O
martírio e a bravura
Os filmes que têm explorado os episódios em tempo de
ditadura, particularmente após o seu segundo momento, ou seja, após 1968,
prendem-se a revelar o martírio e a bravura dos que, de arma em punho, opuseram-se
à ditadura contrarrevolucionária instalada no Brasil. Mostram, com fatos e
cenas, o quanto cruéis e sanguinários eram os inimigos. Aliás, esses predicados
são próprios dos inimigos, particularmente os de natureza político-ideológica,
e não se ativeram apenas ao Brasil. Argentina, Chile, Indonésia, são exemplos
gritantes de um alto grau de crueldade.
Além de se aterem ao martírio, esses filmes, feitos com tanto
esmero, denunciam os fatos da época, ressaltam com justiça, o grande grau de
bravura dos militantes que se levantaram contra a ditadura. É inequívoco que a
coragem é um dado muito importante para quem se lança ao confronto, mas não é
um predicado que se atenha somente aos socialistas. Vamos encontrá-lo em
diversos credos, basta que vejamos a bravura dos “homens-bomba” a serviço do
fascismo fundamentalista islâmico.
Livros e películas, publicados fartamente, passam ao
largo da questão central, qual seja: mantêm distância da discussão quanto à
natureza do golpe perpetrado pelo braço armado da burguesia, os militares. Com
o propósito de desconhecer o caráter de classe da luta política e social, os
“cientistas políticos”, produzidos às carradas pela academia burguesa, com a
conivência da mal informada esquerda direitosa, preferem chamar o episódio de
1964 de golpe militar e, os anos de governo de exceção, de ditadura militar.
Somente
após 50 anos é que os acadêmicos e os comentaristas políticos “avançaram” para a
denominação de golpe civil-militar, o que é uma impropriedade, uma vez que o
ato de força foi uma tomada de posição política, assumida pela burguesia,
diante da crescente radicalização do movimento de massa. As forças armadas
funcionaram, sob o comando político da burguesia. Tanto isso é verdade que,
cumprida a tarefa de afastar o perigo revolucionário, os militares voltaram aos
seus quartéis, para lá ficarem no aguardo de nova ordem, no sentido de defender
o sistema capitalista a quem eles servem.
Essa
análise não foi feita, ficou na superfície, não se atendo à verdade histórica,
e isso é lamentável, quando sabemos que contribui para tanto o papel da
esquerda direitosa que, há muito, revogou a luta de classes para mergulhar nos
estreitos limites de um raivoso antiamericanismo e do antineoliberalismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário