Deu
um nó
Coloquemos os fatos de forma bastante clara, mesmo tendo
que repetir alguns argumentos. Na década de vinte, do século passado, no
confronto mundial entre a proposta do socialismo e a proposta
contrarrevolucionária do imperialismo, venceu, de forma plena e profunda, a
contrarrevolução, incluindo-se, aí, a própria URSS. Algumas tragédias
seguiram-se em decorrência desse fato. A primeira grande tragédia foi cometida
por parte dos mais representativos líderes revolucionários russos não terem
reconhecido, em tempo hábil, a derrota. Caso tivesse ocorrido esse
reconhecimento, haveria a possibilidade de um recuo tático para recomposição
das forças. A segunda grande tragédia foi travestir a contrarrevolução russa em
esquerda “marxista-leninista”. Desse processo de derrota surgiu um fenômeno
histórico chamado stalinismo que, usando o carimbo “marxista-leninista”, passou
a ser, de fato, uma direita travestida de esquerda. A terceira grande tragédia
deveu-se ao fato de que uma dissidência nascida no âmago da Terceira
Internacional stalinista, uma dissidência que não rompeu com os fundamentos da
perversão contrarrevolucionária, conservando-se fiel às resoluções do X
Congresso do PC Russo, de 1921, e que teriam um caráter presumidamente
transitório, porém foram “eternizadas”. Essa dissidência conservou-se no âmbito
do stalinismo.
Criaram-se, pois, duas grandes correntes da
contrarrevolução vitoriosa. A primeira, representada pela direita explícita,
pelo imperialismo, guardião dos interesses gerais do capitalismo. A segunda
corrente contrarrevolucionária apresentou-se travestida de esquerda, usando o
rótulo do “marxismo-leninismo” ou do “marxismo-leninismo-trotskismo”. A
confluência dessas duas grandes forças contrarrevolucionárias formou um círculo
de ferro e aço quase impossível de romper. Esse círculo tornou-se responsável
pelo nível de indigência teórica a que chegou essa presumida esquerda,
tropeçando ou renegando os princípios mais comezinhos do socialismo
revolucionário. Em função desse fato, deu-se
um nó na cabeça da militância, em geral, inclusive daqueles que, se
julgando teóricos, não ultrapassam os limites dos preceitos
contrarrevolucionários, cuja expressão maior é o antiamericanismo.
A Academia de Ciências da URSS foi um dos grandes berços
da idiotização política. Primeiro, ela revogou a luta de classes como
contradição principal para eleger a contradição nação opressora versus nação
oprimida. Depois, cerceou qualquer livre debate e impôs, ferreamente, o
monolitismo e, todo aquele que se atrevesse a questioná-lo, estaria sujeito à
acusação de inimigo do povo. A dissidência “stalinista-trotskista” não se
propôs romper esse círculo de ferro e aço. Partindo de conceitos equivocados,
do tipo revolução traída, revolução desfigurada, revolução política
regeneradora, estado operário burocratizado e outras impropriedades,
construiu-se uma falsa saída e a convergência desses fatos levou a que se
promovesse um verdadeiro bloqueio do pensar socialista. Esse bloqueio leva a
situações das mais estapafúrdias, a começar pela aceitação da fraude de que
existiriam dois mundos, dois sistemas socioeconômicos distintos convivendo
pacificamente. Depois, permitiu que brotasse uma gama de “marxistas legais”,
que correm às léguas da discussão em torno de questões como a proposta
kruchevista da conquista do socialismo por vias pacíficas. Esses “marxistas legais”
preferem o ambiente gelatinoso da subjetividade do tipo, “para além do capital”,
e nenhuma palavra tem a dizer sobre os golpes da Indonésia, do Chile e do
Brasil, para citar apenas alguns casos.
Observando com a devida acuidade o nosso quadro, enxergamos
um estado de indigência tal que nos leva a crer no fato da contrarrevolução,
representada pela direita explícita e pelo stalinismo fantasiado de esquerda, ter
promovido um verdadeiro nó no pensar, o que nos deixa numa situação da mais
profunda pobreza teórica em relação à conjuntura que hoje se apresenta, cujo
fato está explícito na ampla hegemonia política do imperialismo e na ausência
de qualquer movimento de caráter anticapitalista, dotado de significativo peso.
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