Anticomunistas?
Por quê?
A maioria esmagadora do povo norte americano é,
visceralmente, anticomunista. Mas o anticomunismo não se restringe àquele povo.
Legiões e legiões de trabalhadores, legiões de profissionais liberais do mundo
todo, têm uma postura de rejeição ao comunismo e isso merece uma resposta. Por
que o povo, mesmo o trabalhador, tem essa posição de repúdio ao comunismo? Os
simplórios respondem que a culpa é do inimigo, que faz uma ampla propaganda
anticomunista, como se não fosse esse o seu papel. Entretanto, teremos que
pensar a razão pela qual essa propaganda foi tão bem sucedida. Provavelmente,
ela não teria o nível de sucesso que desfruta, caso não houvesse uma base real
para ela se apegar, e motivos não faltaram, e ainda não faltam, para que isso aconteça.
Em primeiro lugar, temos que assinalar o fato de que a
revolução socialista foi derrotada em escala mundial e essa derrota se estendeu
à Rússia Soviética. Ali se instalou a contrarrevolução. A vitória e a
consolidação da contrarrevolução na URSS não se deu de forma pacífica. Houve um
embate renhido entre forças da revolução e da contrarrevolução. Nesse embate,
triunfou a contrarrevolução, instituindo um estado ultrapolicial, onde
predominava um só discurso, um só partido, uma só imprensa, uma polícia
política, campos de concentração e execuções frequentes.
A
nossa infelicidade é que tudo isso que se fazia necessário à implantação do
capitalismo de Estado, foi feito em nome do comunismo. São inúmeros os crimes
praticados sob a bandeira da foice e do martelo. Além das perseguições
políticas, além dos famosos processos de Moscou, quando velhos militantes
revolucionários foram caluniados, desmoralizados e assassinados, milhões de outra vítimas
existiram, não só na URSS, como na China, na Coreia do Norte e nos países
ditos, indevidamente, socialistas.
Para
efeito de ilustração do caráter fascista dos chamados países socialistas,
citemos um episódio: na Coreia do Norte, uma jovem, que participou de um filme
pornô, foi sumariamente julgada e executada em praça pública. E isso tem um
nome, fascismo. É justamente nesses fatos que se apoia o imperialismo para
desfechar uma exitosa campanha anticomunista.
O
povo brasileiro, por exemplo, vê que, aqui, existem trinta partidos políticos,
milhares de jornais, centenas de discursos, todos fluindo livremente, embora
por trás dessa inegável liberdade política exista a ditadura do capital sobre o
trabalho. Enquanto isso, em Cuba, predomina um só discurso, um só partido, uma
só imprensa e, qualquer dissidente é acusado, violentamente, de agente da CIA,
sabotador, “inimigo do povo”, num gesto claro de intolerância política.
A
contrarrevolução stalinista é a grande responsável não só pela manutenção do
capitalismo como e, sobretudo, pela aversão popular que desfruta o comunismo.
Não é um gesto revolucionário querer imputar esse sentimento de repulsa apenas
ao inimigo explícito quando, na verdade, o verdadeiro inimigo foi e são as
forças políticas, travestidas de esquerda, e circulando, mundo afora, sob o
carimbo do “marxismo-leninismo” e do “marxismo-leninismo-trotskismo”. Não é à
toa que se diz ser o pior inimigo o falso amigo.
Existe
a premissa de que a verdade é revolucionária, portanto, os revolucionários, que
foram acalentados, anos a fio, por lendas, mentiras e fantasias, mas que
guardam um sentimento de apoio à luta a necessária transformação da sociedade,
devem ter a coragem de enfrentar a realidade histórica e não se empenhar em
querer justificar o injustificável e, muito menos, persistir na posição,
politicamente insustentável, de que a culpa de nossos insucessos corre por
conta do inimigo, quando o real inimigo veste-se com a camisa do socialismo ou
do comunismo, garantindo uma injusta sobrevida a um sistema socioeconômico
exaurido, que não se cansa, na sua jornada destrutiva, de ameaçar a sobrevivência
da própria raça humana.
Diante
dos fatos colocados, em nada contribuem os urros e os rangidos de dentes. É
necessário que se apresentem argumentos, despidos de rancor e de preconceitos.
Só o livre debate será capaz de restabelecer a verdade histórica, caminho único
para o sucesso da proposta socialista.
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