segunda-feira, 26 de maio de 2014

Nada pessoal






Nada pessoal

As diferentes escolas stalinistas produzem severas distorções tanto conceituais quanto de comportamento. Vamos à raiz da questão: quando da vitória da contrarrevolução em escala mundial, na década de vinte do século passado, ocorreu um fato de graves consequências. Depois de uma renhida disputa entre revolução e contrarrevolução, no interior da URSS, esta última conseguiu se consolidar e ocorreu que a URSS, contrarrevolucionária, se autoproclamou a “pátria-mãe” do socialismo e o Partido Comunista russo apresentou-se como legítimo herdeiro da revolução e representante único do povo. A partir dessa falsa premissa, construiu-se o seguinte raciocínio: quem criticasse ou se opusesse aos “senhores da causa socialista” era apontado como agente do inimigo e traidor do “povo”.
Os agrupamentos de matriz stalinista passaram a se considerar como “o povo eleito de Deus” e todos aqueles que se opusessem aos seus interesses eram considerados infiéis e, por isso, mereceriam ser abatidos a ferro e fogo. Os dissidentes não eram considerados adversários e, sim, ferrenhos inimigos. Essa cultura, nascida no seio da revolução russa derrotada, foi cultivada abusivamente por todos esses últimos noventa anos e essa prática é corriqueira entre as agremiações stalinistas, sejam elas ortodoxas ou maoísta, fidelista, kruchevista e, sobretudo, trotskista.
Não compreendem os mais devotados e fiéis seguidores dessas seitas que as críticas apontadas contra o stalinismo e as que são feitas em relação aos fatos históricos nada têm de pessoal. Não compreendem que, do ponto de vista pessoal, reconhecemos pessoas de boa fé entre os que seguem os mais diversos credos. Reconhecemos que a legião de seguidores da Igreja Universal é povoada, maciçamente, por gente possuída de indiscutíveis boas intensões. Dessa mesma forma, atribuímos qualidades morais aos beatos acríticos que se contentam com o carimbo do “marxismo-leninismo” e do “marxismo-leninismo-trotskismo”. Portanto, as críticas feitas não têm nenhum caráter pessoal e nos entristece o fato de que alguns companheiros dessa presumida esquerda, não entendam as coisas dessa forma e tenham um tratamento hostil, quando não evidentemente mal educado, no trato com os que pensam diferente.
Essa conduta, eivada de intolerância, prejudica o livre debate e, consequentemente, a elucidação dos “enigmas” políticos e históricos. Seria de bom grado uma mudança radical desse comportamento e, ao invés do rancor, da fúria, houvesse o propósito de submeter os conceitos à discussão, de forma livre e fraterna.
É evidente que, enquanto a grande massa dos credos é formada por pessoas bem intencionadas, existe uma ínfima minoria que deve ser denunciada em função do seu caráter desonesto e oportunista. Por exemplo: a distorção havida na Terceira Internacional, quando esse organismo político foi transformado na grande multinacional da contrarrevolução, por trás disso existiam aqueles que, conscientemente, sacrificavam os interesses do socialismo em função dos interesses mesquinhos do capitalismo de Estado que se processava na URSS, e tudo isso era e continua sendo feito em nome do “marxismo-leninismo”.
Quanto ao trotskismo, ele se restringiu em ser uma dissidência da Terceira Internacional. Entretanto, encampou todos os elementos do stalinismo. Não reconheceu a derrota, não denunciou com a devida veemência as resoluções do X Congresso do PC russo, de 1921, não se opôs ao monolitismo e não teve, como não tem, pejo em praticar a calúnia e outros expedientes desprezíveis no processo de suas disputas políticas.
Enfim, vale dizer que todas essas questões não podem ser vistas como de ordem pessoal e, sim, como estritamente de caráter político-ideológico e sempre sujeitas a contestações. Somente por essa via haveremos de ter uma outra esquerda provida do conhecimento e de uma prática que se preste a colaborar efetivamente com o processo revolucionário e não o que sempre se fez, ou seja, tudo que contribuiu e contribui para a sobrevivência do capitalismo, hoje gozando de uma suprema liderança política sobre o mundo, embora vivendo sucessivas crises de caráter econômico e financeiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário