quarta-feira, 7 de maio de 2014

Obsessão anticapitalista



Obsessão anticapitalista

            Somos nós, caepistas, acusados de sermos obsessivamente anticapitalistas. Confessamos ser dotados dessa obsessão. Não se trata, entretanto, de um sentimento despropositado, gratuito, infundado. Essa nossa obsessão deve-se ao nosso profundo amor à vida. Quando tomamos consciência de que a existência da humanidade, e não só dela, está ameaçada pela sinistra caminhada desse sistema socioeconômico que, na busca desvairada pelo lucro para uns poucos, destrói, sistematicamente, vidas e ameaça pô-las em total colapso, caso isso não seja interrompido em tempo hábil.
            Vemos diversos discursos correntes tentando combater os efeitos maléficos do capitalismo, sem se centrarem em sua causa. Mazelas sociais como a fome, o desemprego, a violência crescente, as drogas e tantas outras, não podem ser tratadas com a necessária eficácia, caso persistamos em desconhecer que essas ditas mazelas são expressão do esgotamento de uma ordem econômica e social que, se um dia foi progressista, tornou-se retrógrada e anti-humana.
            Essa postura em negar-se a fazer o combate cerrado, sistemático e direto ao fator gerador das desgraças sociais, presta um grande desserviço à causa da humanidade. Em razão desse modo de encarar os fatos, é que levantamos a bandeira do anticapitalismo. Entendemos, entretanto, que a superação desse sistema não se dará pela vontade de um punhado de pessoas, mas pela possível tomada de consciência e da vontade política das massas trabalhadoras. A transformação social, essa gigantesca tarefa, só poderá realizar-se pelo concurso da maioria da sociedade, e isso é bom ter bem claro.
            É oportuno dizer que as massas populares não terão como se pôr em pé na luta pela emancipação dos grilhões desse sistema exaurido e assassino, caso não tomem a imprescindível consciência de quem é o verdadeiro inimigo dos seus interesses. Daí a necessidade urgente de promover-se um amplo trabalho de conscientização das massas populares, de forma que elas se deem conta da verdadeira causa de seus infortúnios e, dessa maneira, se ergam na luta consequente por uma nova ordem econômico-social, que nos permita um mundo de justiça e paz.
            Essa devia ser a tarefa central dos partidos que se reivindicam de esquerda, mas não é isso o que presenciamos, e os processos eleitorais revelam, regra geral, a inadmissível ausência de um claro discurso anticapitalista. Esse quadro nos leva a redobrar nossa obsessão, esperando que ela seja, um dia não tão distante, transformada em verdadeira pandemia, isto é, uma “doença” alastrada no seio do povo.

4 comentários:

  1. Tudo em cima, só não podemos buscar um modelo ideal, onírico, quando o campo de combate é a luta renhida corpo a corpo dentro das contradições capitalistas. Daí das jornadas de 18 horas à época da Revolução Industrial Inglesa, A LUTA AVANÇOU PARA A SEMANA INGLESA (5 DIAS POR SEMANA) E A JORNADA PARA 8 HORAS, ALGUMAS CATEGORIAS MAIS AVANÇADAS CONQUISTARAM 6 HORAS ( A DOS BANCÁRIOS?)...OUTRAS CATEGORIAS CHEGARAM À JORNADA DE 6 HORAS, ESTE O CAMINHO PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE CONCRETAMENTE JUSTA. DESVIAR O FOCO REAL COM VETOR DE CONCRETUDE É DELIRAR NO SONHO LENINISTA QUE SE CONCRETIZOU NA PERESTRÓKA! POIS, NÃO?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Marcos Maggioli,
      Se eu entendi bem, você pugna pelo caminho gradualista, de acumulação de conquistas. Essas conquistas foram e são importantes, mas no capitalismo elas têm limites e, para ultrapassá-los, é necessário o ato revolucionário.

      Abraços,

      Gilvan Rocha

      Excluir
  2. Gilvan Rocha, você tem o melhor texto e a melhor coerência de todos os articulistas deste CSL - CAEP. É o único que escreve com fluidez. Mas mesmo com sua coerência, fica em suspenso a forma de implantar o socialismo (que para Marx só pode ocorrer com a destruição do estado e das leis burguesas) e preservar o direito de minorias, os direitos individuais, etc. Neste campo, as boas intenções da esquerda terminaram sempre em autoritarismo e muitas mortes.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Serapião,
      A nossa Rosa Luxemburgo dizia: "Pode existir liberdade sem socialismo, porém não pode existir socialismo sem liberdade". Na verdade, a tarefa maior de uma insurreição revolucionária é a desconstrução do estado burguês e a construção do poder político das classes trabalhadoras.
      Isso, rigorosamente, não ocorreu na história. O que se viu foi o poder político ser exercido por partidos únicos e cumprindo a tarefa de construção do capitalismo de Estado.
      Tudo, infelizmente, em nome do socialismo e do comunismo. Eis a nossa tragédia!
      Abraços,
      Gilvan Rocha

      Excluir