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fonte
Um certo jovem, do alto da
sua ingenuidade ou da sua compreensível petulância, solicitou-nos alguns
exemplares do Manifesto Comunista, de Marx e Engels, com o propósito de
organizar um grupo de estudo que se voltasse para “a fonte”.
Seria de extrema importância
que esse jovem percebesse o fato de que, todos os militantes dos partidos ditos
comunistas, espalhados mundo afora, leram o citado Manifesto e declamaram
vários dos seus textos. O aludido documento histórico tinha lá escrito: “O proletariado não tem pátria”. Apesar
disso, esses militantes não se sentiram impedidos, em um primeiro momento, na
vigência da Segunda Internacional Socialista, de se tornarem sociais-
patriotas, assumindo com todo vigor, com toda veemência, a defesa nacional como
bandeira maior da luta.
Por seu turno, o referido
documento afirma, com todas as letras, que a tarefa de libertação dos
trabalhadores só poderá ser obra dos próprios trabalhadores. Isso, porém, não
impediu nem impede que seus leitores, por sua maioria, defendam a existência do
“partido libertador” e leve, até às últimas consequências, o famigerado
substituímos, quando o partido substitui as “massas ignaras”, o Comitê Central
substitui o partido e uma figura ungida substitui o próprio Comitê Central.
Dessas figuras ungidas, infalíveis e sacramentadas, destacam-se: Lenin, Stalin,
Mao Tsé-Tung, Pol Pot, Fidel Castro...
“Na fonte”, está bem claro o
caráter de classe do Estado, porém isso não impediu nem impede que certa
esquerda seja estatista, comungando com o logro burguês de que a propriedade
estatal é propriedade pública, levando-nos a uma falsa dicotomia entre o
público (supostamente do povo) e o privado. Sendo, essa última, propriedade
burguesa.
Os autores dos clássicos,
por sua vez, não viveram o fenômeno da contrarrevolução stalinista, ou seja, a
contrarrevolução fantasiada de esquerda, usando o carimbo “marxista-leninista”,
quando não, “marxismo-leninismo-trotskismo”.
As obras fundamentais do
socialismo revolucionário, quando não escamoteadas, foram transformadas em livros
sagrados, lidos de forma acrítica e sem que se pudesse praticar o livre debate
e, sem esse debate, tudo se torna letra morta.
Não houve nem haverá fórmula
mágica para ultrapassarmos a barreira da indigência política e ideológica que
não seja o restabelecimento do livre debate, seja em torno dos valiosos
clássicos, ou seja, diante de tanto charlatanismo, em livre curso, nas hostes
acadêmicas, financiado, generosamente, pela burguesia sempre disposta a acolher,
no seu seio, a ampla divulgação do infindo subjetivismo. Esse subjetivismo é o
pilar de sustentação do “marxismo legal”. Por outro lado, a burguesia está
sempre disposta a conferir títulos acadêmicos aos ingênuos ou aos sacripantas
que fazem dos seus “credos” um seguro e prestigiado meio de vida.
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