quarta-feira, 9 de julho de 2014

Genésio



Genésio

            O Genésio é nosso amigo. Trata-se de uma pessoa diferente. Não sabemos se ele é apenas um cínico; mas tem a capacidade de pôr o dedo nas feridas. Vejamos um caso: Genésio diz que a nossa cultura judaico-cristã nos leva ao maniqueísmo, a luta do bem e do mal, e essa postura contamina o pensar dos socialistas. Há o hábito de se considerar que a burguesia é, intrinsecamente, má, corrupta, hipócrita. Por sua vez, alguns socialistas são levados a idealizar os trabalhadores como a classe de bons sentimentos e práticas irreparáveis, e isso é um engano. Na verdade, a burguesia coloca-se como exploradora e opressora das classes populares. Isso, entretanto, não implica em atribuir aos trabalhadores à condição de portadores de indiscutíveis virtudes.
            Quando da Revolução Russa, em 1917, Rosa Luxemburgo acusou o proletariado alemão de ter dado às costas aos revolucionários russos, tangidos por equívocos ou por interesses imediatos e mesquinhos. Vê-se, com frequência alarmante, sindicalistas lutarem por um “sindicalismo de resultado”, que lhes assegure o ganho de pequenas migalhas, enquanto renegam os seus interesses históricos, que seriam anticapitalistas e emancipadores.
Baseado na contestação do discurso maniqueísta é que o Genésio diz: “A corrupção não é monopólio da classe burguesa; ela trespassa todas as camadas e classes sociais”. Os casos que fundamentam essa afirmação são múltiplos e constantes, e se revelam em vários momentos da vida diária. É um jeitinho aqui que, trocando por alguma vantagem, alguém consegue favores ilegais. Ali é o propósito constante em tirar vantagens individuais.
As posturas que revelam a fragilidade moral de toda a sociedade capitalista, inclusive dos explorados e oprimidos, ficam mais evidentes nos processos eleitorais. Um trabalhador, diante do pedido de votar em alguém, pede uma compensação sem se interessar se o seu voto irá beneficiar um malfeitor. Mas não são somente os simples trabalhadores que se comportam dessa forma. Inúmeros são os casos de pessoas “esclarecidas”, da classe média e letrada, que usam os seus votos para barganhar um emprego ou outras vantagens, inclusive o velho dinheiro da gasolina.
Com esse discurso, proferido pelo Genésio, fica-nos o convencimento de que ele não é um simples pensante cínico e, sim, alguém que tem percepção da realidade, e essa realidade não é dotada do caráter maniqueísta que separa os bons dos maus. A corrupção do sistema atinge todo o coletivo e essa verdade precisa de ser encarada para que fujamos da romantização e do paternalismo improcedente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário