segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Sacripantas



Sacripantas

Eis um adjetivo nada comum. Ele qualifica pessoas com imperdoáveis defeitos de conduta. Um desses defeitos diz respeito à prática da simulação e do charlatanismo, muitas vezes amparados nas titularidades que são concedidas pelo sistema socioeconômico vigente, para fraudar a verdade e proteger a mentira. São artesãos que se empregam na construção e manutenção de uma cultura que se prende a formular falsos conceitos e “eternas” inverdades.

É por essa razão que costumamos designar de sacripantas os milhares ou mesmo centenas de senhores titulados como cientistas políticos ou insuspeitos comentaristas dos fatos relacionados às disputas em torno do poder.

Na sua maior parte, resguardada uma ínfima minoria, os referidos senhores não têm o menor pejo em designar o golpe de Estado de 1964 como o golpe militar. A maioria deles, sabemos, procede assim por simples ignorância, mas os sacripantas, os charlatães, o fazem por conveniência, por meio de vida, embora não possamos deixar de reconhecer que uma parcela maior de pessoas desconhece os fatos e os seus efeitos.

Com insistência, temos lembrado que os militares compõem uma corporação, subalterna, a serviço da “ordem constituída”. Isto quer dizer: Os militares não formam uma classe social.

Nas sociedades divididas em classes e camadas sociais, o poder, o Estado, é de classe. No capitalismo, o Estado é da classe burguesa que exerce o seu domínio sobre o conjunto da sociedade através de suas instituições, sejam elas de natureza pacífica, como é o caso das escolas, ou de natureza armada, como são as forças da repressão. 

Quando a democracia burguesa mostra-se inapta a resistir aos perigos das mobilizações populares, como ocorreu no período anterior a abril de 1964, a burguesia recorre ao seu braço armado e institui o Estado de exceção, comumente chamado de ditadura, como medida emergencial e transitória.

No Nordeste do Brasil é comum um homem rico contratar um pistoleiro profissional para matar um desafeto. Aos olhos da “justiça” e da sociedade, o bandido é aquele que foi contratado. Esse mesmo raciocínio é aplicado pelos sacripantas às Forças Armadas. 

Ora, elas são treinadas para intervir sempre que a ordem capitalista tiver em perigo. A eles é dado cumprir as tarefas sujas de perseguir, prender, torturar e matar, enquanto a burguesia conserva as suas mãos “limpas”.

Depois que as Forças Armadas e policiais cumprem o seu papel sujo e a ordem burguesa encontra-se em segurança, os profissionais da truculência e dos serviços sujos são mandados de volta aos quartéis e a burguesia retoma sua função de exercer diretamente o Governo.

Chamar o período em que os militares, como operadores prepostos da burguesia no Governo, de ditatura militar, é uma impropriedade e ela é difundida, maciçamente, promovendo a desinformação e a má informação sob o patrocínio dos já referidos charlatães.

O golpe de 1964 foi operacionalizado pelos militares. Os governos exercidos pelos generais estavam lá, para servir ao capitalismo, basta se observar quantos grupos econômicos potencializaram suas fortunas nesse período, basta que se investigue quantos militares fizeram fortunas e vão descobrir, facilmente, que todos eles se mantiveram nos padrões do funcionalismo público.

Depois de cinquenta anos, eis que alguns “gênios” da Academia vêm carimbando o golpe de 1964 como “civil-militar” e isso não passa de uma reles piada, pois o golpe foi unicamente de caráter burguês, que se propôs à tarefa “constitucional” de resguardar a propriedade privada, resguardar o capitalismo. Cumprida sua missão, com as mãos sujas de sangue, eles voltaram aos quartéis, onde continuam sendo alimentados e adestrados para cumprir novas missões que lhes forem determinadas pelo sistema do qual são subalternos.

Definir com justeza o golpe de 1964 é dizê-lo um golpe contrarrevolucionário, de natureza preventiva, diante da escalada das mobilizações de massa, que levava a uma situação pré-revolucionária e a burguesia tinha, bem viva, a lembrança do que ocorrera em 1959, em Cuba. Isto, sim, é a verdadeira história e, sobre ela, temos, isoladamente, repetido, há 40 anos, porém, como se sabe, a mentira do Cardeal vale mais do que milhões de verdades ditas por um simples sacristão.

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