segunda-feira, 19 de maio de 2014

O grande desafio




O grande desafio

            O maior desafio que têm os “marxistas-leninistas” e os “marxistas-leninistas-trotskistas”, de boa fé, ou seja, a força política que se autoproclama de esquerda, como temos dito reiteradamente, é de responder, com clareza, ao seguinte questionamento: Como se explica o fato de o capitalismo, vivendo sucessivas crises econômicas e financeiras, conseguir ter a hegemonia política?
            Formulemos melhor. O capitalismo quando rompe com o feudalismo, através de suas sucessivas revoluções vitoriosas, traz consigo um projeto indiscutivelmente revolucionário. Nos legou a democracia política, com o voto universal e secreto; o direito de ir e vir; liberdade de opinião e organização, e outros ganhos. Progressista em seu desabrochar, com o passar dos tempos, quando avançou de sua fase liberal para a fase monopolista e, por fim, para a sua fase imperialista, tornou-se anacrônico. Por outro lado, em sua última fase, ele cria todas as condições objetivas para o advento de uma nova ordem econômica e social, o socialismo.
O capitalismo imperialista passou a permitir situações dramáticas, contrárias aos interesses da humanidade. Na lista quase infinda de seus absurdos podemos recorrer à crueldade da Primeira Grande Guerra interimperialista que devastou a Europa. Em seguida, veio a chamada Segunda Grande Guerra, com todo o seu rosário de desatinos. É também produto desse sistema exaurido o nazifascismo e o holocausto. Não podemos deixar de incluir o bombardeio de Hiroxima e Nagasaki, que massacrou muitas vidas. Não bastassem tantos crimes, esse sistema mantém uma cifra próxima a 2 bilhões de seres humanos vivendo abaixo da linha de pobreza.
Face a esses fatos, retornemos ao nosso questionamento: Como um sistema claramente esgotado, vivendo na UTI da história, sem poder oferecer soluções para as inúmeras mazelas sociais, sem poder oferecer qualquer perspectiva de felicidade, se mantém de pé? Eis o questionamento básico para todos os que repudiam essa realidade e almejam um outro tipo de sociedade, baseado na convivência harmoniosa e fraterna entre todos.
Das academias ouvimos um discurso equivocado quando afirmam que a sobrevivência do capitalismo deve-se à sua capacidade de reinventar. Essa afirmação comete dois graves pecados. O primeiro deles é não considerar que uma presumida capacidade de se reinventar não é infinda e, assim, esgotado esse meio, haveremos de ser arrastados para a tragédia total, caso o socialismo não tenha força para se impôr como alternativa. O segundo grave erro, ou melhor, a esperteza de alguns, consiste em imputar a competência do inimigo em se manter e, dessa forma, fugir da tarefa que devia ter o movimento socialista em considerar suas responsabilidades, atentando para o fato de que, enquanto a burguesia cumpriu e cumpre o seu papel histórico, o mesmo não aconteceu e não acontece com os seus opositores. Muito pelo contrário.
O stalinismo construiu uma cultura em que um dos pilares é a sua “infalibilidade”. Tornou-se um refrão a afirmação do tipo: “O Partido nunca erra”. Fiel a essa deslavada mentira é que toda análise de uma esquerda de matriz stalinista segue o caminho esdrúxulo de culpar o inimigo pelos nossos insucessos, como se não fosse o papel do inimigo buscar a derrota do socialismo.
Em se tratando do Brasil, por exemplo, diante do Golpe de 1964, eles afirmam: “O Golpe nasceu em Washington”, como se não fosse esse o papel deles. Diante do golpe, que depôs o governo de Salvador Allende, no Chile, em 1973, eles proclamam que foi a CIA quem articulou a queda do governo chileno. Quanto ao massacre havido na Indonésia, em 1965, por ocasião de um golpe de Estado, eles, da esquerda stalinista, se empenham em esconder o episódio e não assumem que aquele massacre decorreu da política moscovita em propor um caminho pacífico para o socialismo.
A infeliz verdade é que todos os princípios do socialismo revolucionário foram revogados pela contrarrevolução que se instalou na URSS, na década de vinte do século passado. Em lugar do princípio da luta de classes, em lugar do princípio classe opressora versus classe oprimida, impôs-se o “princípio” nação opressora versus nação oprimida. Seguiu-se a esse estupro político e ideológico a construção de toda uma cultura falando em nome do socialismo e do comunismo e nos levando a um empobrecimento político sem precedentes.
Decorre desses fatos que, a presumida esquerda ficou reduzida a um mero antiamericanismo, atropelando o conceito de imperialismo e passando ao largo do fato de que ser antiamericano não implica em ser anticapitalista, em ser socialista. Porém, ser socialista, vai muito além do antiamericanismo, colocando-se como oposição global ao sistema vigente. Prova de que o antiamericanismo não é socialista está no fundamentalismo fascista islâmico, representado pelo Irã, Síria, Talibã e outras forças, cujo móvel político é sua posição anti-ianque, e isso desperta simpatias da esquerda convencional, quando o correto seria compreender que pretendemos derrotar o imperialismo, porém, superando-o através do socialismo, e não derrotá-lo por via do fascismo, do ultradireitismo.
Parece-nos evidente que os sucessivos erros e a “infalibilidade” da esquerda stalinista é onde se encontra a resposta para a descabida sobrevivência da ordem econômica e social vigente.
Na história, cabe às partes, cumprir os seus papéis. A burguesia, como já dissemos, cumpriu e cumpre os seus. Resta, aos socialistas revolucionários, buscar desempenhar a sua tarefa no sentido de conquistar a transformação social. Nisso reside o cerne de nosso desafio, até porque, se eles estão em crise, a crise do movimento socialista se apresenta como muito mais profunda, muito mais aguda.

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