segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Brasil, 1968



Brasil, 1968

            Pouco se discute 1964, e o pouco peca por equívocos. O mais grave é a caracterização do golpe. Diz-se, um golpe militar. Os militares não são uma classe social, são o braço armado da burguesia. O que houve foi um golpe contrarrevolucionário.
            Ultimamente, os “gênios” acadêmicos passaram a chamar esse evento de golpe civil/militar. Cretinice pura, pois passa ao largo do caráter de classe do poder. Outra aberração é a denúncia de que o “golpe nasceu em Washington”. Por definição, Washington é inimigo da revolução, e “os inimigos não mandam flores”. A História registra que os yankees foram derrotados pelos vietcongs, em um testemunho de que não são as armas e, sim, a natureza da guerra que pode determinar o seu resultado. A alusão a Washington tinha, despudoradamente, a pretensão de dizer que, caso houvesse um conflito armado no Brasil, a revolução seria, necessariamente, esmagada e, isso, não procede.
            Consumado o golpe, instalou-se um governo de exceção (ditadura). Mas, após a derrota, o movimento de massa se rearticulou, promovendo passeatas, greves, enfrentamento no campo, e isso ameaçava a estabilidade política. Deu-se, então, um golpe dentro do golpe, em 1968.
            A pobreza teórica das esquerdas levou à redução de toda discussão a um falso dilema: luta armada ou o caminho pacífico para o socialismo. Os primeiros se julgavam revolucionários e diziam: basta de blábláblá, a revolução se dá com armas e dinheiro. Armas, vamos buscar nos quartéis e, dinheiro, nos bancos. Partindo dessa premissa, a maioria se propôs a organizar grupos armados prontos para ações. Essa simplificação decorria, como dissemos, do nosso raquitismo teórico e, para ilustrar, lembremos do fato de que uma das referências dos “revolucionários” era Cuba e, lá, predominava a máxima: “hay que tener cojones”, o que não passa da degradação política produzida pelos longos anos de hegemonia stalinista-trotskista.
            Esses fatos explicam o silêncio que se impôs em torno de 1964, enquanto 1968, constituiu-se no foco das abordagens, destacando-se as produções cinematográficas que se detiveram e se detêm, na denúncia de que a ditadura impôs o seu terror, perseguindo, prendendo, torturando e executando uma legião imensa de bravos militantes. Assim, ao invés da necessária reflexão, resvala-se para o culto do martírio e esse enfoque não nos permite avançar no caminho da lucidez política.

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