sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ir à fonte

Ir à fonte

Um certo jovem, do alto da sua ingenuidade ou da sua compreensível petulância, solicitou-nos alguns exemplares do Manifesto Comunista, de Marx e Engels, com o propósito de organizar um grupo de estudo que se voltasse para “a fonte”.     
     
Seria de extrema importância que esse jovem percebesse o fato de que, todos os militantes dos partidos ditos comunistas, espalhados mundo afora, leram o citado Manifesto e declamaram vários dos seus textos. O aludido documento histórico tinha lá escrito: “O proletariado não tem pátria”. Apesar disso, esses militantes não se sentiram impedidos, em um primeiro momento, na vigência da Segunda Internacional Socialista, de se tornarem sociais- patriotas, assumindo com todo vigor, com toda veemência, a defesa nacional como bandeira maior da luta.

Por seu turno, o referido documento afirma, com todas as letras, que a tarefa de libertação dos trabalhadores só poderá ser obra dos próprios trabalhadores. Isso, porém, não impediu nem impede que seus leitores, por sua maioria, defendam a existência do “partido libertador” e leve, até às últimas consequências, o famigerado substituímos, quando o partido substitui as “massas ignaras”, o Comitê Central substitui o partido e uma figura ungida substitui o próprio Comitê Central. Dessas figuras ungidas, infalíveis e sacramentadas, destacam-se: Lenin, Stalin, Mao Tsé-Tung, Pol Pot, Fidel Castro... 

“Na fonte”, está bem claro o caráter de classe do Estado, porém isso não impediu nem impede que certa esquerda seja estatista, comungando com o logro burguês de que a propriedade estatal é propriedade pública, levando-nos a uma falsa dicotomia entre o público (supostamente do povo) e o privado. Sendo, essa última, propriedade burguesa. 

Os autores dos clássicos, por sua vez, não viveram o fenômeno da contrarrevolução stalinista, ou seja, a contrarrevolução fantasiada de esquerda, usando o carimbo “marxista-leninista”, quando não, “marxismo-leninismo-trotskismo”.

As obras fundamentais do socialismo revolucionário, quando não escamoteadas, foram transformadas em livros sagrados, lidos de forma acrítica e sem que se pudesse praticar o livre debate e, sem esse debate, tudo se torna letra morta.

Não houve nem haverá fórmula mágica para ultrapassarmos a barreira da indigência política e ideológica que não seja o restabelecimento do livre debate, seja em torno dos valiosos clássicos, ou seja, diante de tanto charlatanismo, em livre curso, nas hostes acadêmicas, financiado, generosamente, pela burguesia sempre disposta a acolher, no seu seio, a ampla divulgação do infindo subjetivismo. Esse subjetivismo é o pilar de sustentação do “marxismo legal”. Por outro lado, a burguesia está sempre disposta a conferir títulos acadêmicos aos ingênuos ou aos sacripantas que fazem dos seus “credos” um seguro e prestigiado meio de vida.


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