Genésio
O Genésio é nosso amigo. Trata-se de uma pessoa
diferente. Não sabemos se ele é apenas um cínico; mas tem a capacidade de pôr o
dedo nas feridas. Vejamos um caso: Genésio diz que a nossa cultura judaico-cristã
nos leva ao maniqueísmo, a luta do bem e do mal, e essa postura contamina o
pensar dos socialistas. Há o hábito de se considerar que a burguesia é, intrinsecamente,
má, corrupta, hipócrita. Por sua vez, alguns socialistas são levados a
idealizar os trabalhadores como a classe de bons sentimentos e práticas
irreparáveis, e isso é um engano. Na verdade, a burguesia coloca-se como
exploradora e opressora das classes populares. Isso, entretanto, não implica em
atribuir aos trabalhadores à condição de portadores de indiscutíveis virtudes.
Quando da Revolução Russa, em 1917, Rosa Luxemburgo
acusou o proletariado alemão de ter dado às costas aos revolucionários russos,
tangidos por equívocos ou por interesses imediatos e mesquinhos. Vê-se, com
frequência alarmante, sindicalistas lutarem por um “sindicalismo de resultado”,
que lhes assegure o ganho de pequenas migalhas, enquanto renegam os seus
interesses históricos, que seriam anticapitalistas e emancipadores.
Baseado
na contestação do discurso maniqueísta é que o Genésio diz: “A corrupção não é
monopólio da classe burguesa; ela trespassa todas as camadas e classes
sociais”. Os casos que fundamentam essa afirmação são múltiplos e constantes, e
se revelam em vários momentos da vida diária. É um jeitinho aqui que, trocando
por alguma vantagem, alguém consegue favores ilegais. Ali é o propósito
constante em tirar vantagens individuais.
As
posturas que revelam a fragilidade moral de toda a sociedade capitalista,
inclusive dos explorados e oprimidos, ficam mais evidentes nos processos
eleitorais. Um trabalhador, diante do pedido de votar em alguém, pede uma
compensação sem se interessar se o seu voto irá beneficiar um malfeitor. Mas
não são somente os simples trabalhadores que se comportam dessa forma. Inúmeros
são os casos de pessoas “esclarecidas”, da classe média e letrada, que usam os
seus votos para barganhar um emprego ou outras vantagens, inclusive o velho
dinheiro da gasolina.
Com
esse discurso, proferido pelo Genésio, fica-nos o convencimento de que ele não
é um simples pensante cínico e, sim, alguém que tem percepção da realidade, e
essa realidade não é dotada do caráter maniqueísta que separa os bons dos maus.
A corrupção do sistema atinge todo o coletivo e essa verdade precisa de ser
encarada para que fujamos da romantização e do paternalismo improcedente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário