem me cabido, por dever de justiça, reconhecer que esses equívocos se dão no que diz respeito ao “varejo”, enquanto no “atacado” tenho tido a clareza necessária para enxergar a verdade, despida de ilusões e fantasias.

Isso se deu, por exemplo, em 1964, quando tive a clareza de que a ilusão do caminho gradual para o socialismo era uma fraude e que se avizinhava a contrarrevolução em forma de golpe de Estado.

Novamente, em 1973, com a eleição de Salvador Allende, no Chile, tive a clareza de que aquela aventura pacifista haveria de trazer um único resultado: Um sangrento golpe de Estado que, no caso, foi liderado pelo famigerado General Pinochet, cumprindo à risca o seu nefasto papel de guardião da ordem burguesa.

Tive a lucidez em ver que a festejada vitória dos vietcongues, tão aplaudida, não seria lembrada após se passar dez anos em que aqueles insurretos vietnamitas invadiram, gloriosamente, a velha Hanói.

Essa qualidade em não me deixar contaminar pelas ilusões históricas deve compensar o desvio em acalentar fantasias, fruto dos meus desejos, quando se tratam de pessoas e circunstâncias, embora isso não deixe de ser um fator prejudicial à minha militância socialista. Mas talvez esse fato seja a fonte que produz motivações para a minha tão dura luta, impregnada da mais cruel solidão, nas minhas certezas, de que a História tem se encarregado de comprová-las justas e pertinentes. Entretanto, isso não me faz feliz, pois preferiria que se desse o contrário. Eu, cometendo enganos e, a maioria, praticando acertos.




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