quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mandante e pistoleiro




            No nordeste brasileiro, dão-se os crimes de pistolagem. Por vários motivos, algum ricaço que pretenda efetuar a execução de um desafeto, procura os serviços de um matador de aluguel (pistoleiro) para fazê-lo. Quando ocorre ser descoberto quem executou o crime de morte, acontece ser o executante, o pistoleiro, o alvo dos rigores da “justiça”.            O mandante fica de fora.  Dessa forma, ele se resguarda, enquanto o pistoleiro é demonizado. Não se pretende dizer que o matador de aluguel, deva ser isentado de culpa. Porém, achamos injusto que aquele executante, disposto a sujar suas mãos, venha ocultar aquele que, respaldado pelo dinheiro, ensejou o crime, conservando suas “mãos limpas”.
            Há um paralelo entre o mandante do crime de pistolagem e a burguesia, no que diz respeito ao golpe de Estado de 1964 no Brasil. Quando se diz que o referido golpe de Estado foi militar, põe-se fora do alcance o mandante e se atribui àquele que foi mandado, ao militar, toda a responsabilidade pelo ocorrido. Caso não saibamos, é necessário dizer que as Forças Armadas, se constituem em peça de sustentação do capitalismo. Esses militares, são treinados para intervir em momentos mais agudos de ameaça à ordem socioeconômica vigente, e sempre o faz em nome da pátria. É necessário que se diga que as tropas, treinadas e disciplinadas, são sempre subalternas, qual o pistoleiro. Elas só se põem em movimento quando falta a classe burguesa os meios pacíficos para se manter no poder.
            Dessa maneira, os militares, a serviço do capitalismo, dispõem-se a fazer o trabalho sujo, como se viu aqui no Brasil, durante todo o tempo do estado de exceção, da ditadura, prestando-se às práticas mais repulsivas de repressão. Isso não se deu somente no Brasil. Na Argentina, a burguesia ameaçada, lançou mão das “gloriosas” Forças Armadas daquele país para perpetrar o seu golpe de Estado e implementar uma sórdida política repressiva, causando a morte e o desaparecimento de milhares e milhares de militantes. No Chile, teve-se a ditadura, capitaneada pelo general Augusto Pinochet.
            Esses e outros fatos deixam claro o papel dos militares. Recorrendo-se à imagem que fizemos, não seria demais dizer que a burguesia, como mandante, manteve as mãos limpas, enquanto os militares exerceram o papel dos pistoleiros, encharcando as mãos no trabalho sujo, prendendo, matando, torturando, censurando atividade jornalística e cultural, tudo em defesa da ordem socioeconômica em curso.
            Assim, conclui-se que é um trabalho de deseducação política, aceitarmos a afirmação de que houve no Brasil um golpe militar. O que houve, de fato, foi um golpe contrarrevolucionário, de caráter bonapartista. Devemos repelir, portanto, essa manobra, tão do interesse da burguesia em não revelar o verdadeiro conteúdo de classe do aludido episódio.

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