sexta-feira, 16 de maio de 2014

Um diabo camarada




Um diabo camarada
          
                                                                                                                
Insistimos em lembrar aos desavisados de que há uma diferença essencial entre poder e governo. O poder é permanente e representa, no capitalismo, os interesses gerais da burguesia. Já o governo é transitório e representa uma determinada política econômica. A história tem mostrado que, quando os governos conflitam com o poder ou colocam em risco os interesses gerais da burguesia, são depostos. Poderíamos recorrer a centenas de exemplos históricos desse fato, porém, nos ateremos a comentar os exemplos do Chile e do Brasil.
No Chile, em 1970, foi eleito para a Presidência daquele país, o socialista Salvador Allende. Logo que assumiu a presidência ele passou a tomar medidas que, além de contrariarem o sistema, colocavam em risco a sua estabilidade. E o que ocorreu?  Através de seu braço armado a burguesia desfechou um golpe de Estado, em 1973, depondo o governo popular.
Aqui, no Brasil, em 1964, foi dado um golpe de Estado de caráter bonapartista, com o claro propósito de afastar o “perigo” de revolução social uma vez que as massas populares radicalizavam e a direção reformista estava perdendo o seu controle.
Feitas essas observações quanto a diferença entre governo e poder, queremos relembrar o que temos dito, com certa insistência, de que o inferno não deixa de ser infernal mudando-se apenas o diabo de plantão. Pode ser que um diabo ou outro desligue uma caldeira ou duas, mas o inferno continuará infernal, por definição.
Acontece que a velha esquerda nacional-reformista resolveu, há algum tempo, vestir a fantasia do diabo camarada, como expressa o bordão “o modo petista de governar”. Tratar-se-ia de um modo criativo de gerenciar o inferno, quer dizer, gerenciar o capitalismo de maneira a torná-lo humanizado. Para sermos generosos diríamos que isso é um grande equívoco decorrente da indigência política da velha esquerda sem discurso. A verdade é que não existe nenhum diabo camarada que possa mudar a face cruel de um sistema exaurido.

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